Município de SP volta às urnas em clima de tensão
A Justiça Eleitoral já havia proibido comícios, passeatas e aglomerações públicas na última semana da campanha para evitar conflitos como o que resultou, na eleição de outubro passado, na morte de Tiago da Silva Pedroso, o "Mixirica". Ele foi espancado até desfalecer durante um comício. Já desmaiado, recebeu um golpe fatal com uma lajota lançada sobre sua cabeça. Dias antes, durante outro comício, Marisa Nunes de Almeida foi agredida com facadas, mas sobreviveu.
Neste domingo, as ruas da cidade amanheceram cobertas por santinhos e panfletos anônimos em que os dois lados políticos se acusam mutuamente. Até o meio-dia, o delegado Fabiano Rueda tinha recebido quatro denúncias de compras de votos e fraudes eleitorais. Ninguém tinha sido preso.
"A política aqui é muito suja e, quando um não ganha no voto, quer levar na marra", disse o aposentado Jorge Benedito da Cruz, de 69 anos. A estudante Viviane Victor Pereira, de 18 anos, evita demonstrar a preferência eleitoral com medo de retaliação. "Se o outro lado sabe que você vota contra, começa a te olhar torto." O aposentado Roque Nunes, de 85, conta que sempre foi assim. "Antes de ser Coronel Macedo, a cidade se chamava Revolta. O nome diz tudo." Segundo ele, no século passado, algumas eleições terminaram em tiroteio.
Os dois candidatos fizeram um acordo com a Justiça Eleitoral suspendendo as carreatas para evitar conflitos entre os eleitores. O candidato do PMDB, Helinton Veiga, tinha concorrido a vice na eleição de outubro e voltou na cabeça da chapa porque o candidato a prefeito Vilson Leonel desistiu da candidatura. Ele diz que sua família tem tradição na política local. "Meu pai foi prefeito três vezes. Meu irmão foi candidato e perdeu para o lado de lá." O próprio Veiga foi vereador, assumiu a presidência da Câmara e se tornou prefeito interino antes de se lançar candidato. "Quero fazer uma gestão séria e honesta, que é o que falta aqui", disse. Segundo Veiga, a cidade ficou marcada pelos crimes políticos, como o assassinato do vereador Rivelino de Oliveira (DEM).
O candidato do PSDB, Edivaldo Neres, disse que seu grupo procurou manter a disputa em alto nível. Ele é apoiado pelo ex-prefeito José Carlos Tonon (PDT) que se reelegeu em outubro, mas não pode assumir o segundo mandato por estar incurso na lei da ficha limpa. "Tive 54,3% dos votos válidos e espero transferir essa votação para o Neres", dizia, antes de iniciar a apuração. Tonon foi candidato derrotado a prefeito em 96. Quatro anos depois, ganhou a eleição, mas não pode assumir, pois pendia contra ele acusação de compra de votos na eleição anterior. Em 2004, seu irmão Antonio Batista Tonon (PR) assumiu a prefeitura, mas acabou cassado, sob a acusação de ter mandado matar o vereador Rivelino, em outubro de 2007.
Antonio Tonon já havia sido preso em flagrante anteriormente quando tentava subornar um vereador para votar em sua mulher, Maria Aparecida Tonon (PL) para a presidência da Câmara. Com a prisão decretada após a morte do vereador, Antonio Tonon tornou-se foragido, mas acabou morrendo em circunstâncias obscuras, semanas depois, numa praia de Guaratuba, litoral do Paraná. Na época, adversários políticos disseram que ele continuava vivo e exigiram a exumação do corpo. "Fizemos a exumação e, através de exames de DNA, constatamos que o corpo era dele", disse o delegado Rueda. Dois outros acusados do crime, inclusive um ex-vereador, continuam presos.