Convidados inusitados, show no exterior e cancelamentos: 5 curiosidades do especial de Roberto Carlos
Agência BBC

Convidados inusitados, show no exterior e cancelamentos: 5 curiosidades do especial de Roberto Carlos

Do uso de dramaturgia nos anos 1970 à lenta chegada do funk, histórias pouco conhecidas dos 50 anos do programa.

Roberto Carlos em show em 2025
AFP via Getty Images

Foram muitas as emoções desde 1974, quando foi ao ar a primeira edição de um especial de fim de ano de Roberto Carlos. Em meio a elas, mudanças de formatos, convidados inusitados, interrupções por motivos de força maior.

Destacamos aqui cinco curiosidades da história dessa tradição que segue viva — este ano com gravações em Gramado e participações de Sophie Charlotte, Fafá de Belém, Jorge Ben, João Gomes e Supla.

1. "A mamãe de mamãe"

No início, entre 1974 e 1979, o especial do Rei ia muito além do formato do show, incorporando esquetes, convidados de outros programas da Globo e diferentes recursos dramatúrgicos.

Já na primeira edição, a presença do ator Paulo Gracindo declamando a letra de Não quero ver você triste — enquanto Roberto o acompanhava ao violão — transformou a canção em texto teatral.

Em 1976, Roberto encenou uma ceia de Natal na qual recebeu ídolos da velha guarda da música brasileira: Aracy de Almeida, Carlos Galhardo, Linda Batista, Moreira da Silva, Isaurinha Garcia e Orlando Silva.

Em 1979, os Trapalhões transformaram Amanhã de manhã em A mamãe de mamãe, paródia na qual o avô morre depois de uma noite de amor tórrida com a avó ("A mamãe de mamãe/ Olha as chamas das velas acesas/ E o vovô esfriando na mesa").

Na mesma edição, o rei encenou uma cena de casal com Christiane Torloni e recitou poemas de Vinicius de Moraes e Manuel Bandeira. Em meio aos números musicais, o especial era, portanto, uma espécie de teatro popular televisivo.

2. O Rei ao ar livre

Entre mais de cinco décadas de especiais de fim de ano, Roberto Carlos só levou o programa para fora do estúdio e de teatros fechados em quatro ocasiões. Em 1977, o especial foi gravado na Concha Acústica da Uerj, no Rio de Janeiro, diante de mais de 12 mil pessoas.

O roteiro misturava canções do próprio Roberto, como Se você pensa e Amada amante, com clássicos da MPB (Ponteio, Wave, Travessia) e um bloco inusitado em homenagem a Elvis Presley, ao lado de Erasmo Carlos, ambos vestidos com macacões ao estilo do ídolo americano.

Em 2010, o especial foi transmitido ao vivo da praia de Copacabana, com estrutura de megashow e convidados populares como Paula Fernandes e Exaltasamba, assumindo o formato de espetáculo de massa em espaço público.

No ano seguinte, 2011, Roberto protagonizou um programa fora do circuito tradicional: gravado em Jerusalém, no Sultan's Pool, cenário histórico ao ar livre, o programa apostou numa imagem mais solene e internacionalizada do cantor. Mas esse não era o especial de Natal, tendo sido exibido no fim do ano apenas como reprise, em 2020.

Já em 2024, o especial celebrou seus 50 anos ao ser gravado no Allianz Parque, em São Paulo, com linguagem de show de estádio, telões e plateia monumental, transformando o ritual televisivo em evento pop de grande porte.

Roberto Carlos em Jerusalém
TV Globo / Zé Paulo Cardeal
Roberto Carlos em Jerusalém

3. Silêncios

Desde 1974, houve apenas dois anos em que não houve especial inédito de Roberto Carlos no fim do ano — duas exceções que dizem muito do peso simbólico do programa.

A primeira foi em 1999. Naquele ano, o especial não foi exibido em razão do delicado estado de saúde de Maria Rita, mulher do cantor, que enfrentava um câncer avançado e morreria em dezembro. A tradição foi interrompida pela primeira vez, e por um motivo pessoal muito direto, expondo o quanto o programa sempre esteve atrelado à biografia e ao tempo emocional de seu protagonista.

