Da elite inglesa ao caos nacional: o que falta à arbitragem brasileira?
Entre críticas e promessas de mudança, técnico do Cruzeiro denuncia falhas sistêmicas enquanto CBF busca soluções na Premier League
Além da arbitragem, o treinador apontou problemas como a qualidade dos gramados e o calendário extenuante. São fatores que afetam diretamente o desempenho dos atletas e a qualidade do futebol apresentado. Curiosamente, esses temas não são prioridade nas discussões das ligas LFU e Libra, que se concentram em acordos comerciais e distribuição de receitas, ignorando aspectos fundamentais do jogo.
A falta de voz dos jogadores nessas decisões, aliás, reforça a sensação de que o futebol brasileiro é conduzido por interesses que ignoram o essencial: o jogo em si.
A CBF, por sua vez, tenta mostrar disposição para mudanças. Enviou Rodrigo Cintra, coordenador da comissão de arbitragem, à Inglaterra para estudar os métodos da PGMO (Professional Game Match Officials), órgão que regula os árbitros profissionais da Premier League.
Inglaterra: visão de excelência para a arbitragem
Em 2024, estive em Londres para cobrir dois amistosos da Seleção Brasileira e ouvi falar de como a metodologia da PGMO é eficaz. Lá, os árbitros são remunerados com salários fixos, bônus por jogo, seguros e prêmios por desempenho. Trabalham exclusivamente na liga e se dedicam até dez horas/dia à preparação física, técnica e teórica. É um modelo que valoriza a arbitragem como profissão e não como atividade paralela, como ainda ocorre no Brasil.
Os árbitros britânicos, aliás, são considerados profissionais de alto nível, recebendo suporte completo em treinamento físico, acompanhamento psicológico e acesso à tecnologia avançada. O reconhecimento começa pela formação rigorosa e se consolida na confiança que o sistema deposita em seu desempenho. Embora a profissionalização não elimine totalmente os equívocos, ela contribui para que sejam menos frequentes e mais transparentes.
É um caminho que o Brasil precisa seguir com urgência.
A comparação entre os 28 árbitros da Série A e os 20 da Premier League revela uma diferença de foco. Enquanto os ingleses investem em qualidade e exclusividade, o Brasil ainda aposta na quantidade e na rotatividade. O Grupo de Trabalho criado pela CBF para aperfeiçoar a arbitragem pode ser um passo importante, mas precisa ser acompanhado de mudanças reais na estrutura e na cultura do futebol nacional. Sem isso, seguirá apenas como mais uma iniciativa sem impacto prático.
Apesar de tudo, Brasileirão vive triênio de engajamento
O histórico de erros de arbitragem no Brasileirão é vasto, com decisões polêmicas que marcaram títulos e rebaixamentos. Contudo, é preciso salientar que não se trata de má-fé — como muitos insinuam até de modo irresponsável —, mas de um sistema vulnerável à pressão, à falta de preparo e à ausência de profissionalismo. O barulho constante dos dirigentes só piora a percepção pública e afasta o torcedor da confiança no campeonato.
Apesar disso, o Brasileirão vive um momento histórico de engajamento. As três edições mais recentes, já incluindo 2025, registraram as maiores médias de público de todos os tempos. Isso corrobora para a certeza de que o produto futebol brasileiro ainda é bom e desfila talento e paixão. Mas precisa parar com o autoboicote.
O posicionamento de Leonardo Jardim funciona, portanto, como um sinal claro para a CBF, os clubes e as ligas: é urgente repensar o modelo que rege o futebol brasileiro. Sem mudanças estruturais na arbitragem, no calendário e na gestão dos interesses esportivos, o sistema continuará a afastar profissionais qualificados e minando a confiança do público. A decisão está nas mãos das entidades que comandam o esporte — entregar um campeonato valorizado ou seguir alimentando práticas que comprometem sua reputação.
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