Mortes de soldados russos crescem no maior ritmo desde o início da guerra da Ucrânia
Agência BBC

Mortes de soldados russos crescem no maior ritmo desde o início da guerra da Ucrânia

Enquanto Rússia e Ucrânia são pressionados pelos EUA a aceitar acordo de paz, publicação de obituários de soldados russos têm alta de 40% em relação ao ano anterior; no total, BBC confirmou nomes de quase 160 mil pessoas mortas lutando do lado russo na Ucrânia.

Cemitério de soldados russos mortos durante a guerra do país na Ucrânia, na região rural de Kostroma, às margens do Volga, a 300 km de Moscou
ANDREY BORODULIN/AFP via Getty Images
A BBC News Rússia contabiliza as perdas de guerra de Moscou usando relatórios oficiais, jornais, redes sociais e novos memoriais e túmulos

Uma análise feita pela BBC mostra que, nos últimos 10 meses, as perdas russas na guerra com a Ucrânia têm crescido mais rápido do que em qualquer outro período desde o início da invasão em grande escala em 2022.

À medida que os esforços pela paz se intensificaram em 2025, sob pressão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, foram publicados 40% a mais de obituários de soldados em fontes russas comparado ao ano anterior.

No geral, a BBC confirmou os nomes de quase 160 mil pessoas mortas lutando do lado russo na Ucrânia.

A BBC News Rússia tem contabilizado as perdas russas na guerra junto com o site independente Mediazona e um grupo de voluntários, desde fevereiro de 2022. Mantemos uma lista de indivíduos cujos óbitos conseguimos confirmar usando relatórios oficiais, notícias, redes sociais, memoriais e túmulos.

Acredita-se que o número real de mortos seja muito maior, e especialistas consultados pela BBC acreditam que nossa análise de cemitérios, memoriais de guerra e obituários pode representar entre 45% e 65% do total — o que elevaria o número de mortes russas para algo entre 243.000 a 352.000.

O número de obituários para qualquer período é uma estimativa preliminar das perdas confirmadas, uma vez que algumas precisam de verificação adicional e vão eventualmente ser descartadas.

Mas pode indicar como a intensidade dos combates está mudando ao longo do tempo.

O ano de 2025 começa um número relativamente baixo de obituários publicados em janeiro, comparado com os meses anteriores. Mas o número aumenta em fevereiro, quando Trump e o presidente russo, Vladimir Putin, conversaram diretamente pela primeira vez sobre o fim da guerra na Ucrânia.

O pico seguinte, em agosto, coincide com o encontro dos dois presidentes no Alasca, um trunfo diplomático de Putin que foi amplamente visto como o fim de seu isolamento internacional.

Em outubro, quando uma segunda cúpula Rússia-EUA estava planejada, mas acabou cancelada, e depois em novembro, quando os EUA apresentaram uma proposta de paz com 28 pontos, uma média de 322 obituários por dia foram publicados — o dobro da média de 2024.

É difícil atribuir o aumento das perdas russas a um único fator, mas o Kremlin vê os ganhos territoriais como uma forma de influenciar negociações com os Estados Unidos a seu favor: o assessor de Putin, Yuri Ushakov, enfatizou recentemente que os "sucessos recentes" tiveram impacto positivo.

Murat Mukashev estava entre aqueles que apostaram em um acordo de paz rápido e isso lhe custou a vida.

Imagem de Murat Mukashev e um cemitério atrás dele
BBC
Mukashev alistou-se no exército após ser condenado a 10 anos de prisão

Mukashev era um ativista que nunca apoiou as políticas de Putin.

Ao longo dos anos, ele participou de manifestações contra a violência policial e tortura, e fez parte de protestos pelos direitos LGBT e pela libertação de Alexei Navalny, o principal opositor do Kremlin, que morreu na prisão em 2024.

Ele condenou repetidas vezes a invasão da Rússia na Ucrânia em suas redes sociais desde 2022. Então, no início de 2024, Musashev foi preso perto de sua casa em Moscou e acusado de tráfico de drogas.

Enquanto seu caso estava sendo julgado, ele recebeu uma proposta de contrato com o Ministério da Defesa, segundo sua família e amigos.

Eles viram as graves acusações feitas contra ele como uma manobra típica para fazer com que as pessoas se alistassem.

