Os produtos do Brasil que ainda estão sob tarifaço de Trump (e os que escaparam)
Mais de 62% das exportações do Brasil aos Estados Unidos ainda permanecem sob algum tipo de tarifa adicional.
Apesar da decisão do presidente americano, Donald Trump, de revogar a tarifa adicional de 40% para uma série de produtos brasileiros, mais de 62% das exportações do Brasil aos Estados Unidos ainda permanecem sob algum tipo de tarifa adicional.
Segundo cálculos da Confederação Nacional da Indústria (CNI) e da Amcham Brasil (Câmara Americana de Comércio para o Brasil), após a ordem executiva de Trump na quinta-feira (20/11), o percentual de exportações brasileiras ao mercado americano isentas de qualquer sobretaxa passou de 28% para 37%.
A CNI ressalta que esse montante representa US$ 15,7 bilhões. No entanto, de acordo com a entidade, 32,7% das exportações aos EUA (US$ 13,8 bilhões) permanecem com tarifa combinada de 50% (10% das chamadas tarifas recíprocas e 40% de tarifas adicionais específicas para o Brasil).
Além disso, outros 3,8% (US$ 1,6 bilhão) continuam com tarifa adicional de 40%, e 7% (US$ 2,9 bilhões) com a recíproca de 10%. A CNI afirma que esses cálculos consideram dados de 2024, com base em estatísticas da Comissão de Comércio Internacional dos EUA.
Já pelos cálculos do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), com base nos US$ 40,4 bilhões exportados do Brasil aos EUA no ano passado, US$ 8,9 bilhões seguem sujeitos à tarifa adicional de 40% e US$ 6,2 bilhões à taxa de 10%. Estão livres de sobretaxas US$ 14,3 bilhões.
Citando o cálculo do MDIC, o vice-presidente Geraldo Alckmin, que também comanda o ministério, disse em entrevista coletiva que "foi o maior avanço nas negociações Brasil-Estados Unidos".
"Quando começou, tínhamos 36% da exportação brasileira no tarifaço. Agora, temos 22%", disse Alckmin.
A ordem executiva de Trump removeu a tarifa adicional para a importação de 238 produtos do Brasil. Estão incluídos café, carne bovina, cacau, frutas, sucos, entre outros.
Alckmin considerou o anúncio um passo importante nas negociações.
No entanto, produtos manufaturados — como máquinas, equipamentos, móveis e calçados — não foram incluídos e continuam sujeitos à alíquota adicional de 40%.
Também continuam sujeitos à sobretaxa itens como pescados e mel.
Os produtos manufaturados, de maior valor agregado, têm grande relevância para a economia brasileira e, portanto, são um ponto importante nas negociações.
"O Brasil seguirá mantendo negociações com os EUA com vistas à retirada das tarifas adicionais sobre o restante da pauta de comércio bilateral", disse o governo brasileiro em nota após o anúncio de Trump.
Segundo o superintendente de Relações Internacionais da CNI, Frederico Lamego, "a notícia é um avanço".
"Sinaliza uma mudança muito grande em relação ao cenário no mês de julho [quando as tarifas adicionais de 40% sobre produtos brasileiros foram anunciadas]", diz Lamego à BBC News Brasil.
No entanto, Lamego salienta que, dos mais de 62% ainda sujeitos a alíquotas diferenciadas, "a maioria são produtos manufaturados".
Negociações
Na ordem de quinta-feira, Trump ressaltou que a decisão vale retroativamente para produtos que entraram nos EUA a partir de 13 de novembro.
Após o encontro, em breve conversa com jornalistas, Vieira manifestou expectativa de que fosse possível chegar a um acordo provisório até o final deste mês ou início de dezembro.
No dia seguinte (14/11), a Casa Branca anunciou a suspensão de parte das chamadas "tarifas recíprocas" de 10%, que foram aplicadas em abril, para uma série de produtos agroindustriais de vários países, entre eles o Brasil.
Entre os produtos brasileiros englobados por aquela medida estavam café, cortes de carne bovina, açaí, castanha-do-Pará, tapioca, mandioca e frutas como banana, laranja e coco. Mas o anúncio não tocava nas tarifas adicionais de 40% impostas ao Brasil.
Essa sobretaxa de 40% aos produtos brasileiros foi anunciada em julho e entrou em vigor em agosto, como resposta ao julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro, aliado ideológico de Trump.
Além da motivação política, o governo americano alegou na época déficit na relação comercial com o Brasil. No entanto, essa justificativa não é sustentada pelos dados oficiais, que mostram superávit para os EUA.
Dias depois do anúncio feito por Trump, a ordem executiva que confirmou a tarifa adicional sobre o Brasil isentou cerca de 700 produtos dessa sobretaxa.
O anúncio desta semana ampliou essa lista de exceções.
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Inflação e conversa com Lula
O anúncio de Trump nesta semana ocorre em um contexto de pressão interna, com alta de preços de diversos produtos para os consumidores americanos, entre eles café.
Os EUA são o maior consumidor de café do mundo, e um terço é importado do Brasil.
As eleições estaduais e municipais deste mês nos EUA, nas quais candidatos democratas saíram vencedores em diversas disputas, foram interpretadas por diversos especialistas como sinal do descontentamento dos consumidores americanos com a alta de preços.
Mas, em sua ordem executiva, Trump citou especificamente uma conversa com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
"Em 6 de outubro de 2025, participei de uma conversa telefônica com o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva, durante a qual concordamos em iniciar negociações para abordar as preocupações identificadas no Decreto Executivo 14323 [que aplicou as tarifas de 40%]. Essas negociações estão em andamento", diz o texto.
Algumas semanas depois desse contato, os dois líderes tiveram um encontro presencial na Malásia, durante a cúpula da Associação das Nações do Sudeste Asiático (Asean).
Há a expectativa de nova reunião presencial em algum momento. Lula já indicou que estaria disposto a viajar a Washington e disse que Trump está convidado a visitar o Brasil.
Quando conversou com jornalistas em Washington na semana passada, o chanceler brasileiro indicou que uma negociação mais ampla, envolvendo detalhes específicos de cada setor, "poderia durar dois ou três meses".
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