Como e quantos são os navios de guerra, aviões e soldados que os EUA enviaram para a região da Venezuela
Agência BBC

Como e quantos são os navios de guerra, aviões e soldados que os EUA enviaram para a região da Venezuela

O governo Trump diz que sua campanha aérea e naval é 'necessária' para combater o tráfico de drogas para o território americano

USS Gerald R Ford
Reuters
O porta-aviões USS Gerald R. Ford, o maior da Marinha americana, estava a cerca de 120km ao sul da República Dominicana em 27/11, aproximadamente 700km da costa venezuelana

Imagens de satélite mostram que pelo menos seis navios militares dos EUA estão operando no Caribe desde a última semana, em meio a tensões entre EUA e Venezuela.

A BBC Verify, serviço de checagem da BBC, identificou outros cinco navios na região como parte da operação militar americana.

A movimentação ocorre após uma série de ataques aéreos dos EUA contra supostos barcos que transportam drogas no Caribe e no Pacífico Oriental nos últimos meses, considerados pelo governo do presidente americano, Donald Trump, necessários para conter o fluxo de narcóticos.

Nos últimos dias, houve também novas sinalizações dos EUA sobre uma ofensiva contra a Venezuela.

Trump voltou a dizer, na terça-feira (02/12), que uma ação terrestre no país aconteceria "muito em breve".

"Sabe, por terra é muito mais fácil, muito mais fácil. E nós sabemos as rotas que eles [traficantes] usam. Sabemos tudo sobre eles. Sabemos onde moram. Sabemos onde os caras maus moram, e vamos começar isso muito em breve também", disse o presidente americano em reunião aberta à imprensa na Casa Branca.

Na quarta (03), o governo americano recomendou a seus cidadãos que não viajem para a Venezuela e, para aqueles que estão no país sul-americano, que tentem sair de lá.

"Não viaje para a Venezuela nem permaneça no país devido ao alto risco de detenção ilegal, tortura, terrorismo, sequestro, aplicação arbitrária das leis locais, criminalidade, agitação civil e infraestrutura de saúde precária. Recomenda-se fortemente que todos os cidadãos americanos e residentes permanentes legais na Venezuela deixem o país imediatamente", diz um comunicado do governo americano.

A operação americana inclui milhares de soldados e o maior navio de guerra do mundo, posicionado à distância estratégica da Venezuela, alimentando especulações sobre uma possível ação militar contra a Venezuela.

Onde estão os navios de guerra dos EUA?

A operação militar dos EUA no Caribe começou em agosto com o envio de forças aéreas e navais, incluindo um submarino nuclear e aeronaves de reconhecimento, segundo autoridades americanas.

Agora, a operação reúne porta-aviões, destróieres com mísseis guiados e navios de assalto anfíbios capazes de desembarcar milhares de soldados.

A análise de imagens de satélite permitiu identificar pelo menos seis embarcações militares na região na última semana.

Mapa mostra as posições confirmadas de seis embarcações militares dos EUA no mar do Caribe, incluindo um grupo em torno do USS Gerald R. Ford
BBC

O porta-aviões USS Gerald R. Ford, o maior da Marinha americana, estava a cerca de 120km ao sul da República Dominicana em 27/11, aproximadamente 700km da costa venezuelana.

Em meados de novembro, o navio foi avistado mais a leste, a cerca de 201km ao sul de Porto Rico, território dos EUA no Caribe, e depois navegou para o sul rumo à República Dominicana.

Com mais de 330 metros de comprimento, o USS Gerald R. Ford opera em um grupo de ataque acompanhado de navios de apoio.

Infográfico sobre o USS Gerald R. Ford, o maior porta-aviões da Marinha americana, que transporta cerca de 4.600 marinheiros e opera em grupo de ataque com outros navios. O navio tem capacidade para até 90 aeronaves, entre caças e helicópteros, e custou aproximadamente £13 bilhões para ser construído.   Em comparação com prédios famosos, o porta-aviões mede 337 metros, maior que o The Shard (310m) e a Torre Eiffel (330m), mas menor que o Empire State Building (381m).  A embarcação tem 78 metros de largura e o convés de voo ocupa 18 mil metros quadrados (4,5 acres).  Fonte: Departamento de Defesa dos EUA, Congresso dos EUA
BBC
O USS Gerald R. Ford é o maior porta-aviões da Marinha americana. Em comparação com prédios famosos, o porta-aviões mede 337 metros, maior que o The Shard (310m) e a Torre Eiffel (330m), mas menor que o Empire State Building (381m)

A BBC Verify também identificou várias outras embarcações próximas ao USS Gerald R. Ford. Além disso, localizou outras embarcações dos EUA no Caribe.

