Federação entre União Brasil e Progressistas gera dilema no Ceará

Maior bancada do Congresso enfrenta disputas no Ceará entre grupos que divergem sobre oposição ou apoio ao governo Elmano e ao PT

12:18 | Set. 05, 2025

Por: Marcelo Bloc
Enquanto Roberto Cláudio irá se juntar à oposição pelo União Brasil, Zezinho e AJ Albuquerque não escondem o desejo de permanecer na base petista (foto: Fernanda Barros/O POVO / Reprodução: Redes sociais)

União Brasil (UB) e Progressistas (PP) se uniram na federação União Progressista, formando juntos a maior bancada do Congresso Nacional. Apesar da força política, a aliança nasceu cercada de divergências nacionais e locais. Em Brasília, há pressão pelo desembarque imediato de filiados do governo Lula (PT), enquanto uma parte defende a manutenção de cargos e espaços. No Ceará, a disputa se repete, com filiados divididos entre a oposição ao governador Elmano de Freitas (PT) e a permanência na base aliada.

No plano nacional, a orientação majoritária é de saída do governo Lula, com pressão para que dirigentes e aliados deixem cargos ocupados na gestão petista. A determinação, porém, encontra resistência no Ceará, onde líderes dos partidos que compõem a federação ocupam espaços estratégicos.

Pressão pela oposição

Cotado para presidir a União Progressista no Ceará, Capitão Wagner (UB) tem defendido que não haja concessões. Segundo ele, todos que integram a federação devem se afastar das administrações petistas. Os deputados estaduais Sargento Reginauro (UB) e Felipe Mota (UB), e o federal Danilo Forte (UB), seguem a mesma linha, reforçando o discurso de enfrentamento ao PT, visto como adversário direto do grupo nas eleições de 2026.

Defesa da permanência na base

Em paralelo, há quem deseje manter a aliança com o governo estadual. O próprio governador Elmano já afirmou que não há consenso entre os membros da União Progressista, tendo inclusive buscado maior aproximação com quadros antes considerados de oposição, como o deputado federal Moses Rodrigues (UB) e o pai dele, o prefeito de Sobral, Oscar Rodrigues (UB).

Na Capital, o vereador Márcio Martins (UB), secretário da Regional II — a mais rica de Fortaleza —, também não sinaliza intenção de romper com o governo do prefeito Evandro Leitão (PT). Defende, inclusive, que cada filiado tenha autonomia para decidir como se posicionar no plano local.

Na Região Metropolitana, o prefeito de Maracanaú, Roberto Pessoa (UB) segue super alinhado ao PT desde antes das eleições de outubro passado, quando se reelegeu tendo um vice do Partido dos Trabalhadores. A proximidade segue com aliados de Roberto nas Casas Legislativas, a filha Fernanda Pessoa (UB) na Câmara Federal e Firmo Camurça (UB) na Assembleia Legislativa.

No PP, a ligação com a gestão estadual é ainda mais clara. Ex-presidente da Assembleia, o deputado estadual licenciado Zezinho Albuquerque (PP) é hoje secretário das Cidades, enquanto o filho, o deputado federal AJ Albuquerque (PP), mantém proximidade com petistas e ministros do governo Lula, recentemente posando ao lado de Camilo Santana (PT) em publicação nas redes sociais.

Os deputados estaduais Almir Bié (PP) e João Jaime (PP) também já indicaram que pretendem permanecer na base. “Quem quiser ser oposição fica, quem quiser ficar na situação, fica também”, resumiu Jaime em entrevista à coluna Vertical.

Recentemente, outro gesto reforçou a aproximação: a nomeação de Aline Albuquerque (Republicanos), ex-prefeita de Massapê e filha de Zezinho, para o conselho da Agência Reguladora do Estado do Ceará (Arce). O movimento foi visto como um recado de Elmano de que pretende manter influência sobre a base do progressistas.

Um dilema que reflete o nacional

A indefinição no Ceará ilustra o desafio para a fedeação União Progressista em todo o País: conciliar a pressão nacional por rompimento com o PT e os interesses locais de preservação de espaços políticos. A convivência entre esses dois polos deve ditar os rumos da federação até as eleições de 2026.