PUBLICIDADE
Notícias

Exército egípcio dá 48 horas para forças políticas resolverem crise

O ultimado do Exército causou uma explosão de alegria entre os manifestantes que exigem a renúncia do presidente na Praça Tahrir

00:02 | 02/07/2013

CAIRO, 02 Jul 2013 (AFP) - As Forças Armadas do Egito advertiram nesta segunda-feira que pretendem agir caso as exigências do povo não sejam atendidas no prazo de 48 horas, depois que milhões de pessoas saíram às ruas no domingo para exigir a renúncia do presidente islamita Mohamed Mursi.

Em um comunicado lido na televisão estatal, as Forças Armadas reiteraram o "pedido para que as exigências do povo sejam atendidas e dão (a todas as partes) 48 horas, como última oportunidade, para assumir a responsabilidade pelas históricas circunstâncias que o país está vivendo".

A presidência do Egito reagiu ao ultimato na madrugada desta terça-feira, com um comunicado no qual afirma que "a declaração das Forças Armadas não foi submetida ao presidente" e traz "sinais que podem causar confusão". Na mesma nota, o governo reafirmar sua determinação "em prosseguir no caminho que escolheu visando à reconciliação nacional".

Denunciando "qualquer declaração que aprofunde a divisão" em um país já muito dividido e que "possa ameaçar a paz social", o texto da presidência destaca ainda que Mursi "prossegue suas consultas com todas as forças nacionais a fim de garantir o caminho da mudança democrática e da proteção da vontade popular".

"O Estado democrático egípcio civil é uma das mais importantes realizações da revolução de 25 de janeiro" de 2011 que acabou com o regime do presidente Hosni Mubarak e o "Egito não permitirá, absolutamente, uma volta ao passado", afirma a nota do governo.

O ultimado do Exército causou uma explosão de alegria entre os manifestantes que exigem a renúncia do presidente na Praça Tahrir, no Cairo, de acordo com um jornalista da AFP no local.

"Mursi não é mais nosso presidente, Sissi está conosco", gritavam os manifestantes, referindo-se ao general Abdel Fattah al-Sissi, chefe do Exército e ministro da Defesa. Durante a transmissão da leitura da nota, uma imagem do general foi exibida em um telão na praça.

Logo depois da divulgação do comunicado, o movimento de oposição Tamarrod (rebelião em árabe), que organizou as manifestações de domingo, também elogiou a decisão do Exército que está, segundo ele, "ao lado do povo".

O comunicado do Exército significa que "haverá eleições antecipadas", considerou Mahmoud Badr, porta-voz do Tamarrod, que afirma ter recolhido 22 milhões de assinaturas para exigir novas eleições.

Já a Irmandade Muçulmana, o poderoso movimento islâmico ao qual pertence o presidente Mursi, anunciou que estudará o comunicado.

Mahmud Ghozlan, um dos líderes do movimento, disse à AFP que a direção política da irmandade vai se reunir para "decidir a sua posição".

As vozes se multiplicaram desde domingo em meio à oposição para pedir que o Exército exerça pressão sobre Mursi. Uma de suas principais figuras, o nacionalista de esquerda Hamdeen Sabbahi, pediu "ação" se Mursi tentar se aferrar ao poder.

O presidente americano, Barack Obama, fez um apelo a todas as partes no Egito para que tenham moderação diante das gigantescas manifestações contra Mursi, e pediu especificamente respeito às mulheres.

"Todas as partes devem mostrar moderação", disse Obama durante uma coletiva de imprensa na Tanzânia, lembrando "àqueles que estão participando dos protestos ou marchas que atacar mulheres não constitui um protesto pacífico".

O presidente americano, que chegou nesta segunda-feira à Tanzânia, terceira e última etapa de um giro pela África, não se pronunciou sobre as reivindicações da oposição egípcia, que pede a saída do presidente Mursi, mas apelou para que o governo egípcio redobre seus esforços para restaurar a harmonia no país.

"O que está claro hoje é que, embora Mursi tenha sido eleito democraticamente, deve ser feito mais para criar as condições nas quais todos sintam que suas vozes estão sendo ouvidas no Egito", declarou Obama.

Em Nova York, a ONU advertiu que a forma como forem resolvidos os distúrbios políticos no Egito terá um "impacto significativo" na transformação de outros países do Oriente Médio.

"O mundo está observando o Egito e o que o Egito fizer com sua transição terá um impacto significativo em outros países em transição na região", disse o porta-voz das Nações Unidas, Eduardo del Buey.

"Um Egito estável e seguro é crucial para a segurança e a estabilidade regionais", disse o porta-voz.

TAGS