Entre elas, estão o MV Ocean Trader, um navio de comando de operações especiais, avistado em imagens de satélite em 25/11 entre Porto Rico e a República Dominicana, e um navio da classe USS Antonio, um tipo de transporte anfíbio, visto em 27/11 a 90km ao sul de Porto Rico.

O navio mais próximo da Venezuela observado foi um navio de reabastecimento de combustível, visto em 27/11 a 480km ao norte da costa venezuelana.

Imagens de satélite também mostraram outros cinco navios na região do Caribe, mas não foi possível confirmar suas identidades.

A análise da BBC Verify indica ainda que, em um caso, uma embarcação naval previamente rastreada no Caribe retornou aos EUA e agora está em Key West, na Flórida.

Não se sabe a razão desses movimentos, mas eles podem ter sido realizados para reabastecimento.

Gráfico mostra imagens de satélite e fotos de três navios dos EUA: um navio do Comando de Operações Especiais, um cruzador de mísseis guiados e um navio de assalto anfíbio
BBC
Navios de guerra dos EUA identificados no mar do Caribe: um navio do Comando de Operações Especiais, um cruzador de mísseis guiados e um navio de assalto anfíbio

E quanto aos aviões?

Os EUA também deslocaram caças F-35 para suas bases no Caribe e realizaram voos de bombardeiros e aeronaves de reconhecimento na região.

A BBC Verify usou dados de rastreamento de voos para identificar quatro aeronaves militares americanas voando próximas à Venezuela nos dias 20/11 e 21/11.

Um bombardeiro de longo alcance B-52 dos EUA apareceu brevemente no site de rastreamento Flightradar24 ao largo da Guiana — país vizinho a leste da Venezuela — por volta das 19h45 (horário local) de 20/11.

Os dados mostram que o bombardeiro, com indicativo TIMEX11, partiu do estado americano de Dakota do Norte naquela tarde e retornou na manhã seguinte.

Uma aeronave de vigilância da Força Aérea dos EUA — indicativo ALBUS39 — surgiu nos dados de rastreamento de voos pouco após as 18h (horário local) de 20/11, voando por cerca de duas horas perto da costa leste da Venezuela.

Em horário semelhante, um caça Super Hornet da Marinha dos EUA — indicativo FELIX11 — foi visto circulando ao largo da costa oeste.

Além disso, um avião-tanque de reabastecimento da Força Aérea dos EUA — indicativo PYRO33 — estava sobre o sul do Caribe por volta das 21h30 (horário local) de 21/11. Em seguida, deixou de transmitir sua posição até ser observado mais tarde seguindo rumo noroeste.

O mapa mostra as trajetórias de voo de aeronaves militares dos EUA próximas à costa da Venezuela em 20 e 21 de novembro
BBC
O mapa mostra as trajetórias de voo de aeronaves militares dos EUA próximas à costa da Venezuela em 20 e 21 de novembro

Em outubro, três bombardeiros B-52 decolaram de uma base aérea na Louisiana e sobrevoaram ao largo da costa da Venezuela antes de retornar, segundo dados de rastreamento de voos do FlightRadar24.

No mês passado, os dados de rastreamento mostraram que várias aeronaves de reconhecimento P-8 Poseidon voaram rumo ao sul sobre o Caribe a partir de uma base naval dos EUA na Flórida.

Especialistas afirmam que esses voos indicam que os EUA buscam obter inteligência militar na região.

"Observamos atividade de P-8A em todo o mundo, em qualquer lugar em que a Marinha americana tenha interesse em reforçar sua consciência do domínio marítimo", diz Henry Ziemer, especialista para as Américas no Centro de Estudos Internacionais e Estratégicos (CSIS, na sigla em inglês).

