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"Galaxy-gate" arranha imagem da Samsung

14:40 | 11/10/2016

Escândalo dos aparelhos que pegam fogo abre espaço para mudanças no mercado de celulares, mas é improvável que cause impacto significativo nas contas da companhia, responsável por um quinto do PIB da Coreia do Sul.Ninguém quer enfiar no bolso ou carregar na tomada um smartphone que pega fogo de repente. E não é lisonjeiro para a reputação de nenhuma marca quando o usuário literalmente queima os dedos ao manusear seus produtos. Notícias como essa são uma verdadeira catástrofe para uma empresa.



Por isso, a sul-coreana Samsung jogou a toalha: constatado o problema com a bateria de seu Galaxy Note 7, ela primeiro ofereceu aos compradores um novo aparelho, grátis. Depois que esse provou ser igualmente defeituoso, ela suspendeu a produção e a venda do smartphone em todo o mundo.

 

 

Tal procedimento é típico do antigo "tigre asiático" Coreia do Sul, explica Alexander Hirschle, que trabalha na capital Seul para a GTAI, a agência de comércio externo do governo alemão. "Os coreanos são conhecidos por agir rápido e providenciar uma solução, assim que reconhecem um problema."



O Galaxy Note 7 era a resposta asiática à líder de mercado Apple, cujos aparelhos são considerados símbolo de status num setor altamente competitivo. Agora a firma californiana recupera a vantagem na "classe A" dos smartphones: suas ações alcançaram a cotação mais alta desde dezembro de 2015, enquanto as da Samsung estão despencando.



No outro extremo da escala, dos celulares econômicos, as concorrentes chinesas esfregam as mãos: Lenovo, Xiaomi e Huawei acalentam agora a justificada esperança de abocanhar para si uma parcela do mercado da Samsung. Além disso, essas marcas agora já oferecem aparelhos mais sofisticados, aptos a transformar numa competição mais ampla a briga Apple versus Samsung.



Faturamento: 20% do PIB nacional
Em apenas algumas décadas, a Samsung evoluiu de pequena loja de alimentos a maior multinacional de eletrônica do mundo. Até 2008, quando um escândalo o forçou a renunciar, o filho do fundador do negócio familiar Lee Kun-Hee era o presidente. Desde então, o conglomerado Samsung é dirigido pelos chefes das diferentes empresas que o compõem.

 

 

Hoje, ele fabrica e vende navios e arranha-céus, televisores e celulares, moda e produtos farmacêuticos, e muito mais. Mais de 80 firmas operam sob seu nome, com um total de quase meio milhão de funcionários e um faturamento anual superior a 300 bilhões de dólares.



"O faturamento do conglomerado equivale a mais ou menos 20% do Produto Interno Bruto do país", afirma Alexander Hirschle, da GTAI. "Ela é, com segurança, um dos pilares da economia sul-coreana."



Perda suportável
A ascensão da Samsung e da Coreia do Sul transcorreram paralelas, desde o princípio da industrialização do país, na década de 1970. Com apoio estatal, a companhia se desenvolveu de forma excelente, assim como a Hyundai, LG e outras.



"Desse modo, o progresso da Samsung pode ser visto como um sismógrafo da economia coreana como um todo", compara Hirschle. Por outro lado, afirma, também cabe "não subestimar o significado psicológico da Samsung para a sociedade coreana".



Pelo menos no médio prazo, os danos econômicos do Galaxy Note 7 para a multinacional deverão ser suportáveis. No começo da ação de recall, analistas do mercado calcularam os custos em 1 bilhão de dólares. Ao mesmo tempo, porém, a Samsung se desfez de suas participações em algumas empresas de tecnologia, angariando cerca de 880 milhões de dólares.



A suspensão das vendas deverá custar mais alguns bilhões. O que não deverá ser um prejuízo dramático, considerando-se os mais de 160 bilhões de dólares que só a Samsung Electronic fatura por ano. Ainda é impossível prever, porém, as perdas em termos de fatias do mercado global.

 

 

A importância de ser pioneira
Inevitavelmente, o caso "Galaxy gate" é tema de debate na Coreia do Sul. No entanto, as baterias defeituosas não constituem um problema fundamental para a Samsung nem para o país: outras crises ocupam a economia coreana muito mais, afirma Hirschle.



"A indústria construção naval, por exemplo, assinala quedas de 90% nas encomendas. Números como esses são bem mais preocupantes", lembra.



O escândalo é, obviamente, um problema, porém o especialista alemão em comércio externo vê os desafios para a companhia num contexto mais amplo:



"Para a Samsung, assim como a economia como um todo, será decisivo conseguir dar um salto qualitativo: de fast follower [seguidor veloz], o que fez a Coreia do Sul crescer, a um first mover [pioneiro]. Quer dizer: no futuro, lançar, ela própria uma tendência, criar um branding, ganhando, assim, a dianteira em relação aos seguidores mais baratos."





Autor: Dirk Kaufmann

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