Ouça na íntegra os áudios do celular de Bolsonaro apreendidos pela PF
Nas conversas, pastor Silas Malafaia orienta Bolsonaro a não confrontar Moraes, a ser seletivo com entrevistas e a usar anistia como moeda de negociação
16:04 | Ago. 21, 2025
A Polícia Federal (PF) e o Supremo Tribunal Federal (STF) divulgaram áudios de conversas entre o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e o pastor Silas Malafaia. Os registros foram extraídos do celular de Bolsonaro e se referem a diálogos travados após o anúncio do então presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre o tarifaço a produtos brasileiros.
Malafaia foi alvo de operação da PF na quarta-feira, 20. Escute abaixo os trechos divulgados no inquérito.
Trechos das conversas
No início, Bolsonaro afirma a Malafaia que não enviou ninguém para negociar com Trump e avalia que o presidente norte-americano não cederia. Em seguida, reclama de “fofocas” que, segundo ele, tentavam afastá-lo de seus próprios filhos.
Malafaia elogia a entrevista do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) à CNN Brasil, na qual criticou a taxação imposta pelos EUA. O pastor sustenta que as sanções adotadas por Trump em outros países têm motivação econômica, mas que, no caso do Brasil, miram diretamente o ex-presidente.
Ele diz que Bolsonaro está “com a faca e o queijo na mão”, e deve cobrar a discussão sobre uma anistia. Na sequência, critica os discursos de Eduardo Bolsonaro (PL-SP) nos Estados Unidos e revela ter enviado um áudio ameaçando o deputado.
Bolsonaro responde que tem dialogado com aliados e defende que, se a votação sobre anistia não for iniciada, não haverá negociação sobre o “tarifaço”. O ex-presidente afirma não poder expor publicamente essa posição, mas relata manter conversas de bastidores.
Malafaia, por sua vez, sugere que Bolsonaro critique as medidas de Trump, mas de forma a “tirar de Lula” qualquer protagonismo, afirmando que as tarifas não têm relação com a economia, e sim com a anistia aos envolvidos nos atos de 8 de janeiro. Ele aconselha ainda que o ex-presidente evite confrontar o ministro Alexandre de Moraes, do STF.
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O pastor também recomenda que Bolsonaro seja seletivo na escolha de veículos e momentos para conceder entrevistas, e menciona a ida do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) à embaixada para conversar com o ministro Gilmar Mendes. Defende que Bolsonaro possa apoiar Tarcísio, mas discorda de que ele critique Eduardo publicamente.
Malafaia também sugere que o ex-presidente grave um vídeo para mobilizar sua base. Bolsonaro, no entanto, reclama de crises constantes de soluços — “a cada três segundos”, segundo ele — e diz que isso o impossibilitava de gravar.
Em outro momento, Malafaia critica o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, por não ter resolvido “o problema de Fábio”, em referência provável a Fabio Wajngarten, ex-chefe da Secretaria de Comunicação da Presidência. Ele acusa Valdemar de não cumprir a promessa de dar um cargo ao aliado e elogia a lealdade de Fábio, pedindo que Bolsonaro intervenha.
Os materiais incluem ainda mensagens de voz em que Bolsonaro pede sugestões ao advogado de Trump, Martin de Luca, e orienta um deputado a realizar uma chamada de vídeo durante manifestações de apoio a ele, observando que, se falasse “qualquer coisa”, poderia ter problemas.
A Polícia Federal identificou que Jair Bolsonaro pediu a um deputado da Bahia uma ligação de vídeo durante ato em Salvador, em 3 de agosto. Para a PF, ele tentou burlar medida cautelar que o impede de usar redes sociais, reforçando um possível "modus operandi" com terceiros.