Curiosidades da Copa do Mundo: jornalistas do O POVO comentam as cinco conquistas do Brasil
[FOTO1]O Brasil é o país com o maior número de títulos de Copa do Mundo. Com cinco primeiros lugares e dois vices, a Seleção acumula sete finais na história, ficando atrás somente da Alemanha. O rico histórico da seleção canarinho vai além das conquistas e conta com grandes craques e várias peculiaridades, como um fracasso em uma Copa que na seguinte culminou em grande conquista. Tudo isso faz do Brasil, o país do futebol.
Jornalistas do O POVO comentaram sobre cada uma dessas conquistas. Escreveram as análises o editor-chefe de Esportes, Fernando Graziani; os editores-adjuntos Henrique Araújo e André Bloc; o repórter e colunista do Esportes O POVO, Bruno Balacó; e o editor do O POVO Online, Érico Firmo.
Confira as análises:
1958 - O título europeu, por André Bloc
Toda glória à seleção de Pelé, Tostão, Rivelino, Gérson e Jairzinho, o imortal Brasil de 1970. Mas quando, em Copas, o mundo teve a chance de ver o “Rei”, sem contusões, ao lado de gênio Garrincha? E nisso a gente ainda está excluindo o craque do time: Didi. E sigamos, ainda temos Vavá, Djalma Santos, Bellini, Nilton Santos, Zagallo, Zito, Dida, Pepe, Gilmar... E ainda todas as injustiças que possamos cometer ao excluir da breve lista.
A seleção de Vicente Feola tinha um trio ofensivo de aço, capitaneado pelo trio Pelé, Garrincha e Vavá – muito bem municiados por Didi e Zito –, mas uma consistência defensiva rara. Na primeira fase, por exemplo, não teve um gol sofrido em três jogos (duas vitórias e um empate). Os quatro gols sofridos foram nas duas goleadas de 5 a 2, na semifinal e final do torneio – respectivamente contra França e os donos da casa, a Suécia. A equipe francesa de Just Fontaine e Raymond Kopa, diga-se, é um daqueles grandíssimos times que não levaram o Mundial. Por competência nossa.
A Copa de 1958 viu nasceu o mito do menino negro de 17 anos que viu o mundo se dobrar à sua arte. Viu uma seleção de torcida apaixonada levantar uma taça oito anos depois do fracasso em 1950. Foi o primeiro passo de um tri, conquistado em apenas 12 anos. Foi a Copa de exorcizar demônios, de acender uma paixão que consome o esporte brasileiro até hoje.
Desde então, nenhum outra seleção sul-americana venceu uma Copa na Europa. E isso não é coincidência, só mostra a força daquele time. Ressalte-se que só uma seleção européia levou a taça no continente americano... Só que isso é uma outra conversa.
1962 - O bicampeonato, por Érico Firmo
A seleção brasileira tem tradição de ganhar copas apenas quando chega desacreditada e isso só foi exceção uma vez: em 1962, no Chile. Foi também a última vez que uma seleção foi campeã em duas copas consecutivas. O que não significa que o caminho do Brasil tenha sido tranquilo.
Já com status de melhor jogador do mundo aos 21 anos, Pelé se contundiu no segundo jogo e coube então a Mané Garrincha decidir a Copa, com colaboração luxuosa do "possesso" Amarildo.
Houve jogos difíceis, como o 2 a 1 contra a Espanha dos craques Puskas e Gento - com arbitragem polêmica. O Brasil mantinha a mesma base campeã de 1958, mas envelhecida quatro anos. Foi até hoje o time brasileiro a chegar com maior média de idade.
Na semifinal contra o Chile, dono da casa, o craque Garrincha foi expulso de forma inusitada. Ele era caçado em campo pelo lateral Eladio Rojas e reagiu com um chute na bunda - que o craque brasileiro justificou como "pontapezinho de amizade". Foi a única expulsão da carreira do craque, logo às vésperas da partida mais importante de sua vida.
A suspensão não era automática e, antes do julgamento, os cartolas brasileiros deram um jeito de sumir com o bandeirinha que havia testemunhado o lance. Garrincha foi a campo e o Brasil foi campeão.
1970 - A Seleção que encantou o mundo, por Bruno Balacó
A Copa de 1970 é um marco no futebol brasileiro. Foi o Mundial que consagrou o Brasil como "País do Futebol". Afinal, ali no México, o 'escrete canarinho' levantava a taça pela 3ª vez (havia vencido em 1958 e 1962) nas últimas 4 edições e se tornava a primeira Seleção a conquistar três títulos mundiais, assegurando a posse definitiva da Taça Jules Rimet (troféu que anos depois seria roubado da sede da CBF).