Uma lei de 2024 permite que o acusado se livre de uma condenação criminal se aderir ao grupo - uma opção atraente em um país com uma taxa de absolvição de menos de 1%.

Mukashev recusou a oferta e o tribunal o condenou a 10 anos em uma colônia penal de alta segurança.

Jovem segura um cartaz enquanto a polícia o escolta
Murat Mukashev
Mukashev nunca apoiou Putin e protestava contra a guerra e a violência policial

Mas ele mudou de ideia na prisão, em novembro de 2024. Seus amigos dizem que ele estava animado com as promessas de Trump para acabar com a guerra e decidiu que ele precisava se alistar o mais rápido possível para garantir sua libertação antes que um acordo de paz fosse alcançado.

"Ele viu isso como uma chance de sair em vez de ficar preso por 10 anos em um regime rígido", diz um comunicado de seu grupo de apoio.

Não houve explicação sobre como ele conciliava participar da guerra com sua relutância em matar.

Em 11 de junho de 2025, Mukashev morreu em combate como parte de um esquadrão de assalto na região de Kharkiv, no nordeste da Ucrânia.

Assim como ele, a maioria dos russos mortos na linha de frente em 2025 não tinha nenhuma ligação com as Forças Armadas no início da guerra em grande escala, segundo dados da BBC.

No entanto, desde a sangrenta batalha pela cidade de Avdiivka, em outubro de 2023, houve um aumento constante de baixas entre os chamados "voluntários" — aqueles que assinaram contratos de forma voluntária desde o início da invasão.

Agora, eles parecem formar a maioria dos novos recrutas da Rússia, em contraste com os doldados profissionais que ingressaram no exército antes da invasão ou com aqueles monilizados para o serviço militar depois disso.

Há um ano, 15% das mortes militares russas eram de voluntários; em 2025, essa proporção passou a ser uma em cada três.

Pernas de homens usando calças e sapatos militares
Reuters
Recrutas russos na região de Rostov

Os governos locais, pressionados a manter um fluxo constante de novos recrutas, anunciam pagamentos substanciais, se encontram com pessoas que têm dívidas e fazem campanha em universidades e colégios.

Isso significa que o Kremnlin tem sido capaz de compensar as grandes perdas na frente da batalha, evitando a medida politicamente arriscadas de uma mobilização obrigatória em larga escala.

Até outubro, 336 mil pessoas haviam se alistado nas forças armadas neste ano, de acordo com o vice-chefe do Conselho de Segurança Nacional, Dmitry Medvedev —bem mais de 30.000 por mês.

O secretário-geral da Otan, Mark Rutte, tem dito desde então que 25 mil soldados russos são mortos a cada mês. Se ambos estiverem certos, a Rússia ainda está recrutando mais soldados do que perdendo.

Com base nos obituários e relatos de familiares, a maioria daqueles que se alistaram para lutar fizeram isso de forma voluntária, mas há relatos de pressão e coerção, especialmente sobre recrutas regulares e aqueles que foram acusados de crimes.

Alguns recrutas acreditam, por engano, que depois de assinar um contrato de um ano poderão voltar à sua vida anterior com dinheiro no bolso.

Um novo recruta pode ganhar até 10 milhões de rublos (R$ 690 mil) em um ano. Na prática, porém, todos os contratos assinados com o Ministério da Defesa desde setembro de 2022 são automaticamente prorrogados até o fim da guerra.

De acordo com a Otan, o número total de russos mortos e feridos na guerra é de 1,1 milhão, e um oficial estima que houve 250 mil mortes.

Isso se alinha com os cálculos da BBC, embora nossa lista não inclua aqueles que foram mortos servindo na milícia de duas regiões ocupadas no leste da Ucrânia, que estimamos estarem entre 21.000 e 23.000 combatentes.

A Ucrânia também tem sofrido perdas.

Em fevereiro, o presidente ucraniano, Volodymyz Zelenksy estimou o número de mortos no campo de batalha em 46.000 e o de feridos em outros 380.000.

Dezenas de milhares de outros estavam desaparecidos em combate ou eram mantidos em cativeiro, acrescentou ele.

Com base em outras estimativas e no cruzamento de dados, acreditamos que o número de ucranianos mortos até o momento chegue a 140.000.

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