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Doação política é moeda de troca 'vantajosa', diz Pessoa

08:35 | 08/11/2015
A delação premiada do dono da UTC Engenharia, Ricardo Pessoa, reforçou a convicção dos investigadores da Operação Lava Jato de que doações a candidatos e partidos são vias de influência do poder público em troca de benesses.

"As doações políticas são feitas para que se obtenha uma vantagem, seja ele devida ou indevida, seja para que partido for", declarou Pessoa em trecho inédito de delação obtido pelo Estado.

Pessoa disse que a UTC doou nas eleições de 2014 o total de R$ 54 milhões em repasses oficiais a candidatos e partidos. "Esse valor doado em 2014 foi atípico, o maior de todos, visto que a UTC costumava fazer doações políticas na ordem de R$ 20 milhões", contou o empreiteiro, em depoimento à força-tarefa da Lava Jato.

Apontado pelo Ministério Público Federal e pela Polícia Federal como o presidente do "clube vip" das empreiteiras que se apossaram de contratos bilionários da Petrobras entre 2004 e 2014 e acusado na Lava Jato, Pessoa revelou que o "incremento no valor deveu-se a uma estratégia da UTC de ampliar a sua área de relacionamento, visando o aumento de volume de negócios da empresa".

No caso das doações feitas para candidatos a deputado e senador, "o interesse da UTC é acompanhar e influenciar a agenda legislativa". "As doações políticas propiciam maior acesso aos tomadores de decisões, facilitando acesso mais rápido aos seus objetivos e interesses de uma maneira mais eficaz e célere."

Apartidarismo

Como exemplo de que as doações servem a interesses econômicos e não políticos ou partidários, o dono da UTC citou as contribuições feitas em 2010 ao então candidato do PDT Paulinho da Força (atualmente no Solidariedade), por sua atuação sindical nas obras da Usina Hidrelétrica São Manoel, bem como as doações para o ex-deputado Valdemar Costa Neto (PR-SP) - condenado no mensalão - por sua "grande relevância" no Ministério dos Transportes.

'Abertura de portas'.

A força-tarefa da Lava Jato quis saber qual a relação existente entre o aumento de doações e os novos negócios. O delator declarou que "o relacionamento com autoridades eleitas propicia a abertura de portas para que você tenha legitimidade para propor e discutir oportunidade de negócios". "Nunca foi pedido nada em troca, mas as doações abriram portas de acesso e colocavam a UTC em uma composição de destaque." Segundo ele, "os candidatos, em geral, sabiam que em futuras eleições o apoio do declarante seria importante e isso fazia com que ele tivesse uma forma de poder".

O dono da UTC Engenharia foi preso em novembro do ano passado, durante a fase Juízo Final da Lava Jato, que derrubou o braço empresarial do esquema de corrupção, propinas e desvios na Petrobras. O delator foi para regime domiciliar em abril deste ano por decisão do ministro-relator do caso no Supremo Tribunal Federal, Teori Zavascki, após julgamento de um habeas corpus de Pessoa. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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