Mais do que afirmação no mundo da bola, a Copa de 70 apresentou ao mundo aquela que é considerada a melhor seleção brasileira de todos os tempos. Se em 2006 o Brasil contava com o Quadrado Mágico (Ronaldo, Adriano, Ronaldinho Gaúcho e Kaká), em 70 o Brasil, do técnico Zagallo, conseguiu reunir cinco "Camisas 10" num mesmo time: Gérson, Rivelino, Tostão, Jairzinho e Pelé.
Jairzinho brilhou, marcando gols em todas as partidas, mas foi Pelé que saiu do solo mexicano definitivamente coroado como o Rei do Futebol. Ali, fez história com a conquista de sua terceira taça, feito único entre os atletas que um dia já disputaram a competição. Para além do currículo, que conta com gols em todas as edições que disputou, inclusive na decisão contra a Itália em 70, anotando um gol de cabeça, Pelé protagonizou também lances que entraram para a história, como o jogada em que quase marcou em chute que arriscou do meio-campo, no chamado "gol que Pelé não fez". Sem contar o incrível drible de corpo sobre o goleiro uruguaio Mazurkiewicz, lance também imortalizado, mesmo não sem a bola ter entrado.
Aquela Seleção conseguiu encantar o mundo e triunfar no fim. O capítulo final da conquista foi uma obra-prima: o golaço de Carlos Alberto Torres, após uma troca de passes, que começou com o gingado de Clodoaldo no campo defensivo e terminou com o passe magistral de Pelé, que serviu na medida para o Capita soltar um canhão, selando o Tri. Não há como falar de 70 e não se envolver fortemente com a nostalgia daquele time. E que time...
1994 - A pior e a melhor seleção campeã, por Henrique Araújo
De todas as seleções brasileiras a ganhar uma Copa, a mais desacreditada sem dúvida foi a de 1994. Tinha Zinho e Raí no mesmo time. Parreira, que não empolgava muito. Zagallo, com toda aquela superstição, acabava produzindo um efeito indireto de mau presságio. Como hoje, o brasileiro naquela época andava cabisbaixo com o cenário político-econômico. E, pra arrematar, havia o tabu de 24 anos sem vencer uma Copa do Mundo.
O Brasil contava com Romário, porém, um tipo de jogador que não se encontra com facilidade. Não apenas por seus atributos como atleta, mas porque, de 94 pra cá, a seleção brasileira ora pende para um "libera geral" de um Tite ou para o regime espartano calcado na crendice como as fracassadas campanhas de 2006, 2010 e 2014.
Nosso último embuste foi o quadrado mágico em cujo centro conviviam harmoniosamente a fanfarronice de Ronaldinho Gaúcho, o recato cristão de Kaká, o futebol de várzea de Adriano e o ocaso de Ronaldinho, que já deixara de ser o "Fenômeno".
Era, no entanto, um time de talentos abundantes, e a concentração, não à toa, tinha virado uma pândega. Perdemos. Em 94 era diferente. Foi uma Copa da escassez, do sofrimento, da ressurreição após a dolorosa derrota de 90. Alguns jogos muito feios. O próprio Brasil tinha um selecionado que, como gosta de repetir o péssimo narrador, era teste pra cardíaco. Mas havia Romário, o maior atacante que já vi jogar, secundado por Bebeto, o maior "garçom" do futebol brasileiro.
Naquele ano, vencemos em parte porque o camisa 11 carregou o time nas costas, em parte por sorte (era a primeira vez na história que uma Copa seria decidida nos pênaltis), em parte porque talvez Zagallo tivesse mesmo razão e a nossa chance tinha finalmente chegado depois de mais de duas décadas sem vencer.
2002 - Inesquecível, por Fernando Graziani
Uma seleção brasileira com Ronaldo, Ronaldinho Gaúcho e Rivaldo entre seus titulares é, por si só, uma lembrança para sempre. Quando esse trio tem ao lado atletas em grande fase como Marcos, Cafu, Roberto Carlos, Edmilson e Gilberto Silva e conquista uma Copa do Mundo, como foi em 2002, a missão está pronta e acabada.
O penta precisou ser construído na base da superação. Da perda da final da Copa de 1998 até a estreia em 2002, o que se viu foi um ciclo de crises sem fim, com mudanças de técnicos, dificuldades nas eliminatórias e derrotas absurdas, como a eliminação na Copa América de 2001 para Honduras.
Felipão, o treinador para a Copa e que classificou o time para a competição, brigou com o país e não convocou Romário, em grande fase. O grupo de atletas comprou seu discurso, viveu a Família Scolari e o esquema 3-5-2 funcionou bem. Quando não funcionava, Marcos garantia com suas defesas e o talento individual de Ronaldo, Ronaldinho ou Rivaldo, o grande jogador da competição, resolvia.
Foram sete jogos, sete vitórias, 18 gols a favor, quatro contra. Uma campanha inesquecível na Copa da Coreia do Sul e do Japão.
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