Entre dopamina e likes: o efeito do 'morango do amor' no comportamento

Fenômeno do "morango do amor" mostra como o cérebro responde a estímulos visuais e sociais. Psicóloga, nutricionista e consultora em gastronomia analisam o impacto dodesejo coletivo

10:00 | Jul. 26, 2025

Por: Carolina Passos
O 'morango do amor' é comercializado em confeitarias de Fortaleza (Foto: Aurelio Alves/O POVO) (foto: AURÉLIO ALVES)

Um doce simples - com morango, caramelo e brigadeiro - se tornou um fenômeno nacional. O “morango do amor” ganhou espaço nas redes sociais por sua aparência brilhante, pelo som da casquinha crocante e pela explosão de doçura.

Mas, além da combinação de texturas, o que explica esse desejo coletivo envolve o funcionamento do cérebro e a forma como as pessoas se relacionam com tendências e consumo.

Segundo a neuropsicóloga Elaine Cristina Sales, fenômenos como esse desencadeiam mecanismos automáticos de prazer e pertencimento. “Esses fenômenos viralizam porque ativam elementos-chave da cognição social: novidade, estética, desejo e pertencimento”, afirma.

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A estética chamativa, o brilho da cobertura e a lembrança da infância criam identificação imediata e impulsionam o desejo de consumir e compartilhar.

A exposição repetida a esse tipo de conteúdo intensifica a resposta do cérebro. “O cérebro ativa o sistema dopaminérgico, responsável pela motivação e busca de recompensas. O prazer começa na expectativa de consumir, mesmo antes da ação”, explica Elaine.

O excesso de estímulos visuais e sonoros, comum em vídeos curtos das redes sociais, também interfere no controle emocional. “O uso de sons envolventes e estímulos visuais intensos provoca uma superestimulação emocional, diminuindo a capacidade de autorregulação cognitiva”, pontua.

Do ponto de vista nutricional

Para o nutricionista Arthur Anadon, o “morango do amor” é um exemplo de como a combinação entre açúcar e gordura pode alterar o comportamento alimentar. “Isso pode levar a comportamentos alimentares mais impulsivos. O consumo excessivo faz com que as pessoas virem dependentes de prazer (busca excessiva por dopamina) e isso afeta nosso sistema de recompensa”, diz.

O contraste entre o aspecto chamativo e o sabor doce, segundo o nutricionista, provoca uma resposta sensorial completa: “O apelo visual ativa áreas relacionadas à motivação e prazer. A doçura do açúcar ativa os receptores gustativos, enviando sinais ao cérebro que liberam dopamina”.

Necessidade de pertencimento

Além da experiência sensorial, o comportamento de consumo também está relacionado à necessidade de pertencimento. “Compartilhar está ligado à identidade social e ao desejo de ser reconhecido e validado”, aponta a psicóloga Elaine Cristina Sales

O doce, nesse contexto, deixa de ser apenas alimento e se torna símbolo. “O alimento se torna um objeto de desejo simbólico. O sabor pode até nem corresponder à expectativa”, afirma.

Vanessa Santos, consultora de Gastronomia do Senac Ceará, explica que a tendência do “morango do amor” reflete um movimento mais amplo da gastronomia atual.

“O ‘morango do amor’ pegou carona nessa onda da chamada gastronomia afetiva, aquela que lembra infância, festa popular”, resume. Ela também destaca o poder da imagem para impulsionar vendas.

“A crosta brilhante de açúcar, o morango vermelhinho e o crunch na primeira mordida já garantem o sucesso no TikTok e no Instagram”.

Para quem trabalha com alimentação, identificar e acompanhar essas tendências pode ser estratégico. “São momentos muito rápidos. Dá para aproveitar criando versões diferentes, lançando combos e fazendo conteúdo visual. É claro que vai se sobressair quem tem técnica e garante um bom produto”, afirma Vanessa.

Mas nem todos conseguem participar. E isso também gera impacto. “Em pessoas com forte necessidade de aprovação, pode gerar angústia, sensação de inadequação e até baixa autoestima”, explica Elaine. A exclusão simbólica de uma experiência coletiva pode ser vivida como frustração ou rejeição.

A psicóloga alerta para os riscos do consumo por impulso e da busca por recompensas imediatas. “A exposição constante a estímulos de consumo gera risco de comportamentos impulsivos, baixa tolerância à frustração e recompensa imediata como padrão de escolha”.

No ritmo acelerado das redes, doces como o “morango do amor” revelam mais do que gostos pessoais: expõem os mecanismos de desejo, pertencimento e comportamento moldados pela era digital.

Conheça locais em Fortaleza que vendem o doce:

Tortelê

  • Quando: de segunda-feira a domingo, de 10h às 19 horas
  • Onde: Unidade Aldeota (Rua Vicente Leite, 1422); Meireles (Rua Costa Barros, 2000); Sul (Rua República da Armênia, 1170)
  • Quanto: R$ 14,95
  • Mais informações: @torteledoceria

Choko Brownie

  • Quando: de terça-feira a sábado, de 10h30min às 19 horas
  • Onde: Rua Crisanto Moreira da Rocha, 1600 (Lagoa Sapiranga)
  • Quanto: R$ 14
  • Mais informações: @chokobrownie

Dolce Divino

  • Quando: de segunda-feira a sábado, de 9h às 18 horas
  • Onde: Rua Castro Monte, 1087 - Varjota
  • Quanto: R$ 17,90
  • Mais informações: @dolce.divino