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Os benefícios de crescer num lar bilíngue

11:18 | 15/12/2015
Crianças expostas desde cedo a dois ou mais idiomas desenvolvem maior velocidade de raciocínio e conseguem aprender mais rápido. Situação, porém, exige cuidado especial por parte dos pais. O ensino de idiomas a crianças pequenas divide os pais. De um lado, muitos temem confundir a cabeça dos pequenos, ainda em formação. Do outro, estão aqueles que sonham em ver, logo, os filhos se expressando em outra língua. Mas há, ainda, aqueles que não tiveram escolha, como a designer gaúcha Diana Calvosa Scheinkman, de 35 anos. Há 14 ela emigrou para Israel, onde conheceu o marido, Mariano, argentino. Até a chegada do primeiro filho, cinco anos atrás, o casal se comunicava em espanhol, misturando, ocasionalmente, expressões em hebraico na conversa. Quando Lior nasceu, entre fraldas e mamadeiras, surgiu o português em casa. O casal, de nacionalidades diferentes, teve de improvisar. "Nós não escolhemos um idioma dentro de casa. Cada um fala o seu. Eu falo com meu filho em português, e meu marido, em espanhol. Ele sabe direitinho diferenciar a língua de cada um e responde no respectivo idioma. Nós fazemos um esforço muito grande para falar cada um sua língua e não misturar nunca, para não confundir. É um investimento, porque queremos que, além do hebraico, ele saiba também o português e o espanhol", conta Diana, que ainda é mãe do pequeno Adam, de apenas dez meses. A estratégia parece ter dado certo. Lior parece separar corretamente os três idiomas do alto de seus cinco anos. Mas o bom desenvolvimento do filho não impediu que Diana passasse por alguns sustos. Certa vez, ela entrou em pânico quando Lior retornou à creche após as férias de verão. Afinal, o pequeno havia aprendido muitas palavras novas, em casa mas em português e espanhol. E Diana temia que ele preferisse se expressar nos idiomas latinos e não conseguisse se fazer entender, em hebraico, junto às professoras e aos colegas. "Eu preparei um glossário e entreguei para as professoras israelenses. Escrevi as traduções de tudo o que ele balbuciava, tudo o que ele queria dizer. Fiquei apavorada, achando que ninguém ia entendê-lo. As professoras também ficaram em alerta, mas depois perceberam que ele se comunicava bem em hebraico", diz a designer, aliviada. Facilidade em processar sons A exposição a idiomas distintos traz mais vantagens que desvantagens, pois a criança aprende muito mais rápido. Augusto Buchweitz, pesquisador do Instituto do Cérebro do Rio Grande do Sul, explica que essa facilidade é possível graças à neuroplasticidade. É como se o cérebro fosse mais maleável para receber e processar informações. Testes indicam que as crianças bilíngues acabam, de fato, tendo uma maior velocidade de raciocínio ao realizar mais de uma tarefa simultaneamente. Entre os seis meses os quatro anos, quando estimulados, os neurônios passam a fazer novas conexões e especializações, construindo os chamados "circuitos da linguagem". Nessa época, é mais fácil aprender uma língua e falá-la sem sotaque, uma vez que as estruturas nervosas ainda estão em formação. Uma criança consegue, por exemplo, distinguir sons semelhantes com mais exatidão, como bed (cama, em inglês) e bad (mau). "A plasticidade neural fica menor com o decorrer dos anos. Na infância, permite que a criança se articule melhor em relação à atividade sensorial. Ela escuta melhor os sons e percebe melhor as diferenças, as vogais. O bilíngue precoce tem uma convergência maior das áreas do cérebro envolvidas na linguagem. Pode ser que a criança vá, em algum momento, misturar uma palavra ou outra ou demore um pouco mais para desenvolver uma estrutura gramatical. Mas isso não é um problema, é normal e sadio que ela tenha a possibilidade de escolher entre duas ou até mais línguas. É preciso que os pais tenham paciência", diz o pesquisador. A calma parece mesmo fundamental. Para a educadora Andrea Ramal, autora de diversos livros sobre educação infantil, a exposição a dois idiomas em casa, quando os pais têm nacionalidades diferentes, é muito positiva para a criança. Uma dica para evitar transtornos, sugere a especialista, é estabelecer horários determinados para o uso dos idiomas distintos. "Por exemplo, se houver um pai que fale inglês e uma mãe que fale espanhol, ajuda muito se ficar determinado que, no almoço, se fala inglês. No jantar, se fala espanhol. É fundamental manter os dois idiomas em casa, pois essa criança vai tê-los como nativos, o que será de grande valor no futuro, no mercado de trabalho. Não há motivo para preocupação. Quando a criança chegar à alfabetização, ao momento de aprender a ortografia e a estrutura de outra língua, todo esse conhecimento vai ser assimilado", afirma Andrea. Mas a educadora destaca a importância de controlar a ansiedade dos pais. "Às vezes, vejo pais que, muito cedo, já na pré-escola, querem matricular o filho num curso de línguas. Recomendo a esses pais que não fiquem ansiosos. É preciso ter cuidado para que a criança possa ter uma experiência lúdica. Caso contrário, mais tarde, muitos não vão querer aprender novos idiomas por conta de traumas e imposições do passado", alerta. Autor: Renata Malkes, do Rio de JaneiroEdição: Rafael Plaisant
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