Eleitor negro brasileiro elege os próprios inimigos, diz ativista Hélio Santos
Hélio também denuncia a falta de investimentos em candidaturas negras e reflete sobre a questão do voto racial, em entrevista à Folha de São Paulo
Um dos principais ativistas da causa racial no País, Hélio Santos, avalia que "o eleitor negro brasileiro é o único que elege os seus inimigos". "E isso não é uma força de expressão", reitera ele, que é um dos idealizador do Quilombo nos Parlamentos, iniciativa da Coalizão Negra por Direitos - rede de 250 organizações do movimento negro brasileiro, que reúne mais de cem pré-candidaturas negras e antirracistas. Ele falou em entrevista à Folha de S.Paulo.
Hélio foi criador de um grupo negro, nos anos de 1970, no MDB, então partido de oposição ao regime militar). Anos depois, passou a atuar nas primeiras instituições públicas voltadas ao combate ao racismo, durante os governos tucanos.
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"Veja essas reiteradas chacinas e como reagem os governadores dos mais diferentes perfis ideológicos: o silêncio", critica ele, que hoje preside o conselho da Oxfam Brasil e o Instituto Brasileiro de Diversidade.
"Num país de maioria negra, esses governantes, majoritariamente, recebem votos de eleitores negros e são eleitos. Mas a consolidação da democracia representativa pede uma representação maior de negros e de mulheres."
Ainda na entrevista, Hélio denuncia a falta de investimentos em candidaturas negras e reflete sobre a questão do voto racial, que não deveria, segundo defende, ser exclusivo de eleitores negros.
"Precisamos democratizar os partidos. E, nas eleições, a gente tem de vir com um movimento de ruptura mesmo, que possa projetar um novo Brasil para o século 21. A valorização do voto racial é uma maneira importante de consolidar a democracia no Brasil."
Na sua avaliação, o Brasil vive um momento novo em relação à questão racial, e as eleições de 2022 devem refletir essa nova sensibilidade.
"O único momento em que há igualdade de oportunidades e de condições no Brasil é no momento do voto. O voto do trabalhador mais humilde ou o desempregado mais aviltado tem o mesmo peso do voto do brasileiro mais rico. Valorizar esse momento é um trabalho nosso."
O professor cita pontos da agenda criada pela Coalizão Negra para o país, que inclui debates sobre questões estruturais como educação, saúde e segurança pública, além de tratar de política de drogas, urbanização e geração de renda.
"Precisamos de políticas afirmativas disruptivas, que tragam reparação racial e possibilitem desenvolvimento com sustentabilidade. Eu diria, sustentabilidade moral", avalia. "Podemos levar o Brasil para um novo patamar civilizatório, e isso passa pela eleição de negras e negros."
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