A segunda quebra aconteceu em 2020, em meio à pandemia de covid-19. Por sugestão do próprio Roberto, a Globo optou por não mobilizar grandes equipes num momento de risco sanitário. Para manter o encontro anual com o público, a emissora reprisou o show gravado em Jerusalém, em 2011.

Em mais de 50 anos, foram apenas esses dois silêncios — ambos provocados por circunstâncias extraordinárias, que ajudaram a reforçar que o programa, mais do que um evento automático, tem um caráter ritual, familiar, sujeito às circunstâncias da vida da família Brasil e de seu Rei.

4. Participações internacionais

Ao longo de cinco décadas, o especial de fim de ano de Roberto Carlos sempre foi um espelho bastante doméstico da música popular brasileira. Por isso mesmo, as participações internacionais no palco do Rei são raras — e, quando acontecem, ganham status de destaques.

A primeira dessas ocasiões se deu em 1978, quando Roberto dividiu o palco com o cantor e pianista americano Freddy Cole, num dueto em For once in my life, sucesso na voz de Stevie Wonder.

Depois disso, o especial passou décadas sem repetir a experiência. Em 2016, o programa exibiu o dueto do Rei com Jennifer Lopez, em Chegaste, gravado em Los Angeles.

No ano seguinte, 2017, o especial entrou de vez no clima do pop global ao receber no palco a panamenha Erika Ender, que cantou o megahit Despacito — do qual ela é uma das autoras — ao lado de Roberto, com direito à participação de percussionistas e passistas da Beija-Flor de Nilópolis.

Roberto Carlos e Alejandro Sanz
Globo/Estevam Avellar
Roberto Carlos e Alejandro Sanz

Em 2018, foi a vez do espanhol Alejandro Sanz, num encontro que reforçava o diálogo latino do repertório romântico, cantando Esa mujer.

Já em 2024, na edição comemorativa de 50 anos, o tenor italiano Andrea Bocelli foi um dos convidados, num dueto com Roberto em L'appuntamento, versão de Sentado à beira do caminho.

O dado curioso é que, apesar de dividir palcos e gravações com Roberto ao longo da carreira, nomes óbvios do imaginário latino romântico — como Julio Iglesias — nunca participaram do programa anual. No especial de Roberto, o internacional sempre foi exceção, não regra.

5. Se o Rei dança, eu danço

Roberto Carlos e MC Leozinho
TV Globo / Márcio de Souza
Roberto Carlos e MC Leozinho

Diferentemente do pagode, do axé e do sertanejo, o funk levou tempo para atravessar a porta do programa de fim de ano de Roberto Carlos. Mesmo depois de se consolidar como fenômeno popular e dominar rádios, bailes e a indústria fonográfica ao longo dos anos 1990, o ritmo só foi aparecer de forma explícita no especial a partir dos anos 2000, dando início a um processo lento de legitimação.

A estreia foi em 2006, quando Roberto dividiu o palco com MC Leozinho em Ela só pensa em beijar, hit absoluto daquele ano. O momento marcou que o gênero ganhava chancela no palco mais tradicional da TV brasileira.

Ludmilla e Roberto Carlos
Globo / Paulo Belote
Com Ludmilla, Roberto se destacou cantando apenas a palavra "gostoso" no hit Hoje

Seis anos depois, em 2012, o gênero avançaria um passo: Roberto lançou e apresentou Furdúncio, parceria sua com Erasmo Carlos classificada como funk melody, sinalizando não apenas abertura, mas apropriação estética.

Em 2013, o funk voltou em chave pop, com Anitta cantando Show das poderosas em diálogo com Se você pensa.

Ludmilla reforçou esse lugar ao se apresentar com o Rei em 2015, cantando seu hit Hoje — na qual Roberto se destacou cantando apenas a palavra "gostoso". Eles fizeram um dueto também em Café da manhã, sucesso do anfitrião.

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