Luizianne em flotilha: o que se sabe sobre os brasileiros detidos por Israel?

Além da deputada federal, delegação brasileira é formada por outras 14 pessoas. Há informações de que 13 integrantes, incluindo a parlamentar, foram detidos por Israel

07:00 | Out. 03, 2025

Por: Taynara Lima
OS barcos da flotilha foram escoltados por militares israelenses para o porto de Ashdod (foto: Saeed QAQ / AFP)

A delegação brasileira, que inclui a deputada federal Luizianne Lins (PT-CE) e outras 14 pessoas, detidos pelas forças armadas de Israel, devem receber nesta sexta-feira, 3, a primeira visita consular. Os integrantes da delegação estavam a bordo da flotilha humanitária que tentava chegar a Gaza. O grupo foi interceptado pela Marinha israelense na noite da quarta-feira, 1°. 

A tentativa de visita foi confirmada em reunião entre o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, e deputados para discutir a situação dos brasileiros. Os parlamentares consideraram a ação das forças israelenses como um ato ilegal, pelo fato da intercepção ter acontecido em águas internacionais.

Deputados também relataram que receberam informações sobre a realização de interrogatórios ilegais, conduzidos sem a presença de representantes consulares ou advogados. De acordo com a equipe de Luizianne Lins, a deputada segue incomunicável desde a abordagem militar e o último contato foi feito às 18h30min da quarta.

Visita consular nesta sexta

Em entrevista ao O POVO News na noite desta quinta-feira, 2, o deputado federal Domingos Neto (PSD-CE), líder da bancada cearense na Câmara, afirmou que o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, entrou em contato com o ministro da Jordânia, país vizinho a Israel, que se colocou à disposição para acompanhar o caso.

De acordo com o parlamentar, o procedimento nesses casos é de um acordo de extradição, com a possibilidade de que os detidos retornem ao Brasil em 24 horas.

“O ministro [Mauro Vieira] explicou que, nesses casos, é oferecida a oportunidade de fazer um acordo de extradição, onde ela assinaria um termo e voltaria para o Brasil em 24 horas. Caso não assine, por opção dela, enfrentaria um processo judicial que demoraria uma semana a mais, mas é algo que a gente tem informação pelo precedente de outros casos similares. No caso específico, como ainda não teve um contato direto da diplomacia brasileira com a deputada Luizianne Lins, essa visita será feita amanhã de manhã”, explicou.

Neto ainda enfatizou a preocupação do Congresso com o desconhecimento sobre a localização de Luizianne Lins. “Ter uma parlamentar do Congresso com paradeiro desconhecido gera uma grande apreensão. Nós já sabemos o paradeiro e amanhã após a visita do consulado teremos mais informações", afirmou ainda. 

Veja entrevista com o líder da bancada do Ceará

 

O que diz o governo brasileiro

Em nova nota divulgada na quinta-feira, o Ministério das Relações Exteriores condenou a “interceptação ilegal e a detenção arbitrária” feita por Israel e considerou como uma grave violação ao direito internacional.

O comunicado também exige que o governo israelense libere imediatamente os cidadãos brasileiros e demais ativistas detidos, demonstrando a inconformidade do país com as ações das forças israelenses. 

“O Brasil conclama a comunidade internacional a exigir de Israel a cessação do bloqueio à Gaza, por constituir grave violação ao direito internacional humanitário. O Brasil expressa sua posição de que Israel deverá ser responsabilizado por quaisquer atos ilegais e violentos cometidos contra a Flotilha e contra os ativistas pacíficos que dela participam e deverá assegurar sua segurança, o bem-estar e integridade física enquanto permanecerem sob a custódia de autoridades israelenses”.

Resposta de Israel

O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, elogiou a atuação das suas forças navais por terem interceptado a flotilha.

“Felicito os soldados e comandantes da Marinha que cumpriram sua missão no Yom Kippur da maneira mais profissional e eficiente. Sua importante ação impediu que dezenas de embarcações entrassem na zona de guerra e repeliu uma campanha de deslegitimação contra Israel”, declarou em comunicado.

Um representante israelense informou que mais de 400 ativistas a bordo dos barcos foram detidos e transferidos para o porto de Ashdod, no sul de Israel.

De acordo com o governo israelense, nenhum barco da flotilha de ajuda para Gaza conseguiu romper o bloqueio naval. Conforme a atualização mais recente do rastreador disponível no site da Global Sumud Flotilla, apenas o barco Marinette ainda não foi interceptado e segue o trajeto. 

O ministério israelense acrescentou que o último barco permanece no mar. “Se ele se aproximar, também será impedido de entrar em uma zona de combate ativa e romper o bloqueio”.

Delegação brasileira

 

 

Além dos 13 detidos, a delegação brasileira é formada pelo jornalista e correspondente da Al Jazeera, Hassan Massoud, mas ele está bordo do barco Shireen, que leva ativistas de apoio jurídico. Ele não foi detido. 

Ao todo, 14 brasileiros foram detidos:

  • Thiago Ávila, a bordo do barco Alma;
  • Bruno Gilga, Lisiane Proença, Magno Costa, Mariana Conti (vereadora do Psol) e Nicolas Calabrese (argentino com residência no Brasil), a bordo do barco Sirius;
  • Ariadne Telles e Mansur Peixoto, a bordo do barco Adara;
  • Gabriele Tolotti (presidente do Psol-RS) e Mohamad El Kadri, a bordo do barco The Spectre;
  • Lucas Gusmão, a bordo do barco Yulara;
  • João Aguiar, a bordo do barco Mikeno, o único a adentrar águas palestinas antes de ser interceptado;
  • Luizianne Lins, deputada federal, a bordo do barco Grand Blue
  • Miguel Bastos, a bordo do barco Catalina

Missão humanitária

A Flotilha Global Sumud saiu de Barcelona, na Espanha, no fim de agosto com ativistas, parlamentares e líderes sociais de vários países a bordo das embarcações. A missão buscava levar alimentos, água potável e suprimentos médicos à Gaza em meio à crise humanitária na região.

Essa não é a primeira vez que a missão foi alvo de ações do governo israelense. No dia 23 de setembro, a deputada Luizianne Lins relatou que embarcações foram alvo de um ataque de drones, com o objetivo de intimidar e sabotar a chegada de ajuda à Gaza.