Time indígena gay arrecada fundos para participar de torneio de futebol

Representantes do povo boe (bororo) da aldeia Meruri se preparam para primeira disputa em outra localidade, na Piebaga, a quase 500 quilômetros de distância. Campanha quer juntar R$ 1200 para viabilizar o deslocamento

Dentro da aldeia Meruri, no município de General Carneiro, no Mato Grosso, uma equipe de sete pessoas se uniu para levantar uma bandeira. Ou melhor, várias bandeiras. A realização de um campeonato de futebol do povo boe (bororo), virou a oportunidade perfeita para a "estreia intermunicipal" do mais colorido dos times da localidade: uma equipe indígena e gay, como definem.

Para conseguirem bancar o deslocamento da localidade de General Carneiro para a aldeia Piebaga, próxima a Santo Antônio do Leverger, também no Mato Grosso, o time iniciou campanha de arrecadação. A meta são R$ 1.200, o que seria suficiente para pagar as passagens das sete "jogaydoras", como se chamam. Outros três atletas amadores da equipe já estão na aldeia em que vai ser realizado o torneio, que está marcado para os dias 18 e 19 de setembro. O time aceita doações via Pix, pelo CFP 016.362.291-40. 

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Segundo Neimar Kiga, representante do time, a equipe surgiu em março como uma forma de expressão indígena LGBTQIA+. A ideia, porém, era anterior e vinha de uma amiga trans que vivia em outra aldeia. Brenda falava sobre o sonho de jogar futebol, mas a distância entra as localidades impediu a realização do desejo antes da morte prematura dela. "A gente queria também jogar pensando nela, em uma forma de homenagem a ela", diz Neimar.

A chave para a criação da equipe foi a aceitação da aldeia, que, segundo Neimar, não tem um histórico tão de homofobia como algumas outras comunidades. O cenário, entretanto, ainda tem percalços. "Nós queríamos uma coisa só nossa mesmo, sabe? Com que a gente se sentisse bem jogando, porque, às vezes, quando a gente jogava com outras pessoas que são héteros, tem uma cobrança maior por nós sermos gays, mesmo que o nosso futebol seja igual o deles — até um pouco melhor que o de algumas pessoas. Então, sempre tinha algum preconceito e a gente queria ficar sozinhas num time", rememora.

A participação no torneio entre aldeias é uma oportunidade de espalhar a mensagem de inclusão de indígenas LGBTs. A ideia, resume Neimar, é mostrar que é possível e que representantes de outras comunidades vejam que podem aceitar pessoas sexualmente diversas como iguais. 

"A gente queria trazer essa representatividade de estar tendo um time de futebol para que outras pessoas se espelhem na gente, que também possam ter esse empoderamento, essa coragem, e que essas pessoas que são preconceituosas dentro das comunidades indígenas, dentre os povos, possam aprender a nos olhar com um olhar de uma coisa normal, sabe? Também jogamos, também fazemos esportes, também fazemos o que as outras pessoas fazem", resume Neimar, que diz receber muitas mensagens de indígenas gays de outras aldeias querendo ver jogos deles e participar do time. 

O reiterado uso do termo "gays" é, diga-se, uma espécie de concessão. "Tem pessoas trans, gays, que não se limitam a uma identidade de gênero. A gente sabe que dentro do movimento LGBT não indígena tem essa categorização, mas a gente não se preocupa tanto com essa definição", simplifica Neimar. "A gente colocou gays como uma forma de ter mais visibilidade, para ajudar na arrecadação", completa.

 

Serviço

Arrecadação para time de futebol de indígenas gays

Objetivo: deslocamento de seis "jogaydoras" entre duas aldeias no Mato Grosso, distantes quase 500 quilômetros uma da outra.
Meta: R$ 1.200
Pix: 016.362.291-40 (CPF)
Outras informações: (66) 99250.2952

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