Esposa de Moraes pode ser alvo de sanções de Trump, diz Eduardo Bolsonaro ao FT
Em entrevista a jornal britânico, deputado prevê novas medidas do governo americano contra aliados de ministro do STF e diz que quer levar campanha por sanções à Europa.
Em reportagem publicada na última segunda-feira (11/8), o jornal britânico Financial Times afirma que, segundo o deputado Eduardo Bolsonaro, os Estados Unidos devem intensificar a disputa com o Brasil sobre o destino do ex-presidente Jair Bolsonaro, aliado do presidente americano Donald Trump, "impondo novas sanções a magistrados que se recusarem a encerrar o julgamento por tentativa de golpe".
"Eu sei [que Trump] tem uma série de possibilidades na mesa, de sancionar mais autoridades brasileiras a uma nova onda de retirada de vistos ou questões tarifárias", disse Eduardo ao Financial Times em entrevista por vídeo.
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"Moraes esgotou todas as suas opções. Trump ainda não", disse Eduardo. "Acredito que pode haver uma resposta forte dos EUA, talvez sancionando a esposa de Alexandre de Moraes, que é o seu braço financeiro. Talvez uma nova onda de revogações de vistos de aliados de Moraes."
O FT conta que Eduardo lidera uma campanha de lobby em Washington para que os EUA adotem medidas contra a cúpula do Judiciário brasileiro, com o objetivo de evitar que seu pai seja condenado e preso. Ele se reuniu com autoridades do governo Trump e havia previsto corretamente, no início do ano, que Washington sancionaria o ministro Alexandre de Moraes, responsável pelo processo.
De acordo com a reportagem, a crise entre as duas maiores democracias das Américas é "a pior em dois séculos", após Trump elevar para 50% as tarifas sobre produtos brasileiros e o Departamento de Estado dos EUA proibir oito ministros do Supremo Tribunal Federal de viajar para os EUA.
As medidas, diz o FT, estão ligadas não só ao processo contra Bolsonaro, mas também à regulação das redes sociais americanas no Brasil e a disputas comerciais.
O jornal informa que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva reagiu chamando a pressão dos EUA de "inaceitável" e que o STF prometeu prosseguir com o julgamento. Bolsonaro é acusado de tentar permanecer no poder com apoio militar após perder as eleições de 2022 para Lula.
O FT lembra que Trump descreveu o julgamento como uma "caça às bruxas" e exigiu que o Brasil o interrompa imediatamente. Longe de recuar, Moraes "ordenou medidas mais duras contra Bolsonaro", incluindo prisão domiciliar e proibição de comunicação com o filho, sob acusação de que ambos buscaram intervenção dos EUA para obstruir o processo.
Segundo o FT, Moraes divide opiniões no Brasil — defensores o veem como guardião da democracia contra desinformação e ataques ao sistema eleitoral, enquanto críticos o acusam de ultrapassar seus poderes constitucionais e perseguir conservadores.
'Quero que Moraes também seja sancionado na Europa'
O Financial Times informa ainda que Eduardo Bolsonaro planeja viajar à Europa para seguir com a campanha por sanções contra o STF.
"Quero levar as sanções dos EUA ao conhecimento de parlamentares europeus para que Moraes também possa ser sancionado lá", afirmou.
"Por exemplo, o líder do Chega, que é agora o segundo maior partido de Portugal, André Ventura, disse que também quer impedir que Alexandre de Moraes possa entrar em Portugal e congelar os ativos que ele tiver ali, baseado em leis de direitos humanos."
Segundo o jornal, Eduardo "provavelmente será bem recebido por políticos europeus de extrema direita, embora estes estejam bem longe de ser maioria no Parlamento Europeu. O polonês Dominik Tarczyński e outros 15 eurodeputados escreveram no mês passado à alta representante da UE para Relações Exteriores, Kaja Kallas, instando-a a recomendar sanções específicas contra Moraes e seus aliados no Supremo Tribunal Federal do Brasil 'por suas flagrantes violações de direitos humanos'".
O jornal britânico acrescenta que adversários no Brasil acusam Eduardo Bolsonaro de antipatriotismo e que sua campanha provocou as tarifas que prejudicarão as exportações e levarão à perda de empregos.
Ele rejeitou as acusações e afirmou que suas ações são motivadas pelo desejo de "salvar a democracia". "Estou agindo para que as pessoas de esquerda possam me insultar e criticar", disse.
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