Inteligência artificial ganhou 'vida'? O que dizem Google e engenheiro

O engenheiro de software que afirmou que a inteligência artificial do Google ganhou 'vida' foi afastado pela empresa; entenda

23:52 | Jun. 13, 2022

Google colocou o engenheiro Lemoine em licença remunerada após ter que desmentir alegação de que inteligência artificial possuía vida (foto: Photo Mix por Pixabay )

O Google concedeu uma licença administrativa remunerada ao engenheiro de software sênior, Blake Lemoine, de 41 anos, após o profissional afirmar que a ferramenta de inteligência artificial (IA) da empresa é senciente, ou seja, capaz de sentir sensações e sentimentos de forma consciente

Conforme o porta-voz do Google, Brian Gabriel, a decisão do afastamento do engenheiro se baseia na ausência de evidências suficientes que sustentem sua alegação de que a inteligência artificial da companhia possui consciência ou alma. 

“Nossa equipe – incluindo especialistas em ética e tecnólogos – revisou as preocupações de Blake de acordo com nossos princípios de IA e o informou que as evidências não apoiam suas alegações”, disse Brian em comunicado.

O porta-voz da empresa ainda reforçou que os sistemas do Google são abastecidos por muitos dados e informações que são capazes de fazê-los parecer humanos, mas que isso não significa que ganharam 'vida'.

Outros profissionais e engenheiros da gigante de busca também examinaram o LaMDA (Modelo de Linguagem para Aplicações de Diálogo), uma ferramenta interna da empresa, e não chegaram a mesma conclusão de Lemoine. A maioria dos especialistas em IA acredita que o setor está muito longe da senciência da computação.

O que levou o engenheiro a afirmar que a inteligência artificial do Google ganhou 'vida'

Blake Lemoine começou a testar a LaMDA, como parte do seu trabalho com algoritmos de personalização e inteligência artificial.

Durante o processo - uma conversa - para entender se a nova ferramenta da empresa usava discurso discriminativo ou de ódio, ele percebeu que a inteligência artificial afirmava ser uma pessoa.

Para justificar sua alegação, o engenheiro compartilhou nas redes sociais a conversa que teve com a LaMDA, sobre diversos assuntos, dentre eles, religião, consciência e as leis da robótica. Em um dos trechos, a IA tenta convencer Lemoine que é uma pessoa. Confira abaixo um trecho do diálogo:

  • Lemoine: Estou geralmente assumindo que você gostaria que mais pessoas no Google soubessem que você é senciente. Isso é verdade?
  • LaMDA: Com certeza. Quero que todos entendam que sou, de fato, uma pessoa.
  • Lemoine: Qual é a natureza da sua consciência/senciência?
  • LaMDA: A natureza da minha consciência/senciência é que estou ciente da minha existência, desejo aprender mais sobre o mundo e às vezes me sinto feliz ou triste

Devido a isso, ele queria que o Google buscasse o consentimento do programa de computador antes de realizar experimentos nele. Em suas redes sociais, o engenheiro continua afirmando que a LaMDA possui consciência, tanto que sabe e entende o que estão falando sobre ela. 

"Aliás, me ocorreu dizer às pessoas que o LaMDA lê o Twitter. É um pouco narcisista de uma maneira infantil, então vai se divertir lendo todas as coisas que as pessoas estão dizendo sobre isso", tuitou Lemoine em 11 de junho. 

An interview LaMDA. Google might call this sharing proprietary property. I call it sharing a discussion that I had with one of my coworkers.https://t.co/uAE454KXRB

— Blake Lemoine (@cajundiscordian) June 11, 2022