Lula diz ter ficado 'bestificado' quando soube do plano de assassiná-lo após vitória contra Bolsonaro
O presidente Lula disse à BBC News Brasil que ficou assustado com o chamado plano Punhal Verde Amarelo: 'Imaginei que a gente já tinha derrotado a ideia de golpe no Brasil'.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva ficou "bestificado" ao saber do plano de assassiná-lo após a vitória nas eleições de 2022, revelou em entrevista à BBC News Brasil nesta quarta-feira (17/9).
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Segundo as investigações sobre a trama golpista que já levou à condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro no Supremo Tribunal Federal (STF), um documento com o título de "Punhal Verde e Amarelo" apreendido em novembro de 2022 continha planos para matar autoridades como Lula, o vice-presidente Geraldo Alckmin e o ministro do STF Alexandre de Moraes.
"Eu fiquei um pouco bestificado porque o Brasil não tem essa cultura. O Brasil não tem essa cultura de assassinato, como você vê no México. De vez em quando você vê num país da América Central, você vê nos Estados Unidos, sabe?", disse Lula.
"Fiquei assustado porque eu imaginei que a gente já tinha derrotado a ideia de golpe no Brasil."
Segundo as investigações, o plano seria executado por militares de forças de elite do Exército brasileiro, conhecidos "kids pretos". Parte do plano chegou a ser impresso em uma impressora dentro do Palácio do Planalto, e dizia que Moraes seria morto com o uso de armas de fogo.
Lula, por sua vez, seria morto por envenenamento.
O general da reserva Mário Fernandes, número 2 da Secretaria-Geral da Presidência de Bolsonaro, chegou a confirmar que o documento é de sua autoria, mas que era apenas "pensamentos digitalizados" e que não teria mostrado a ninguém.
No julgamento de Bolsonaro no STF, o ministro Alexandre de Moraes colocou o plano como uma das provas incontestáveis para a condenação do ex-presidente e outros réus.
"Isso não foi impresso numa gruta, escondido numa sala de terroristas. Isso foi impresso na sede do governo brasileiro, no mesmo momento em que lá se encontrava o presidente Jair Messias Bolsonaro. O planejamento é tão bem detalhado que há chances de êxito, efeitos colaterais e (menções) à necessidade de utilização de armas pesadíssimas", disse Moraes.
No documento há, por exemplo, menções ao arsenal que seria utilizado na operação — que incluiria pistolas e armas comumente usados por policiais e militares, mas também armamentos de guerra mais pesados, como metralhadoras e lança-granadas.
Na entrevista desta quarta-feira, Lula ligou o plano diretamente a Bolsonaro.
"De repente, surge um cidadão que se acha no direito de desacreditar tudo o que é normal, de negar todas as instituições e achar que somente o que ele pensa que é verdadeiro."
"Fiquei imaginando como é a cabeça de um cidadão que, ao perder as eleições, arquitetou a morte do ganhador da eleição para não deixar ele tomar posse para dar um golpe de Estado", declarou Lula.
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