O presidente dos EUA, Donald Trump, também reconheceu ter autorizado a CIA (agência de inteligência americana) a conduzir ações secretas na Venezuela, embora o alcance dessas operações permaneça altamente sigiloso.

Os EUA estão se preparando para atacar a Venezuela?

O aumento da presença militar americana gerou preocupações de que o país possa mirar diretamente a Venezuela ou tentar derrubar o governo socialista do presidente venezuelano, Nicolás Maduro.

"O nível das forças, e o fato de não estarem claramente voltadas para a simples interdição de drogas, levantou suspeitas de que os EUA podem estar caminhando para a guerra com a Venezuela", afirma Ziemer, do CSIS.

"Os riscos de escalada são significativos, mas acredito que, dentro da administração Trump, ainda há debate considerável sobre os próximos passos", acrescenta.

Questionado se os EUA iriam à guerra contra a Venezuela, Trump disse ao programa 60 minutes da CBS em 3 de novembro: "Duvido… Mas eles têm nos tratado muito mal".

No entanto, em 29/11, o presidente americano afirmou que o espaço aéreo acima e ao redor da Venezuela deveria ser considerado "totalmente fechado".

O governo venezuelano acusou os EUA de fomentar tensões na região com o objetivo de derrubar o governo. Em resposta, em novembro, declarou uma "mobilização massiva" de tropas, enviando 200 mil militares pelo país.

"No geral, acredito que a frequência de ataques a alvos no mar aumentará em breve, enquanto os EUA tentam decidir se podem atacar dentro da Venezuela", diz Ziemer.

Quantos ataques aéreos contra barcos já ocorreram?

Desde o início de setembro, as forças americanas realizaram pelo menos 21 ataques separados em águas internacionais do Caribe e do Pacífico Oriental, segundo o parceiro da BBC nos EUA, CBS News.

No total, ao menos 83 pessoas foram mortas, de acordo com declarações de autoridades americanas.

Embora os EUA não tenham identificado publicamente os mortos, alegam que todos eram "narcoterroristas".

Uma investigação da agência de notícias americana Associated Press apontou que vários venezuelanos mortos nos ataques eram traficantes de baixo escalão, empurrados pela pobreza para a vida do crime, além de pelo menos um chefe local do crime organizado.

Mapa mostra as localizações aproximadas dos ataques dos EUA contra supostos barcos de drogas no mar do Caribe e no oceano Pacífico. Círculos vermelhos tracejados indicam agrupamentos de ataques: 3 ao largo do México, no Pacífico; 3 perto da América Central, no Caribe; 6 a oeste da Colômbia; 8 próximos da Venezuela; e 1 perto da República Dominicana. *As localizações de outros cinco ataques são desconhecidas. Fonte: Armed Conflict Location & Event Data (dados até 15 de novembro)
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Localizações aproximadas dos ataques dos EUA contra supostos barcos de drogas no mar do Caribe e no oceano Pacífico

Por que os EUA estão realizando ataques?

Trump e membros de seu governo justificaram os ataques como necessários para conter o fluxo de narcóticos da América Latina para os EUA.

Em comunicado, o secretário de Defesa dos EUA, Pete Hegseth, disse que a campanha — oficialmente chamada de Operação Southern Spear (Lança do Sul, em tradução livre) — tem o objetivo de eliminar "narcoterroristas de nosso hemisfério" e proteger os EUA das "drogas que estão matando nosso povo".

Em alguns casos, autoridades americanas afirmaram que os alvos estavam ligados à Tren de Aragua, uma gangue venezuelana designada como organização terrorista estrangeira pelo governo Trump no início do ano.

No entanto, poucas informações sobre os alvos ou sobre a quais organizações de tráfico de drogas pertenciam foram oficialmente divulgadas pelo Pentágono.

O governo Trump insiste que os ataques são legais, os justificando como medida necessária de autodefesa voltada a salvar vidas americanas.

Mas alguns especialistas jurídicos afirmam que os ataques podem ser ilegais e violar o direito internacional ao atingirem civis sem garantir o devido processo aos suspeitos.

Reportagem adicional de Kumar Malhotra, Tom Edgington e Bernd Debusmann Jr. Gráficos de Leo Scutt-Richter.

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