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"Quero que as pessoas saibam que sou gay e que eu não tenho vergonha disso", afirma Diego Hypolito

Atleta falou pela primeira vez sobre como precisou esconder sua sexualidade para viver o sonho olímpico
18:22 | Mai. 08, 2019
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Entrevista de Diego Hypolito para o "Minha História", quadro do Uol Esporte, divulgada nesta quarta-feira, 8, foi repleta de revelações sobre sua vida pessoal. Na reportagem, escrita por Lucas Lima, o atleta fala pela primeira vez sobre como precisou escondeu sua sexualidade por conta do sonho olímpico.

"Eu fui criado na igreja. Eu tinha vergonha porque, na minha cabeça, ser gay era ser um demônio, um ser amaldiçoado que vive em pecado. Quando eu tinha dez anos, um treinador foi dizer para minha mãe que ela devia mudar minha educação para que eu não virasse gay. Ela veio falar comigo, preocupada. Eu era muito inocente e nem sabia o que era isso, mas isso me marcou", explicou ao Uol.

O atleta também conta na entrevista que, para ele, o maior problema sempre foi como iria contar para a família. Segundo Diego, seus pais eram muito pobres e deixaram o interior para viver em São Paulo para que ele e sua irmã pudessem se dedicar a carreira. "A gente passava por tanta dificuldade em casa, nem sempre tínhamos o que comer. Chegamos a ficar meses em energia elétrica. Como é que eu ia levar mais um problema pra eles?", indaga.

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"Eu vivi a solidão de não ter ninguém com quem eu pudesse compartilhar os dilemas de ser uma pessoa gay em uma sociedade preconceituosa. Por mais que todo mundo tenha a impressão de que tem muito gay na ginástica, não tem. Todo mundo me zombava, zombava do meu jeito", disse à reportagem do quadro.

O sonho de conquistar a medalha olímpica foi um dos principais motivos para que Hypolito desistisse de "sair do armário publicamente". "Eu tinha medo de perder patrocínios e minha carreira ser prejudicada. Minha felicidade era a ginástica, então se eu não pudesse ser completo na minha vida pessoal, nem tinha tanto problema", afirmou.

Segundo a entrevista do Uol, a revelação para a família aconteceu há pouco tempo, em 2014, enquanto o atleta se preparava para o Mundial na China. "Não tinha tinha coragem de falar por telefone, então escrevi uma mensagem. Disse que a amava muito, que esperava que isso não mudasse a nossa relação, porque eu continuaria a amando da mesma maneira. Eu era gay e não um demônio", desabafa.

De acordo com a entrevista de Diego ao Uol, a resposta da matriarca não teria sido tão gentil quanto ele esperava. Após o fato, ele teria ficado com vergonha de encarar a família e, por isso, ficou quase um ano afastado deles. "Meu pai reagiu melhor e a Daniele me apoiou incondicionalmente, disse que sempre soube mesmo sem eu nunca ter falado nada", conta.

Foram anos de terapia e contato com outras pessoas LGBTQI+ que ajudaram o atleta a ser mais aberto com a própria sexualidade. "Acho que meu exemplo pode fazer com que muitos garotos que hoje estão sofrendo deixem de sofrer. Quero que as pessoas saibam que sou gay e que eu não tenho vergonha disso. Já vivi muitos anos pensando no julgamento que os outros fariam sobre mim e hoje só aceito ser julgado por Deus".

Sobre o relacionamento com a mãe, Hypolito afirma ao Uol que hoje em dia ela já está mais aberta com sua sexualidade e o aceita como é. "Sei que pode ter gente que vai deixar de gostar de mim depois de conhecer minha história. Sei que no culto posso viver situações de preconceito, sei que vir a público e falar isso pode irritar algumas pessoas. Ninguém é obrigado a entender nada, mas é obrigada a respeitar. Nunca mais vou deixar de viver o que eu sou. Eu sou gay", finalizou.

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