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As eleições vão muito além de Russomanno, diz analista

16:15 | 02/10/2012
Nesta reta final de primeiro turno, o doutor em ciência política pela USP, professor e pesquisador do Insper Humberto Dantas afirma que muitos eleitores e analistas podem estar questionando e buscando as razões que levaram o candidato do PRB, Celso Russomanno, de um partido pequeno, com pouco espaço no horário eleitoral, associado a uma emissora de TV e a um segmento religioso, a liderar as pesquisas de intenção de votos. "Em termos históricos, o que seria capaz de se assemelhar a isso? Collor ou Francisco Rossi? Seria a repaginação de fenômenos conservadores como Jânio, Maluf, Pitta e Kassab? Ou o fortalecimento de uma lógica que transforma o cidadão em mero consumidor com base na ascensão da classe C dos anos Lula? (O candidato do PRB, Celso) Russomanno tomou conta dos debates, sob a forma de ponto de interrogação, tão fortemente quanto se manteve no topo das pesquisas", avalia.

A despeito de todas as justificativas e explicações, Humberto Dantas ressalta que enquanto o nome de Russomanno circula o País, é preciso lembrar que haverá eleição em mais de 5.567 cidades brasileiras, num universo superior a 450 mil candidatos, e, portanto, os outros atores deste tabuleiro eleitoral também precisam ser analisados. "O que podemos apreender, ao menos em grandes capitais, daquilo que está além do voo de Russomanno? Primeiramente devemos prestar atenção à força dos fenômenos televisivos. A atual prefeita de Natal, Micarla de Sousa (PV), também apostou na TV, no SBT - cuja família controlava - em 2008, e hoje tem mais de 90% de rejeição. O eleitorado local ameaça ressuscitar o ex-prefeito Carlos Eduardo (PDT), líder nas atuais pesquisas e também o mais rejeitado entre os eleitores natalenses", ressalta.

O chamado fenômeno eleitoral advindo da TV, afirma o doutor em ciência política, também está se mostrando decisivo no pleito deste ano em Curitiba. "Amparado na popularidade do pai (apresentador do SBT), Ratinho Jr. lidera as pesquisas pelo PSC, ameaçando a reeleição de Luciano Ducci, em aliança marcada pela aproximação entre o PSB e o governo estadual tucano, de quem herdou o poder em 2010." E complementa: "Tal associação nos remete a Belo Horizonte, onde o prefeito Marcio Lacerda (PSB) lidera as pesquisas, também associado a um governador tucano. Seu principal adversário é o PT, que rompeu aliança histórica com o PSB e lançou Patrus Ananias - ex-prefeito e ex-ministro de Lula."

No que diz respeito às ligações históricas entre socialistas e trabalhadores, Dantas diz que outra quebra foi verificada em Recife, onde o PT mostrou dificuldade em escolher um candidato que agradasse ao popular governador Eduardo Campos (PSB), "que ao abençoar Geraldo Julio viu seu afilhado escalar as pesquisas como poucos foram capazes de fazer: foi de 14% a 34%, em menos de um mês, no início das disputas". Em Recife, Humberto Costa (PT), o escolhido por Lula, ameaça cair para o terceiro lugar nas urnas, ultrapassado pelo candidato do PSDB, Daniel Coelho.

Ao falar das eleições no Nordeste, o cientista político diz que, ao contrário do que ocorre em Recife, o PT sobe em Salvador e em Fortaleza. "Ambas cidades têm algo em comum: o DEM iniciou a campanha liderando e agora sofre. Na Bahia, com ACM Neto ultrapassado por Nelson Pelegrino e, em Fortaleza, com Moroni Torgan cedendo espaço para Elmano de Freitas. Mais à esquerda no espectro ideológico, o PSOL liderava com folga a corrida em Belém com o ex-prefeito petista Edimilson Rodrigues, alcançado pelo PSDB. Em Manaus, o tucano Artur Virgílio que liderava a corrida, aparece nesta reta final de primeiro turno empatado tecnicamente com a adversária do PC do B, Vanessa Grazziotin, apoiada pelo ex-presidente Lula."

Na análise do pleito em Porto Alegre, Dantas diz que ao contrário da correligionária de Manaus, a comunista Manuela D'Ávila perde terreno neste momento estratégico da disputa, onde o prefeito José Fortunati (PDT) pode ser reeleito no primeiro turno. "O fenômeno da recondução em primeiro turno atinge também o Rio de Janeiro, com a esperada vitória de Eduardo Paes (PMDB) e o atual mandatário de Goiás, Paulo Garcia (PT), que luta contra a descrença de uma sociedade abalada pelos recentes escândalos que envolvem Carlinhos Cachoeira e tiraram de circulação o então líder das pesquisas Demóstenes Torres." Diante de tais cenários, o professor e pesquisador do Insper reitera: "O que explicaria a liderança de Russomanno em São Paulo? É preciso ver que o Brasil vai muito além disso."

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