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Não há lugar pra lógica na Copa da Rússia

14:12 | Jun. 27, 2018
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Se a Copa de 2014 foi a da chuva de gols e do 7 a 1, a de agora está sendo escrita por um roteirista maluco fã de Dostoievski e de vodca que se dedica a passar os dias e as noites brancas pensando em finais alternativos para jogos como este Alemanha e Coreia do Sul. Ou o Suécia e México, com direito a gol contra.

Mesmo na ficção, uma vitória de 2 a 0 para os caras do K-pop era uma insanidade. Mas foi exatamente o que aconteceu. Desclassificados, os alemães, atuais campeões e carrascos do Brasil, voltam pra casa pela primeira vez ainda na fase de grupos.

Logo mais é a vez da seleção de Tite, que entra em campo contra a Sérvia. O script oficial prevê uma vitória fácil da Canarinho sobre o escrete dos bálcãs, mas a Copa da Rússia não tem sido como qualquer outra. Se o futebol é caixinha de surpresas, como gosta de brincar o locutor fanfarrão, em Moscou a lógica não tem vez. No país dos déspotas, a regra é que não há regra.

É um torneio meio bolchevique, meio revolucionário. Nele os times menores se insurgem contra os maiores, como se rendessem uma homenagem tardia às sublevações do povo da grande mãe eslava. No país das grandes revoltas proletárias, técnicos autocráticos caem na véspera da estreia (Espanha) e grupos de jogadores se amotinam e assumem o comando da equipe, instaurando uma comuna futebolística e degredando seus chefes para a Sibéria (Argentina).

Como se não houvesse mais hierarquia no futebol, seleções tradicionais passam sufoco diante das menores. A própria albiceleste de Messi sentiu ontem o terror contra uma insurreta Nigéria, que, não fosse a quantidade de gols perdidos, teria mandado os vice-campeões do Mundo de volta para o rio da Prata.

O clima na Rússia anda maluco. Como às vésperas de 1917, há qualquer coisa de imprevisível nos gramados da terra de Putin. E não será exagero imaginar um Senegal ou um Japão chegando até a semifinal. A Canarinho que se cuide.
Henrique Araújo 

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