Foto de Trump é reinserida nos arquivos de Epstein após acusações de 'acobertamento'
A foto era uma de uma série removida do site do Departamento de Justiça dos EUA por preocupação com a proteção das vítimas, segundo autoridades americanas.
Material dos arquivos de Epstein, incluindo uma fotografia mostrando o presidente americano, Donald Trump, foi retirado do website do Departamento de Justiça dos Estados Unidos, devido a preocupações levantadas pelas vítimas, declarou no domingo (21/12) o vice-procurador-geral americano, Todd Blanche.
A imagem que mostra Trump foi restabelecida posteriormente após análise, segundo Blanche.
Ele rechaçou as críticas de que a retirada estivesse relacionada ao presidente americano e afirmou que a mesma foto que incluía Trump também mostrava imagens de mulheres não editadas.
Pelo menos 13 arquivos, dentre os milhares divulgados na sexta-feira (19/12), relativos ao milionário condenado por crimes sexuais Jeffrey Epstein (1953-2019), haviam desaparecido do website no sábado (20/12), sem explicação.
Democratas do Comitê de Supervisão da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos questionaram a remoção das imagens.
Em uma postagem nas redes sociais, eles perguntaram à procuradora-geral Pam Bondi: "O que mais está sendo acobertado?"
O Departamento de Justiça dos Estados Unidos (DoJ, na sigla em inglês), afirmou no domingo, em uma postagem no X (antigo Twitter) que a imagem de Trump foi assinalada pelo Distrito Sul de Nova York "para possíveis ações adicionais para proteger as vítimas".
O DoJ acrescentou que a imagem foi retirada temporariamente para novas análises, "por excesso de cautela".
"Após a análise, foi determinado que não há evidências de que alguma das vítimas de Epstein esteja ilustrada na fotografia, que foi novamente postada, sem nenhuma alteração ou edição", afirmou o órgão, incluindo um link para a imagem em questão no seu website.
A foto foi tirada em uma das casas de Epstein, segundo autoridades americanas. Ela mostra um armário com uma série de fotografias em porta-retratos, muitas delas mostrando pessoas famosas.
Existe também uma gaveta aberta cheia de outras fotos. Uma delas mostra o presidente com Epstein, a primeira-dama Melania Trump e a associada de Epstein Ghislaine Maxwell, condenada pela Justiça.
Blanche chamou de "ridícula" a sugestão de que a foto tivesse sido removida por mostrar Trump.
"Não tem nada a ver com o presidente Trump", declarou ele à rede de TV americana NBC News.
"Já foram publicadas dezenas de fotos do presidente Trump com o sr. Einstein. Por isso, é um disparate dizer que iríamos retirar uma foto, uma única foto, porque o presidente Trump aparece nela. É ridículo."
Blanche justificou a retirada de alguns dos arquivos postados anteriormente, mencionando um juiz de Nova York, que "nos ordenou que ouvíssemos qualquer vítima ou grupo de defesa dos direitos das vítimas, se houvesse preocupações".
"Muitas fotografias foram removidas depois da publicação, na sexta-feira", afirmou ele.
Trump vem negando constantemente qualquer delito em relação a Epstein e não foi acusado de nenhum crime pelas vítimas do criminoso condenado. Não há indicação de que as fotos envolvidas indiquem qualquer irregularidade.
Ação do Congresso
O DoJ já estava sob ataque por não ter publicado todos os arquivos até o prazo de sexta-feira passada, como manda a lei. Os documentos incluem fotos, vídeos e material investigativo relacionado a Epstein.
Havia grande expectativa pela sua publicação, depois que o Congresso americano aprovou uma lei ordenando sua divulgação integral até sexta-feira (19/12).
O congressista republicano Thomas Massie, do Estado de Kentucky, liderou os trabalhos para a publicação dos arquivos. Ele declarou estar decepcionado com a reação do governo Trump e que seu objetivo é conseguir justiça para as vítimas.
Massie afirma que está preparando acusações de descumprimento para apresentação contra a procuradora-geral americana, Pam Bondi.
"Eles estão desrespeitando o espírito e os termos da lei", declarou ele no domingo (21/12) à rede de TV CBS News, parceira da BBC nos Estados Unidos.
"A postura que eles tomaram é muito preocupante", lamentou Massie. "Não ficarei satisfeito até que os sobreviventes estejam satisfeitos."
- 6 perguntas para entender a polêmica lista de Epstein e o papel de Trump no caso
- 'Lista de clientes de Epstein não existe': o que disse Ghislaine Maxwell às autoridades dos EUA
- 'Achei que morreria como escrava sexual': as memórias de Virginia Giuffre sobre quando sofreu abusos de Jeffrey Epstein
Dez dos arquivos faltantes incluem imagens que, aparentemente, mostram o mesmo cômodo da casa de Epstein — uma pequena sala de massagens, com nuvens pintadas no teto e papel de parede estampado marrom, repleto de nudes. Algumas parecem ser fotos e outras, obras artísticas.
A maior parte das mulheres ilustradas na parede teve seus rostos editados. Mas um dos rostos está editado em uma imagem e claramente visível em três outras.
Outro rosto permanece sem ter sido editado em todas as imagens e é visível uma imagem pintada da mesma pessoa.
Os documentos foram publicados na sexta-feira, após uma ação do Congresso americano forçando o DoJ a publicá-los. O órgão afirmou que cumpriria com o pedido de liberação dos documentos pelo Congresso, com algumas ressalvas.
O Departamento de Justiça editou informações identificáveis sobre as vítimas de Epstein, materiais ilustrando abuso sexual de crianças ou abuso físico e eventuais registros que "prejudicassem a investigação federal em andamento", além de eventuais documentos sigilosos que devem permanecer em segredo para proteger a "defesa nacional ou política externa".
Mas muitos dos documentos publicados foram fortemente editados.
Havia poucas informações novas sobre os crimes de Epstein e itens como memorandos internos do DoJ com decisões sobre acusações não foram incluídos nos arquivos publicados.
Com colaboração de Alison Benjamin e Benedict Garman.
- O que se sabe sobre novos e-mails de Epstein que citam Trump
- Bill Clinton, Mick Jagger e Michael Jackson: as personalidades que aparecem nos 'arquivos de Epstein'
- O que revelam as imagens inéditas da ilha onde Jeffrey Epstein cometeu seus crimes sexuais