Como bolsonaristas reagiram à prisão de Bolsonaro: 'Preso por uma oração'
Agência BBC

Como bolsonaristas reagiram à prisão de Bolsonaro: 'Preso por uma oração'

Deputado Sóstenes Cavalcante compartilhou teoria envolvendo prisão do ex-presidente e Alexandre Moraes que foca em "coincidências" com o número 22.

Jair Bolsonaro após realizar exames médicos no hospital DF Star, em Brasília, em agosto
AFP via Getty Images
Jair Bolsonaro após realizar exames médicos no hospital DF Star, em Brasília, em agosto

Pouco após a confirmação da prisão preventiva de Jair Bolsonaro (PL) na manhã deste sábado (22/11), o deputado Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), líder do Partido Liberal na Câmara, afirmou nas redes sociais que o ex-presidente "sempre será inocente e não roubou ninguém".

"Podem fazer o que quiser, @jairbolsonaro sempre será INOCENTE e não roubou ninguém!!", escreveu no X, antigo Twitter.

Em outros tuítes publicados em seguida, repetiu a ideia compartilhada por muitos dos apoiadores de Bolsonaro, de que o ex-presidente é perseguido pela Justiça brasileira.

"Ele nunca roubou ninguém, diminuiu impostos pra todos os brasileiros e aumentou a arrecadação, entregou o comando do país, mesmo tento um presidente do TSE totalmente tendencioso; a prisão de @jairbolsonaro é a maior perseguição política da história do Brasil!", disse.

Cavalcante destacou ainda o que diz serem "coincidências de um psicopata", em provável referência ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, que em decisão revogou a prisão preventiva em regime domiciliar do ex-presidente.

Segundo o deputado, a "coincidência" envolveria a decretação da prisão no dia 22 de novembro e a aplicação prévia de uma multa de R$ 22 milhões ao PL pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), após a legenda acionar a Justiça e pedir a verificação das urnas usadas na eleição de 2022 sem apresentar indícios e provas de irregularidades.

Jair Bolsonaro concorreu à Presidência nas eleições passadas pelo PL, representado pelo número 22.

Sede da Polícia Federal em Brasília, para onde o ex-presidente Jair Bolsonaro foi transferido
Getty Images
Sede da Polícia Federal em Brasília, para onde o ex-presidente Jair Bolsonaro foi transferido

Além de Cavalcante, diversos outros políticos apoiadores de Bolsonaro e membros de seu partido também se posicionaram contra a sua prisão neste sábado.

Em nota divulgada em suas redes, o senador Rogério Marinho (PL-RN) afirmou que a decisão do STF "ultrapassa limites constitucionais e ameaça pilares essenciais do Estado de Direito".

"A prisão decretada tem caráter nitidamente punitivo, antecipando pena sem demonstração concreta de ato típico, ilícito ou doloso. Conceitos vagos como "risco democrático" e "abalo institucional" substituem exigências objetivas do artigo 312 do CPP, em contradição com a própria jurisprudência do STF", disse o bolsonarista, que também é lider da oposição no Senado.

A nova prisão preventiva foi decretada pelo STF a pedido da Polícia Federal, que apontou risco concreto de fuga. Segundo a decisão do Supremo, esse risco foi identificado após o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) convocar uma vigília em apoio ao pai nas proximidades da residência onde o ex-presidente cumpria prisão domiciliar.

O despacho relata que a convocação poderia gerar aglomerações capazes de dificultar a fiscalização policial e a aplicação de decisões judiciais. Para a Polícia Federal, a vigília poderia criar um ambiente favorável à tentativa de fuga e à obstrução do cumprimento da prisão domiciliar.

Além disso, ainda segundo a decisão, o sistema de monitoramento registrou, na madrugada deste sábado, uma ocorrência de violação da tornozeleira eletrônica usada por Bolsonaro, o que reforçou o entendimento de que havia risco iminente de evasão.

"A imparcialidade objetiva, fundamento do juiz natural, é comprometida por manifestações anteriores que indicam pré-julgamento. A presunção de inocência é invertida, e o processo passa a validar uma narrativa já estabelecida, não a esclarecer fatos", diz a nota de Marinho.

