Navio 'Plastic Odyssey' ensina a reciclar plásticos no Senegal

Em 2023, o Plastic Odyssey viajará até Fortaleza e Belém, Georgetown, na Guiana e outras capitais e cidades na América Latina como Porto Príncipe, Puerto Limón, Guayaquil, Lima e a ilha de Martinica

09:29 | Mar. 09, 2023

Por: AFP
O operador senegalês Abdou Bakhy Mbacke, beneficiário do programa de incubação chamado 'Onboard Laboratory' da embarcação Plastic Odyssey, caminha em um depósito em Diamniadio em 2 de março de 2023 (foto: SEYLLOU / AFP)

A bordo do "Plastic Odyssey" ("odisséia de plástico"), Baptiste Lomenech mostra a jovens empreendedores senegaleses como funciona um dos sistemas de reciclagem do navio que cruza os mares do mundo ensinando pessoas a lutarem contra a poluição por plásticos.

No porto de Dacar, a tripulação de cerca de 20 pessoas recebe autoridades locais e mostra as técnicas de reciclagem com o maquinário disponível na embarcação, que saiu da França para dar uma volta ao mundo com duração de três anos.

Em 2023, o Plastic Odyssey viajará até Fortaleza e Belém, Georgetown, na Guiana e outras capitais e cidades na América Latina como Porto Príncipe, Puerto Limón, Guayaquil, Lima e a ilha de Martinica. No ano seguinte, navega em direção à Ásia, fazendo escala em Hanga Roa, principal cidade da Ilha de Páscoa, no Chile.

O navio oferece um ciclo de reciclagem completo: um triturador para que os resíduos sejam reduzidos a pequenos pedaços, um tanque de lavagem, uma centrífuga para secá-los e uma extrusora para transformá-los.

A ideia é ensinar como funciona uma tecnologia simples de usar, sem patentes e facilmente acessível.

Durante a demonstração, os visitantes fazem inúmeras perguntas sobre o processo. O objetivo é absorver o conhecimento da técnica para aplicá-lo em seus projetos relacionados ao plástico.

"Estar aqui amplia o meu campo de ação e pensamento. Vi que era viável instalar máquinas de reciclagem de baixo custo. Sabíamos que tínhamos capacidade para isso, mas não sabíamos como", diz Boubacar Diakhité, da empresa Défaratt, com sede em Gandiol (norte).

"É incrível poder conhecer todos esses empreendedores", diz Lenora Hamon, que pretende abrir uma unidade de transformação de plásticos em Casamanza (sul) com a associação Nio Far.

As ruas e praias de Senegal estão repletas de resíduos plásticos e o país vê os lixões aumentarem. O de Mbeubeuss, perto de Dacar, um das maiores da África, recebe diariamente mais de 3.000 toneladas de lixo que contaminam o solo e a água.

De acordo com Simon Bernard, co-fundador da associação Plastic Odyssey, é necessário reciclar as enormes quantidades de plástico deixadas para trás e reduzir drasticamente a produção destes resíduos.

A cada minuto, cerca de 20 toneladas do material vão parar no oceano e se transformam em micropartículas irrecuperáveis.

Embora as autoridades senegalesas tenham proibido o uso de sacolas plásticas descartáveis em 2020, a "lei continua sem aplicação e nenhuma solução alternativa é proposta", afirma Aisha Conte, presidente da associação Lixo Zero.

Mas jovens empreendedores como Abdoul Bakhy Mbacke tentam mudar este cenário. Sua empresa Ciprovis lançou atividades que vão desde a conscientização até a reciclagem.

A ideia de se envolver na gestão de resíduos surgiu em seu bairro.

"O caminhão de coleta só passava pelas ruas principais e lixões não autorizados foram criados em todos os lugares. Ocorreu-nos usar triciclos para percorrer as ruas menores e oferecer um serviço local de coleta de lixo", explica.

O empreendedor mostra um centro de reciclagem localizado na zona industrial de Diamniadio, a cerca de 30 quilômetros de Dacar, onde se depositam resíduos plásticos de empresas e famílias que pagam uma taxa mensal entre US$ 9 e 13 (em torno de R$ 46 a 67).

Naquele local são recolhidas diariamente 15 toneladas de resíduos, dos quais cerca de 20% são plásticos.

Atualmente, Mbacke conta com vários parceiros no processo, mas quer iniciar um projeto piloto com a Plastic Odyssey para desenvolver seu próprio negócio de reciclagem.

Contudo, para ele, o setor deveria ser subsidiado. "Os custos são repassados aos clientes, quando deveriam ser incentivados a reciclar", diz.

"Hoje substituímos um pouco o Estado, mas isso não nos desanima. Este é o nosso Senegal. Se o Estado decidir se juntar a nós, teremos todo o gosto em recebê-los, mas não estamos à espera de ninguém", conclui.