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Suicídio na adolescência: "É necessário dialogar com o filho", afirma psicólogo

O POVO Online entrevista um psicólogo para apontar as principais causas do suicídio matar mais jovens que o HIV em todo o mundo
20:15 | Set. 14, 2016
Autor Bruna Damasceno
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Bruna Damasceno Repórter no OPOVO
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Tipo Notícia

O suicídio cresce entre os jovens em todo o mundo. De acordo com dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), ele é a segunda maior causa de mortes em pessoas entre 15 e 29 anos, antecede acidentes de trânsito, seguido do HIV e violência. Ainda que complexo, ele pode e deve ser prevenido. É o que explica ao O POVO Online o psicólogo Leonardo Martins .


Leonardo aponta que o aumento alarmante do comportamento entre adolescentes, além de doenças psicológicas, pode ser atribuído a diminuição dos contatos sociais, e com mais intensidade a desestruturação dos núcleos familiares.

O profissional enfatiza a importância do diálogo como forma de prevenção. “Os pais podem perceber algo através do diálogo, não só através do comportamento. Embora a adolescência seja um período conturbado, algumas vezes é parte da fase, mas outras não. Para diferenciar, é necessário dialogar com o filho, saber como ele está na escola, o que se passa”.

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Ele alerta sobre a força que o bullying tem no Brasil, orientando os pais a serem participativos e acessíveis, já que muitos jovens pensam que não tem a quem recorrer, e o ensino público e privado, muitas vezes, não estão preparados para lidar com a situação.


Abordando a temática na infância, o profissional diz que é possível que uma criança pense em atentar contra a vida, mas que depende da idade, já que ela pode não ter noção exata da morte. “Algumas crianças podem achar que podem morrer e voltar, achar que a morte é abstrata. Vai depender do contexto cultural em que está inserido”.

Leonardo descreve as três fases do comportamento suicida: "a ideação, o planejamento e a execução". Desde o primeiro momento, é importante que a pessoa ou familiar procure ajuda. Ele aponta que a liberdade na internet, com diversos grupos de pessoas com esse perfil, ou até mesmo ideias de como passar para a terceira fase, de execução, é perigoso para quem se encontra em um momento de fragilidade.


O POVO Online encontrou nas redes sociais alguns desses grupos. Publicações de pessoas com comportamento suicida e fotos de automutilação mostram diversos comentários que transitam entre a reprovação e a tentativa frustrada de ajuda, baseada em motivos culturais e religiosos.

De acordo com Leonardo, alguém em uma situação de vulnerabilidade deve procurar imediatamente ajuda.

“O estigma é intenso. Tem a questão cultural e religiosa. As religiões abominam o sucídio e dizem que é pecado, e, na verdade, é uma questão de saúde mental, não religiosa. Tem que procurar ajuda, não poder ter medo de procurá-la. Busque ajuda especializada... As pessoas julgam demais. O suicídio é uma escolha quando a pessoa não ver outras escolhas”.

"A suicidalidade é transitória. A pessoa que tenta (o suicídio) tem um comportamento ambivalente, ela quer morrer, mas ao mesmo tempo não quer. Porque na verdade ela passa por um sofrimento intenso, físico ou psicológico, e quem pensa em atentar contra a vida quer sair do estado de dor. O comportamento suicida é um pedido de ajuda, é a pessoa dizendo: eu não consigo lidar com isso sozinho", explica Leonardo Martins.

Esta matéria faz parte de uma série do O POVO Online com o intuito de promover a conscientização, atravessando a barreira da desinformação sobre o tema. A proposta busca também apoiar a Campanha Setembro Amarelo, que objetiva tornar público as formas de prevenção do ato.

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