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O Sétimo Guardião acabou. Ninguém riu, ninguém chorou, e era final de novela das nove. Por que será?
22:57 | Mai. 17, 2019
Autor Émerson Maranhão
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Émerson Maranhão Jornalista e realizador audiovisual
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Tipo Notícia

Existem três parâmetros básicos para medir o sucesso de uma novela. O primeiro, mais óbvio e prestes a ser aposentado, é o desempenho de sua audiência. O segundo, mais subjetivo, é a repercussão que sua trama provoca na sociedade, os comentários que fazem seus conflitos cruzarem a tela e chegarem até a mesa do bar, o salão de beleza, o encontro da família, a conversa no cafezinho. O terceiro é a expectativa do público pelo desfecho final das histórias dos personagens que acompanhavam.

O Sétimo Guardião, novela de Aguinaldo Silva cujo último capítulo acaba de ser exibido pela TV Globo, fracassou nos três.

A novela passada em Serro Azul registrou a quarta pior audiência da história do horário nobre da emissora: 29 pontos em média. Trocando em miúdos, levou uma surra de suas antecessoras. A Força do Querer (2017) performou média de 36 pontos, O Outro Lado do Paraíso (2018), 39 pontos; e Segundo Sol (2018), 33.

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Ainda que deixando os números de lado, é facilmente constatável que O Sétimo Guardião não foi bem sucedida. Nos seis meses em que esteve no ar, a aderência dos espectadores à sua história, se houve, foi mínima. A novela não se tornou assunto. Para não faltar com a verdade, só se tornou assunto por questões e litígios de seus bastidores, no que entendemos por vida real. Mas não é de fofocas que se trata essa análise.

O fato é que a trama de O Sétimo Guardião não empolgou, seus protagonistas não cativaram, tampouco seus vilões instigaram o público. São desnecessárias evidências outras para apontar sua desventura. E nem é o que se pretende aqui. Mas sim, tentar entender em que ponto esta receita desandou. Arrisco dizer que foi em vários.

O primeiro e principal deles é a falta de consistência da trama central. Para que servia, afinal, a tal fonte milagrosa? Por que os guardiões haviam de renunciar a seus amores e vidas pessoais para protegê-la? Em nenhum momento os poderes curativos da fonte, e seus desdobramentos estéticos, foram usados para o bem da população da cidade.

É justo que apenas os guardiões e seus chegados sejam beneficiados, vez por outra, em detrimento do resto da humanidade?

Da maneira como foi posta na trama, a missão de guardar a fonte mais se aproximava de um castigo que de uma honra. E, repito, todo esse sacrifício em nome do quê? Gabriel (Bruno Gagliasso) que o diga! A inconsistência da trama-base pareceu contaminar as sub-tramas da novela. Por mais que seja, por definição, uma obra aberta, e, por tal condição, sujeita a mudanças de rota, O Sétimo Guardião deu inúmeros sinais que se perdeu entre o ponto de partida e o de chegada. Foram muitos os nós deixados a desatar, assim como os personagens e situações abandonados ao longo da história.

Comecemos pelos mais gritantes. Onde foram parar os poderes sobrenaturais de Luz (Marina Ruy Barbosa)? A menina sensitiva do início da trama parou de ter visões e insights de uma hora para outra sem que ninguém, nem ela mesma, sentisse falta. Aliás, onde foi parar o realismo fantástico que marcou o início da trama e seria seu tom fartamente alardeado?

E a redenção “astral” de Mirtes (Elizabeth Savala), mix de Perpétua e Altiva, teve qual propósito dramático, depois do autor sinalizar um interessante viés devasso da falsa carola? Aliás, o mistério em torno da morte da filha de Mirtes, esposa de João Inácio (Paulo Vilhena) nunca foi explicado. Assim como a função dramática do passado adicto de Geandro (Caio Blat); ou a ânsia de Rita de Cassia (Flávia Alessandra) em ser famosa, ou ainda como Marilda (Letícia Spiller) como ela conseguiu, a certa altura da novela, manter-se jovem se a fonte havia secado há muito.

E a tensão homoerótica gritante entre Adamastor (Theodoro Cochrane) e Junior (José Loreto)? Não só, há outras tantas sub-tramas em O Sétimo Guardião descartadas de uma hora para outra sem que nem mais. É o caso de Robério (Heitor Martinez, depois de longa ausência na Globo), Fabim (Marcello Melo Jr), Mattoso (Tuca Andrada), Clotilde e Robério (Adriana Lessa e Roberto Birindelli), por exemplo.

Sem falar na quantidade de atores que tiveram seu talento desperdiçado em papeis absolutamente inexpressivos. E citarei só um caso para não me alongar: Carol Duarte e sua Stefânia.

Por fim, os desfechos de O Sétimo Guardião foram anunciados (e não vazados) há uma semana. Diante da ausência de interesse dos telespectadores pelo fim da novela, a emissora decidiu ser, ela mesma, a divulgadora dos tais spoilers. Anunciando as emoções finais.

Ninguém se surpreendeu com a batalha final no casarão (que vitimou Olavo/Tony Ramos), com a morte de Gabriel (ô, coitado!), com os vilões se dando bem, com a guinada inverossímil da Luz (vou nem comentar). E paremos por aqui.

Como diria uma amiga deste escriba, o comentário mais adequado para o último capítulo de O Sétimo Guardião é “Que morte horrível!”.

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