Machado de Assis e ativistas negros de direita: As mudanças no acervo da Fundação Palmares

Após excluir obras, presidente Sérgio Camargo anunciou nomes que farão parte do novo acervo

14:32 | Jul. 01, 2021

Sérgio Camargo é presidente da Fundação Cultural Palmares. Ele se envolve com frequência em polêmicas racistas e já disse que o movimento negro é uma "escória maldita" (foto: Reprodução/Twitter)

Após retirar obras do acervo da Fundação Cultural Palmares, alegando "dominação marxista" e sexualização infantil, Sérgio Camargo, presidente da instituição, afirmou que haverá um novo acervo "que abordará a cultura negra em sua riqueza, diversidade, valor e relevância”.

No início de junho, a gestão havia publicado o documento “Retrato do Acervo: A Doutrinação Marxista na Fundação Cultural Palmares 1988-2019”, que afirmava a existência de 9.565 obras em seu acervo, sendo, na visão dos responsáveis pelo relatório, 4.400 (46%) de “temática negra” e 5.165 (54%) de “temática alheia à negra”. 

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Os autores alvos da exclusão foram Karl Marx, Simone de Beauvoir, Lênin, Max Weber, Celso Furtado, Carlos Marighella e Marco Antônio Villa. “Todas as obras que corrompem a missão cultural da Palmares serão excluídas. Um livramento!”, disse Camargo na ocasião. Ele também anunciou um novo relatório, que será publicado em 20 dias. Segundo o presidente, conterá “conhecimento aberto e acessível a todos, sem guetos nem militâncias”.

O novo acervo contará com Carolina Maria de Jesus, autora do clássico “Quarto de Despejo”, de 1960, e Machado de Assis, que tem tido sua negritude reivindicada pela militância negra nos últimos anos. Gilberto Freyre, autor de “Casa-Grande e Senzala”, e o poeta abolicionista Luiz Gama e Cruz e Souza, considerado um dos fundadores do simbolismo brasileiro, também foram citados.

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Carmago também anunciou a inclusão de obras estrangeiras, como as do sociólogo e ativista americano W.E.B. Du Bois e da conservadora Candace Owens, que comanda o movimento Blexit, uma reação direitista ao Black Lives Matter.

As mudanças não agradaram a todos. O deputado Marcelo Freixo entrou com uma ação pedindo “a suspensão de exclusão de qualquer patrimônio da Fundação Cultural Palmares, especialmente os livros elencados no relatório e o retorno à fundação, caso já tenham sido excluídos”. A Coalizão Negra por Direitos, que reúne mais de 200 entidades, coletivos e organizações do movimento negro, também entrou com ação civil pública na Justiça Federal de São Paulo contra Sérgio Camargo para impedir a exclusão de obras do acervo da instituição.

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