Opinião | Rebaixamento do Ferroviário é lamentável, mas merecido

O descenso, apesar de lamentável por se tratar de um clube tradicional do futebol cearense, com uma torcida fiel, é completamente merecido devido à série de problemas dentro e fora de campo

No último domingo, 7, o Ferroviário foi rebaixado para a Série D do Campeonato Brasileiro depois de perder por 2 a 1 para o Volta Redonda-RJ. O descenso, apesar de lamentável por se tratar de um clube tradicional do futebol cearense, com uma torcida fiel, é completamente merecido devido à série de problemas dentro e fora de campo que o time enfrentou no decorrer da temporada.

Início de ano complicado

O Tubarão de Barra começou o ano já com duas frustrações. O clube havia finalizado 2021 a uma vitória de se classificar para a fase seguinte da Série C e caiu na fase eliminatória da Copa do Nordeste, ambas diante do mesmo adversário: o Floresta.

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Porém, mesmo com as decepções recentes, o Ferroviário chegou como favorito para a primeira fase do Campeonato Cearense, etapa que ainda não contava com Ceará e Fortaleza. O Peixe conseguiu finalizar as 14 rodadas de forma invicta, mas acabou ficando com a segunda colocação por ter empatado mais do que vencido. Embora o rendimento tenha sido suficiente para levar a equipe para a semifinal, já causava preocupações devido ao nível do futebol praticado em campo.

Na Copa do Brasil, mais um resultado doloroso. Ainda na primeira fase, o Ferrão visitou o Nova Venécia-ES, podendo até empatar para garantir a classificação, mas acabou perdendo de virada e deixando a competição precocemente.

Montagem de elenco

O Ferroviário passou por problemas também na montagem do elenco para a Série C. Algumas contratações pareciam não seguir um critério, e o clube teve nomes que deixaram o Coral a menos de três meses depois de serem anunciados.

Talvez o caso mais emblemático seja o do volante Derley, que foi anunciado antes do início da Terceirona e anunciou seu desligamento no dia 6 de julho sem sequer ter entrado em campo.

O setor de criação do Tubarão da Barra foi o mais problemático durante toda a temporada. Poucos jogadores conseguiram ter sequência na posição. O artilheiro Edson Cariús sofreu com a falta de organização ofensiva.

Os números evidenciam a baixa produtividade do ataque. O Ferroviário foi rebaixado com uma rodada de antecedência, amargando a marca de ser o segundo time que menos balançou as redes na competição.

Troca exagerada de técnicos

O Ferroviário teve cinco treinadores só no ano de 2022, o que, em média, significa que o clube teve um técnico diferente a cada 43 dias. Mas o alto índice de trocas não representa necessariamente que todos tiveram trabalhos ruins. As escolhas da diretoria se mostraram bastante equivocadas.

Anderson Batatais deixou o comando do clube invicto ainda no Campeonato Cearense. Mesmo que o Tubarão estivesse devendo em atuação, a saída foi precipitada, principalmente em comparação ao trabalho do sucessor, Paulinho Kobayashi — este foi embora sem ter vencido nenhuma partida e acumulou duas eliminações.

Na Série C, chegou Roberto Fonseca, que, apesar das dificuldades iniciais, teve o melhor trabalho na equipe coral. Com ele, o Ferroviário conquistou quatro vitórias consecutivas e se aproximou da liderança no primeiro terço do certame.

Passada a sequência positiva, foram três derrotas consecutivas. A despeito dos resultados ruins, o escrete da Barra do Ceará fazia bons jogos e tinha uma identidade, que foi perdida quando Fonseca acabou demitido após revés para o Altos. Depois vieram Sidney Moraes e Francisco Diá, que não conseguiram tornar o time competitivo e, juntos, só levaram o Ferrão a uma vitória.

Gestão pressionada e mudança de presidente

Talvez a base de todos os problemas listados anteriormente esteja na gestão. Com resultados aquém, acumulados desde o fim de 2021, era comum ver torcedores pedindo a renúncia de Newton Filho como presidente.

Os dirigentes tiveram decisões equivocadas de planejamento durante a temporada. As ações de quem comanda o clube prejudicaram o Ferroviário. O estádio do Coral, Elzir Cabral, poderia ter sido melhor aproveitado.

A equipe fez três jogos no estádio e conseguiu três vitórias, sem sequer ter levado gol. Poderia ser um grande trunfo, por ser um caldeirão, estar perto do torcedor. Isso se perdeu quando o time passou a mandar seus jogos no PV, que ficou longe de ser um ambiente temido pelos adversários.

Após os resultados ruins na Série C, Newton Filho não resistiu à pressão e renunciou ao cargo, expondo muitos outros problemas internos que existiam. O ex-presidente chegou a afirmar que existiam movimentos internos articulados pela destituição dele e que havia enfrentado "traições e deslealdade".

Rebaixamento é consequência de muitos erros

Com tudo que aconteceu no decorrer de 2022, fica mais fácil de entender como um time tradicional e com uma história bonita como o Ferroviário chegou a essa situação. Todos os clubes passam por momentos ruins e fazem escolhas erradas, mas a sequência de equívocos torna o problema muito mais difícil de se reverter.

O rebaixamento não é o fim. Ao clube, cabe se reorganizar, reconhecer e corrigir erros para contar uma história melhor em 2023. O Tubarão terá um campeonato complicado pela frente, que é a Série D, no qual 64 clubes brigam por quatro vagas, tendo que passar por três duelos eliminatórios.

O Ferrão já teve outros momentos conturbados e deu a volta por cima. Só o bom trabalho pode fazer o clube se reerguer.

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