Médicos acreditam que Chávez pode ter sarcoma
Chávez está em recuperação em Cuba, após a cirurgia realizada nesta semana. No sábado, o presidente informou aos cidadãos de seu país que células malignas haviam reaparecido pela terceira vez em seu abdômen e que ele retornaria a Cuba para uma nova operação.
O governo venezuelano não divulgou qual é o tipo de câncer que o presidente tem ou qual foi a razão da cirurgia, que foi descrita como "complexa e delicada" e teve duração de seis horas. Autoridades venezuelanas disseram que ele pode não estar de volta a Caracas para a posse de um novo mandato presidencial, em 10 de janeiro. Chávez está no poder há 14 anos.
Na quinta-feira, o governo venezuelano disse que os médicos elevaram o estado de saúde de Chávez de "estável" para "favorável". Mais cedo, afirmou que houve "complicações" durante a cirurgia e que "foram necessários procedimentos em razão de uma hemorragia".
Apesar disso, os médicos dizem que o câncer é um jogo de probabilidades e que Chávez pode se recuperar totalmente. "A única coisa que sabemos é que não somos bons com previsões", declarou J. Randolph Hecht, diretor de oncologia gastrointestinal da Universidade da Califórnia, em Los Angeles.
Apesar do sigilo a respeito do estado de saúde do político venezuelano, analistas de inteligência e médicos especialistas em câncer dizem que podem juntar algumas peças para fazer um prognóstico generalizado, com base das informações públicas disponíveis, embora não tenham conhecimento direto sobre o caso.
A operação mais recente sugere que as probabilidades de sobrevivência do presidente estão piorando, dizem os médicos. O fato de que o câncer voltou duas vezes após ele ter passado por quatro cirurgias e pelo tratamento de radioterapia e quimioterapia indica que o câncer é agressivo e com baixa probabilidade de cura.
"Qualquer procedimento adicional é paliativo e tem como objetivo impedir que os sintomas piorem e não tem a cura como alvo neste estágio", disse Michael Pishvaian, oncologista do Centro Oncológico Lombardi, da Universidade de Georgetown.
A recuperação da última cirurgia é potencialmente perigosa, declarou Thierry Jahan, oncologista da Universidade da Califórnia, em São Francisco. O uso excessivo de anti-inflamatórios esteroides durante o tratamento pode provocar enfraquecimento muscular. Após a cirurgia há o aumento da possibilidade de infecções que levem à septicemia, infecção generalizada que pode levar à morte, ao surgimento de coágulos, hemorragia gastrointestinal, além da elevação do risco de aumento do nível de açúcar no sangue, o que pode causar diabetes, disse o doutor Jahan.
Chávez foi diagnosticado com câncer em junho de 2011, depois de passar por uma cirurgia para a retirada de um abscesso pélvico, ocasião em que foi descoberto um tumor "do tamanho de uma bola de beisebol", como disse o próprio presidente. Uma outra cirurgia para a remoção do tumor foi realizada em fevereiro.
Médicos dizem que câncer no abdômen costuma ser de próstata, cólon, bexiga ou sarcoma, que é uma forma rara de câncer que aparece não num órgão, mas de tecidos de conexão como músculos, ligamentos, gordura ou ossos. O ex-médico da família de Chávez, Salvador Navarrete, disse publicamente que o membros da família do presidente afirmaram a ele que o líder venezuelano tem sarcoma.
Tendo em vista que câncer no cólon e de próstata geralmente exigem apenas uma cirurgia, os médicos dizem que repetidas cirurgias e tratamentos sugerem que seja um caso de sarcoma, que reaparece após a primeira cirurgia, a menos de uma grande parte de tecido ao redor da área afetada seja removida, disseram os médicos.
"Quando o sarcoma surge na área abdominal é bastante problemático. É muito difícil porque a cavidade abdominal é um ambiente permissivo para células cancerígenas", afirmou o doutor Jahan, que é especializado neste tipo de câncer.
A descrição disponível do câncer sofrido por Chávez é "bastante consistente" com sarcoma, declarou George Demetri, diretor do centro para sarcoma e oncologia óssea do Instituto do Câncer Dana-Farber, em Boston.
"Eles tentem a seguir este tipo de sequência: um tumor é retirado, o paciente fica bem", disse ele. Os pacientes recebem radiação ou quimioterapia. Porém, "quase inevitavelmente, o tumor volta na mesma região ou nas proximidades de onde surgiu", acrescentou. Pacientes que sofrem de sarcoma, que são agressivos e incuráveis, geralmente vivem entre um a três anos. As informações são da Dow Jones.