Como foi a relação de Lula com os presidentes dos EUA
Trump é o quarto presidente dos Estados Unidos com o qual Lula convive como chefe de Estado do Brasil
07:00 | Set. 26, 2025
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) discursou na manhã desta terça-feira, 23, na Organização das Nações Unidas (ONU) durante aproximadamente 15 minutos. Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, conversou com Lula nos bastidores e revelou, ao discursar a seguir, que um encontro deve ocorrer na próxima semana. Apesar das diferenças ideológicas e da relação conflituosa. Ele disse que os dois tiveram "excelente química".
Desde os primeiros mandatos (2003-2011), Lula conviveu com quatro presidentes dos Estados Unidos:
- George W. Bush (Partido Republicano) / Mandato: 2001-2005 / 2005-2009
- Barack Obama (Partido Democrata) / Mandato: 2009-2013 / 2013-2017
- Joe Biden (Partido Democrata) / Mandato: 2021-2025
- Donald Trump (Partido Republicano) / Mandato: 2025-2029
Relembre como foram as relações entre eles.
George W. Bush
Lula conheceu Bush na Casa Branca em 2002, pouco antes de tomar como presidente pela primeira vez.
Em entrevista no mês passado ao jornalista Reinaldo Azevedo, ele contou sobre sua relação com o governante republicano: "O Bush me convidou para ir à Casa Branca em 10 de dezembro de 2002. Eu já estava eleito presidente, mas não tinha tomado posse", recordou.
"Foi uma relação de muita sinceridade, mesmo naquilo que a gente discordava. É assim que dois chefes de Estado precisam se reunir", concluiu Lula.
Em 2005, Lula convidou Bush para um churrasco na Granja do Torto, em Brasília. O clima foi descontraído, com picanha e alcatra. Bush lamentou não poder conhecer outras belezas do país e elogiou.
"O Brasil é um exemplo para o continente, já que mostra que a justiça social leva à integração da comunidade e à fé de que a liberdade deve nos guiar".
A despeito de diferenças, foi o ocupante da Casa Branca com quem Lula se recorda de ter tido melhor relacionamento.
Barack Obama
Em 2009, antes de iniciar a reunião do G20 em Londres, Obama dispara numa roda de líderes mundiais:
"Esse é o cara! Eu adoro esse cara. Esse é o político mais popular da Terra, porque ele é boa pinta", disse apontando para Lula e apertando sua mão.
Lula entendeu o gesto de Obama como "gentileza" e "brincadeira", e revelou ser "torcedor" do chefe da Casa Branca:
"Rezo mais por Obama do que rezava por mim mesmo na época da campanha para a Presidência."
Obama relatou na autobiografia Uma Terra Prometida, lançada em 2020, que se surpreendeu com o chefe de Estado brasileiro:
"Lula realizou uma série de 'reformas pragmáticas' que desencadearam forte crescimento econômico no Brasil, porém tinha a reputação de 'ter os escrúpulos de um chefe de Tammany Hall' e que circulavam rumores sobre comissões, clientelismo e propina que somavam milhões", disse em referência ao grupo que comandou a política novaiorquina entre meados do século XIX e o começo do século XX, que surgiu com apoio de trabalhadores e veio a sofrer denúncias de corrupção.
Joe Biden
Joe Biden disse ter recebido um presente de Lula, quando ainda era presidente dos EUA. Um "banco de madeira" avaliado em US$ 1.170, dado em 10 de fevereiro de 2023, no mesmo dia que o governante brasileiro visitou a Casa Branca.
Porém, Biden não manteve o presente, pois “poderia causar constrangimento ao doador e ao governo dos Estados Unidos” e o item foi enviado para o Arquivo Nacional dos EUA (National Archives and Records Administration-NARA).
Aquele encontro teve como principal resultado a entrada dos Estados Unidos no Fundo Amazônia, embora o valor tenha desapontado as autoridades brasileiras — US$ 50 milhões.
Em setembro do mesmo ano, Lula, ao lado de Biden, anunciou a criação de “um novo marco de funcionamento na relação capital e trabalho”. Ele declarou enquanto mencionava aplicativos como os de entrega, que funcionam sem um vínculo formal de trabalho.
“Queremos criar, quem sabe, um novo marco de funcionamento na relação capital e trabalho. Uma relação do século XXI, civilizada"
“Em todos esses fóruns, pode estar certo que nós estaremos trabalhando e tentando criar condições para que todo governante do mundo aceite um protocolo como esse que estamos assinando aqui”, declarou Lula. A iniciativa se iniciou às margens da Assembleia Geral da ONU, em Nova York.
“Lutar contra a exploração, incluindo o trabalho forçado e o trabalho infantil, a economia informal, a discriminação no ambiente de trabalho, em particular contra mulheres e pessoas LGBTQI+, e a marginalização de grupos raciais e étnicos”, informaram Biden e Lula.
Donald Trump
A relação entre Lula e Trump, até agora, é de conflito. O presidente brasileiro fez críticas ao americano antes da eleição dos Estados Unidos no ano passado. Desde a chegada ao poder, o comandante da Casa Branca tem feito publicações nas redes sociais com críticas ao governo brasileiro.
Durante a tramitação do processo contra o ex-presidente Jair Bolsonaro, o governo americano alegou "censura" e "risco à liberdade de expressão", sancionando autoridades brasileiras, como o ministro do STF Alexandre de Moraes, e o próprio País, com tarifa de 50% sobre exportações.
Lula, à CNN, disse pretender manter a relação histórica entre os países. "Nós temos que ter uma relação muito civilizada, muito democrática, porque o Brasil tem uma relação privilegiada com os Estados Unidos, nós somos parceiros há muitas e muitas décadas".
Segundo Lula, mesmo que haja "divergências políticas" com o republicano, os interesses nacionais devem prevalecer, não os pessoais.
Durante a 80ª Assembleia Geral da ONU, o rápido encontro e a troca de gentilezas abriram novas possibilidades. "Eu o vi, ele me viu e nós nos abraçamos. Nós concordamos que nos encontraremos na semana que vem, se for do seu interesse", disse Trump, destacando que o brasileiro lhe pareceu "agradável".
Apesar de simpatizar com Lula e combinar conversa no futuro, Trump disparou que o Brasil irá "fracassar" sem os Estados Unidos: "O Brasil está indo mal, e só irá melhorar quando trabalhar em cooperação com os Estados Unidos. Sem nós, eles fracassarão, assim como outros fracassaram. Essa é a verdade. O Brasil enfrenta tarifas massivas em resposta por seus esforços sem precedentes para interferir nos direitos e liberdades dos nossos cidadãos norte-americanos e outros. Com censura, repressão, corrupção judicial e perseguição a críticos políticos nos Estados Unidos", afirmou o chefe da Casa Branca.