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Opinião: Kremlin está de mãos atadas na Venezuela

15:06 | 10/08/2017
Destino do regime venezuelano preocupa Rússia, que mira petróleo do país sul-americano. Mas não há muito que Moscou possa fazer, opina o jornalista russo Konstantin von Eggert."Governos socialistas costumam fazer uma bagunça financeira. Eles sempre acabam pondo fim ao dinheiro dos outros." Essa citação de Margaret Thatcher é a que melhor descreve o que aconteceu na Venezuela sob o domínio do falecido Hugo Chávez e de seu sucessor, Nicolás Maduro. O chamado "socialismo bolivariano" faz água por todos os lados sob a pressão do crescente número daqueles que estão cansados da inflação galopante, da falta de alimentos e da violência desenfreada dos órgãos de perseguição judicial. Restam duas opções ao regime Maduro: ou renúncia imediata (o que é improvável) ou virar ditadura plena para depois entrar em colapso (o que é mais provável). O fantasma de uma "Maidan latino-americana" (em alusão aos protestos antigovernamentais na Ucrânia em 2013) deixa nervosas as autoridades russas, que temem qualquer movimento popular contra o autoritarismo – não importa em que país do mundo. Mas a Venezuela é um caso especial. Por mais de 15 anos, Moscou esteve do lado de Chávez e de seu sucessor. E não só para apoiar um inimigo dos EUA, um motivo que sempre move a Rússia. Há ainda outra razão: depois da empresa americana ExxonMobil, a estatal venezuelana de petróleo PDVSA é a segunda maior parceira estrangeira da companhia petrolífera russa Rosneft, que tem grandes planos para o país com as maiores reservas mundiais conhecidas de petróleo e nele desfruta de privilégios. A Venezuela é a nação onde o presidente da Rosneft, Igor Sechin, quer provar o que a empresa controlada por ele e pelo Kremlin é capaz de realizar fora da Rússia. Essa é a única razão pela qual os russos ajudam os chavistas. Faz um mês, o presidente russo, Vladimir Putin, falou com Maduro ao telefone. De acordo com a versão oficial, eles discutiram projetos energéticos comuns, mas o mais provável é que Maduro tenha pedido a Putin para reestruturar dívidas estatais venezuelanas no valor de 1 bilhão de dólares com Moscou. Talvez elas venham até a ser perdoadas por completo. Além disso, a Rússia é um dos poucos países que apoiam a tentativa de Maduro de reescrever a Constituição e tirar a autoridade do Parlamento. Sanções americanas foram impostas tanto a Maduro quanto ao Kremlin. Por isso, percebe-se em Moscou uma solidariedade especialmente forte com o regime de Maduro. As lideranças russas gostariam de fazer mais do que apenas reestruturar dívidas e expressar palavras vãs de apoio. Moscou não pode oferecer ajuda militar ao governo venezuelano, que também não precisa dela, pois não é necessário pressionar o governante venezuelano para agir com violência contra a oposição, como no caso da Ucrânia de Viktor Yanukovytch. Há muito que Maduro está disposto a prender e matar oposicionistas. Só resta ao Kremlin esperar o fim do drama venezuelano e especular se o presidente americano, Donald Trump, vai impor um embargo ao petróleo da Venezuela. Isso provavelmente levaria a uma rápida queda do regime Maduro, mas também atingiria os consumidores desse petróleo nos EUA. Como a crise na Venezuela vai acabar a longo prazo já está claro: o regime Maduro vai deixar o poder. A pergunta é quando e quantas vidas isso ainda vai custar. Em seguida, uma liderança pró-ocidental mudará radicalmente a política da Venezuela em relação à Rússia. Ela revogará o reconhecimento diplomático de regiões separatistas como Abkházia e Ossétia do Sul, com o qual Hugo Chávez prestou, na época, um grande serviço a Vladimir Putin. E não menos importante: a posição de Rosneft também será afetada. A empresa pode até mesmo ser expulsa do país. Uma parceira da companhia petrolífera russa pode sair ganhando com a chegada da oposição ao poder na Venezuela: a ExxonMobil. No passado, Chávez botou a empresa americana para fora do país. Um retorno da ExxonMobil seria um final brilhante e irônico da inglória aventura venezuelana das lideranças russas. No longo prazo, apostar numa ditadura prejudica a reputação e os negócios. Mas essa lição nunca vai ser aprendida pelo Kremlin. Konstantin von Eggert é jornalista russo e apresentador no canal de TV Dozhd. Ele assina uma coluna semanal no site da redação russa da DW. Autor: Konstantin von Eggert (ca)
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