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Guarda Revolucionária é a instância mais poderosa do Irã

09:44 | 17/05/2013
O jornalista Bahman Nirumand fala sobre o papel da Sepah Pasdaran na política e na sociedade iranianas. Poder da Guarda Revolucionária cresceu assustadoramente em pouco mais de três décadas desde sua criação. DW: A Sepah Pasdaran, Guarda Revolucionária do Irã, foi fundada em 1979. Ela atua paralelamente às Forças Armadas regulares do país e tem, pelo menos oficialmente, o objetivo de "defender os valores da Revolução Islâmica e a base do Estado islâmico". Com o passar do tempo, ela ampliou enormemente seus poderes e competências. É possível considerar a Pasdaran como a real detentora do poder no Irã? Bahman Nirumand: Sim. Na verdade, em toda a história recente do Irã, nunca houve tal concentração de poder. A Sepah Pasdaran é atualmente a instância mais poderosa no país, tanto no âmbito político quanto econômico e militar. Ao lado dela, o papel as Forças Armadas regulares é bastante secundário. A Pasdaran está equipada com as armas mais modernas; ela é incontestável e decide sobre todas as questões militares, ao passo que o Exército ficou inteiramente relegado ao segundo plano. A Pasdaran está muito bem equipada. Ela estaria também preparada para reagir a uma possível investida militar por parte de Israel? Ataques verbais não faltaram nos últimos anos. Sim, acho que está preparada. O Irã tem muitos meios de se defender. Os alvos que poderiam ser atacados são evidentes. Eles possuem mísseis modernos e navios de guerra, e estão mesmo em condições de causar danos aos Estados Unidos e a outros países. A Pasdaran sempre esteve presente no âmbito militar, mas em que direção se alterou o seu poder econômico? Atualmente ela é considerada a maior força econômica do país. Por um lado, a Pasdaran recebe concessões por todos os projetos infraestruturais do Irã. Quer se trate da construção de represas ou de estradas, portos ou aeroportos: a Guarda Revolucionária está envolvida em todos os grandes projetos. Além disso, ela controla os portos e aeroportos e, assim, todo o mercado: exportações, importações e sobretudo o mercado negro. Ela pode exportar ou importar produtos sem pagar alfândega ou impostos. A Pasdaran também está envolvida na indústria petrolífera. Portanto, é gigantesco tudo o que ela colocou sob o próprio controle, em termos de economia. Que papel a Pasdaran desempenha no conflito nuclear com o Ocidente? A Pasdaran participa diretamente de todas as decisões, quer se trate do conflito nuclear ou de outros assuntos políticos de importância. Ela está fortemente envolvida no programa nuclear e acredito que nenhuma decisão sobre esse assunto seja tomada sem o seu consentimento. Ela determina também a política de negociação dos iranianos. Oficialmente, a delegação iraniana que conduz as negociações recebe instruções do líder supremo, Ali Khamenei. Entretanto, por trás dele está a Guarda Revolucionária, e é esta que toma realmente as decisões. Existe algum setor sobre o qual a Pasdaran não tenha influência? Não. Ela é também a maior força política no país. Seus ex-comandantes controlam o poder. Em 2005, quando Mahmud Ahmadinejad foi eleito presidente pela primeira vez, ele entregou a maior parte e os principais cargos a comandantes da Pasdaran. Em 2009, Mahmud Ahmadinejad pôde contar também com o apoio da Pasdaran para sua altamente controversa reeleição. Porém, a relação agora parece muito tensa. Por que isso? Isso se deve aos desentendimentos entre o líder revolucionário e Ahmadinejad. Na verdade, Khamenei apoiou Ahmadinejad fortemente, não só durante seu primeiro período de governo como também nas eleições de 2009. Até mesmo toda a fraude eleitoral que houve naquela ocasião deve ter ocorrido com a anuência de Khamenei. Então, Khamenei teve a impressão de que Ahmadinejad era, por assim dizer, o seu comandado, e que faria tudo o que o líder revolucionário quisesse. Mas a partir de 2009 o presidente se tornou insubordinado e procurou novos caminhos, sobretudo contra os religiosos. As desavenças entre Khamenei e Ahmadinejad aumentam cada vez mais, particularmente em relação às eleições; e a Pasdaran, ao menos os principais generais, parece ter optado por Khamenei. Isso eles já disseram com toda a clareza: eles querem garantir eleições "sadias e corretas". E isso significa que vão interferir diretamente para que o candidato de Khamenei seja eleito. Não é possível dizer como isso se reflete na base da Pasdaran. Certamente, Ahmadinejad continua tendo seguidores também ali. O autor de vários livros e analista político Bahmann Nirumand tem origem iraniana e mora em Berlim.

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