"Trata-se, na prática, da adoção de um Direito Penal do Inimigo, em que não se julga a conduta, mas a pessoa. Esse modelo corrói garantias fundamentais e ameaça todos os cidadãos, não apenas o investigado."

Do lado de fora da Superintendência da Polícia Federal no Distrito Federal, em Brasília, onde Bolsonaro deve permanecer em local de custódia especial, a deputada federal Bia Kicis (PL-DF) também questionou a decisão e disse que a tese de que haveria risco de fuga é "mentira".

"Como é que ele ia fazer alguma coisa, gente? O homem está com a saúde dele super debilitada. E outra: quando ele podia nem voltar para o Brasil, ele fez questão de voltar. [...] Antes mesmo dele ser condenado, ele falou que nunca ia sair do Brasil", disse a deputada a jornalistas.

"Ele escolheu ficar aqui e lutar pela justiça."

Em suas redes, Kicis disse ainda que Bolsonaro é inocente "e a sua prisão põe em risco a vida do maior líder da direita".

A deputada federal Bia Kicis (PL-DF) neste sábado
Reuters
A deputada federal Bia Kicis (PL-DF) neste sábado

O senador Marcos do Val (Podemos-ES), outro apoiador de Bolsonaro, classificou a prisão como revoltante.

"Jair Bolsonaro preso por causa de uma oração. Uma das maiores aberrações já vistas no Brasil, um ataque direto à liberdade. Estou com você, presidente", escreveu no X.

Jorge Seif (PL-SC) afirmou que Bolsonaro foi preso "sem crime, sem sentença e sem justificativa aceitável".

"O que estamos vendo hoje é um país onde a mão pesada do Estado cai sempre sobre o mesmo lado. Minha solidariedade ao presidente Bolsonaro e à sua família. O Congresso não pode assistir calado a esse tipo de abuso", escreveu o senador bolsonarista no X.

Bolsonaro foi condenado em setembro deste ano a 27 anos e três meses de prisão. Ele foi considerado pelo STF como líder de uma organização criminosa, com militares, policiais e aliados, que atuou para impedir a transição de poder após as eleições de 2022, vencidas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

O ex-presidente foi declarado culpado de cinco crimes: organização criminosa armada, tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado, dano qualificado pela violência e grave ameaça e deterioração de patrimônio tombado.

Além de Bolsonaro, os outros sete réus na ação penal também foram condenados: Alexandre Ramagem, Almir Garnier, Anderson Torres, Augusto Heleno, Mauro Cid, Paulo Sérgio Nogueira e Walter Braga Netto.

Alexandre de Moraes
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Alexandre de Moraes: segundo decisão do magistrado, sistema de monitoramento registrou uma ocorrência de violação da tornozeleira eletrônica usada por Bolsonaro

O vice-líder da oposição na Câmara, deputado Mauricio Marcon (Podemos-RS), repetiu a ideia de que Bolsonaro foi preso por conta de uma oração.

"Enquanto Lula foi preso por ROUBAR, Bolsonaro está preso por ORAR", disse no X.

"Primeiro ser humano na história a ser preso por causa de uma vigília! Quem trata Moraes como uma pessoas normal, é tão fora da órbita quanto ele", escreveu.

Já o deputado Gustavo Gayer (PL-GO) disse que determinar a prisão preventiva para garantia da ordem pública seria um "pretexto".

"Após uma mobilização para ORAR por Bolsonaro, o devorador tirano avançou", escreveu. Que ameaça à ordem pública há num ato de oração pela vida de um idoso com a saúde debilitada? Querem matar Bolsonaro com requintes de crueldade."

Evair de Melo (PP-ES), outro deputado apoiador do ex-presidente, afirmou ainda que as justificativas contidas na decisão do STF que autorizou a prisão são "conversa para boi dormir".

"Mesmo doente, fragilizado e cumprindo prisão domiciliar, Bolsonaro é alvo de mais uma ação de humilhação, de constrangimento, de intimidação, de crueldade! Justificar a prisão por causa de uma vigília? Conversa para 'boi dormir'", disse.

"Seguimos firmes, indignados e vigilantes. Estamos com você Bolsonaro! O Brasil da família, da liberdade, da pátria e de Deus, está com você!"

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