'Antiamericanismo'? Imagem dos EUA piorou para um a cada três brasileiros após tarifaço de Trump, diz pesquisa
A maioria dos brasileiros, 68%, concorda que o Brasil deveria priorizar acordos com outros parceiros comerciais, como a China e a União Europeia; apenas 5% estariam dispostos a cancelar viagem para os EUA por causa do tarifaço.
Diante do anúncio da imposição de tarifas sobre produtos nacionais pelo presidente americano Donald Trump, a imagem dos Estados Unidos piorou para apenas 38% dos brasileiros.
É o que aponta uma nova pesquisa realizada pela Ipsos-Ipec em todo o Brasil. Segundo o levantamento, antes do tarifaço, 48% diziam ter uma visão ótima ou boa do país.
É + que streaming. É arte, cultura e história.
Após as medidas protecionistas, pouco mais de um em cada três entrevistados afirmou que sua visão mudou para pior.
Porém, para 51% dos brasileiros, a imagem dos Estados Unidos permanece a mesma, enquanto 6% relatam uma melhora na percepção sobre o país comandado por Trump.
A pesquisa foi realizada entre 1 e 5 de agosto de 2025, antes das tarifas entrarem em vigor, em 6 de agosto. Foram entrevistados 2 mil brasileiros de 16 anos ou mais. A margem de erro é de 2 pontos percentuais para mais ou para menos.
- Esposa de Moraes pode ser alvo de sanções de Trump, diz Eduardo Bolsonaro ao FT
- Governo Trump volta a criticar Alexandre de Moraes, e Itamaraty reage: 'Ataque frontal à soberania'
- 'Lula vai colher benefícios por ser atacado por Trump, mas deve evitar briga maior', diz Economist
O levantamento também questionou os entrevistados sobre a natureza das medidas anunciadas por Trump. E para 75% dos brasileiros, o tarifaço é baseado em uma questão política.
Apenas 12% dos entrevistados percebem o aumento das tarifas como uma decisão de natureza puramente comercial, enquanto 5% disseram acreditar tratar-se tanto de questões comerciais, quanto políticas.
A imposição de tarifas de 50% sobre produtos brasileiros foi anunciada por Donald Trump em julho.
O presidente americano argumentou que a medida era uma retaliação ao processo que corre no Supremo Tribunal Federal (STF) contra seu aliado, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), por suposta tentativa de golpe.
A taxação veio após intensa campanha por sanções contra o Brasil liderada pelo deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que atualmente mora nos EUA.
Pouco antes das tarifas entrarem em vigor, o governo americano confirmou uma isenção para quase 700 produtos brasileiros. Mais de 3,8 mil itens, porém, passaram a ser taxados.
Visão como reflexo da polarização política
Quando o tema são as possíveis reações do Brasil ao tarifaço, a população brasileira está extremamente dividida, em um reflexo da polarização política registrada nas eleições de 2022.
A ideia de que "o Brasil deveria reavaliar sua parceria comercial e se distanciar dos Estados Unidos" divide a opinião pública: 47% discordam, enquanto 46% concordam.
Mas enquanto 61% dos brasileiros que votaram no presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas últimas eleições apoiam o distanciamento, 65% dos eleitores do ex-presidente Jair Bolsonaro são contrários.
A proposta de que o Brasil deveria responder na mesma moeda, aplicando tarifas altas sobre os produtos americanos, também gera divisão. Enquanto 61% dos eleitores de Lula apoiam a retaliação, 56% dos que dizem ter votado em Bolsonaro são contra a medida.
O ponto de maior convergência é a necessidade de diversificar as parcerias comerciais. A maioria dos brasileiros, 68%, concorda que o Brasil deveria priorizar acordos com outros parceiros comerciais, como a China e a União Europeia (UE).
"A pesquisa mostra a polarização nacional: as reações de distanciamento ou retaliação são um espelho quase perfeito da divisão política do segundo turno de 2022, indicando que a política externa se tornou mais um campo de batalha ideológico interno", afirma Márcia Cavallari, diretora de Ipsos-Ipec, em comunicado divulgado pelo levantamento.
Cancelar viagem e abandonar produtos?
A pesquisa Ipsos-Ipec também questionou os brasileiros sobre o que eles estariam dispostos a fazer caso o tarifaço prejudique a economia brasileira, e 39% disseram que aceitariam priorizar o consumo de produtos nacionais nessa situação.
Entre os entrevistados, 22% disseram que estariam dispostos a deixar de comprar produtos americanos e 9% afirmaram que apoiariam políticos brasileiros que defendam o distanciamento dos Estados Unidos, buscando acordos com outros países.
Mas apenas 5% citaram o cancelamento ou remanejamento de planos de viagem para os EUA como uma possibilidade.
Somente 3% dos brasileiros disseram estar dispostos a usar as redes sociais e espaços públicos para criticar a medida adotada por Donald Trump, enquanto 10% não estariam dispostos a tomar nenhuma medida.
- Apoio de Trump a Bolsonaro pode fazer americanos pagarem mais por hambúrguer, diz The Economist
- Brasil convoca chefe diplomático dos EUA em Brasília após ameaça da embaixada a aliados de Moraes
- A advertência da embaixada dos EUA a Moraes e seus aliados