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Trânsito: sequelas permanentes

02:00 | Abr. 16, 2019
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Desde ontem, O POVO vem realizando uma série de matérias sobre o trânsito, a partir da realidade local, mas vendo também aspectos gerais que afetam os brasileiros como um todo. O destaque de ontem foi dado ao número de vítimas de acidente de trânsito que ficaram com sequelas permanentes. Só no Ceará são mais de 18 mil vítimas registradas com esse perfil, no ano passado. O impacto de tal mutilação na vida da comunidade, seja na produção, no orçamento público, no desperdício de talentos, no desfalque familiar e afetivo deixam claro que as perdas vão muito mais além dos aspectos tangíveis.

No entanto, parece que a sociedade não se deu conta do que significa ter em seus calcanhares uma ameaça desse porte, que pode desfazer, de um momento para outro, vidas, sonhos e projetos quando mal se esboçam, pois a maior parte de suas vítimas são pessoas em pleno vigor existencial. Por isso, a sensação de perda é multiplicada. Os registros dos pedidos de indenização encaminhados pelas vítimas desvelam o rastro da tragédia: as sequelas permanentes compõem 79,12% dos pedidos encaminhados à empresa Líder, que administra o Dpvat (Seguro de Danos Pessoais Causados por Veículos Automotores de Vias Terrestre), no ano passado. E isso porque ocorreu uma queda de 75,7% em relação ao que foi pago como ressarcimento por invalidez permanente (74.741 casos), cinco anos atrás.

Por que houve uma redução tão drástica das estatísticas registradas em 2014? Precisa apurar mais. Há quem atribua isso a uma legislação mais rigorosa para o trânsito (a Lei Seca tornou a fiscalização mais intolerante e a penalidade mais cara para quem dirige tendo consumido qualquer quantidade de álcool), a multiplicação de radares eletrônicos de velocidade instalados no Brasil e à obrigatoriedade de equipamentos e dispositivos de segurança como capacete, airbag, freios ABS. Não se descarta, dentre as causas, a influência da recessão econômica. A ver.

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O certo mesmo é que acidentes de trânsito geram no País um impacto financeiro negativo de pelo menos R$ 52 bilhões ao ano. É um desperdício intolerável. O peso disso no orçamento da saúde pública é incontornável. Cerca de 75% dos acidentes se devem a motociclistas. E já há uma constatação da inclusão cada vez maior da bicicleta, pela sua utilização frequente como meio de transporte. Daí surge o alerta para uma atenção especial por parte das autoridades de trânsito a esse novo item.

E aí chegamos a um dos pontos essenciais: é preciso tirar do papel a educação para o trânsito e implementá-la desde as primeiras noções escolares até a universidade. De tanto conviver com o monstro a sociedade "normalizou" a sua letalidade. E isso é o pior que se pode fazer com um perigo mortal: invisibilizá-lo pela normose. 

 

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