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Encontro entre Alemanha e Israel começa em clima de crítica mútua

16:57 | 05/12/2012
Berlim discorda de planos israelenses de construir mais assentamentos na Cisjordânia. Israel quer saber por que a Alemanha não foi contra adesão Palestina na ONU. Apesar de divergências, países destacam boas relações. A pauta das reuniões periódicas entre representantes dos governos israelense e alemão, que começou na noite desta quarta-feira (05/12) e continua no decorrer de quinta-feira, será composta de temas inofensivos: inovação, educação e sustentabilidade. No entanto, os recentes acontecimentos no Oriente Médio certamente vão dominar as conversas: sobretudo o anúncio do premiê israelense, Benjamin Netanyahu, de que Israel vai permitir a construção de três mil moradias em Jerusalém Oriental e na Cisjordânia. Uma ocupação israelense da chamada zona E-1, uma região sensível no conflito que assola a região, situada a leste de Jerusalém, iria dividir a Cisjordânia ocupada. Além disso, a parte leste e árabe de Jerusalém ficaria separada do resto dos territórios palestinos, dificultando ainda mais uma solução pacífica para o conflito. Por esta razão, tanto a Alemanha quanto outros países ocidentais já haviam pedido que Israel desistisse de tal projeto de construção. Paz para Israel: meta da política alemã Manter boas relações com Israel é um dos pilares da política externa alemã, tendo em vista a responsabilidade do país pelo genocídio dos judeus antes e durante a Segunda Guerra Mundial. Nos últimos anos, as relações entre os dois países sedimentaram-se ainda mais. Nesta semana, representantes dos dois governos reúnem-se pela quarta vez desde 2008. "Uma das metas da Alemanha é contribuir para que Israel, como Estado democrático judaico, possa viver em paz com seus vizinhos", afirmou à DW o político democrata-cristão Ruprecht Polenz, presidente da Comissão de Relações Exteriores do Parlamento alemão. E esta meta, segundo ele, só poderá ser alcançada com uma solução de dois Estados para israelenses e palestinos. "Se Israel literalmente obstruir essa solução com a construção do assentamento E1, esse objetivo não poderá mais ser atingido", reflete Polenz. Por isso é importante que a chanceler federal alemã Angela Merkel deixe claras as preocupações de Berlim em relação ao projeto, completa o político. O presidente do grupo parlamentar alemão-israelense, Jerzy Montag, do Partido Verde, também espera que "Merkel fale isso com todas as letras, sem, contudo, dilacerar as estreitas ligações historicamente tecidas entre Alemanha e Israel". A Alemanha tem uma responsabilidade especial para com Israel, completa Montag, e por isso precisa se posicionar em prol de uma solução de dois Estados para a região. Questionamento sobre votação na ONU Nos encontros entre os ministros da Defesa, Exterior e Economia, bem como de outras pastas, deverão surgir críticas também do lado israelense. Montag acredita que os representantes israelenses irão questionar por que a Alemanha se absteve de votar na Assembleia Geral das Nações Unidas contra o reconhecimento da Palestina como Estado observador não membro. A ONU concedeu, com esmagadora maioria, o reconhecimento do status à Palestina. A Alemanha se absteve na votação, enquanto Israel se opôs com veemência à decisão. Imediatamente após a aprovação pela ONU, Jerusalém deu sinal verde para os projetos de construção na zona E1. Montag e Polenz criticam a postura de Israel neste sentido. "Acho que a posição israelense, tendo em vista os interesses do próprio país, deveria ser debatida e modificada", diz Montag. Segundo ele, o governo israelense deveria enxergar que praticamente o mundo inteiro aprova uma solução de dois Estados para a região. Diante disso, completa Montag, Jerusalém não deveria sabotar tal solução. Polenz salienta os aspectos de uma decisão da ONU que visem uma solução pacífica para o conflito. No texto da resolução das Nações Unidas, Israel é reconhecido pelo lado palestino como Estado. Além disso, fala-se na existência de um Estado palestino, ao lado de Israel, que respeite as fronteiras de 1967. Outras modificações nestes acordos de fronteiras podem ainda ser consideradas. Esta é, segundo Polenz, exatamente a fórmula que até hoje foi apresentada como meta nas mesas de negociação. "O governo alemão saberá como dizer a Israel que não se pode simplesmente dizer 'não' a um texto como esse", acredita o presidente da Comissão de Exterior do Parlamento. Preocupações israelenses Independentemente de divergências de opiniões, Berlim e Jerusalém cooperam de forma estreita no setor de segurança. Em caso de comércio de armas com um país vizinho a Israel, Berlim sempre leva em conta as possíveis preocupações de Jerusalém. O mesmo vale também para o fornecimento de tanques blindados para a Arábia Saudita, por exemplo. Além disso, o governo alemão acentuou em novembro o direito de defesa de Israel durante os conflitos entre o país e o Hamas. Polenz salienta que Berlim não precisa aprovar cada passo do governo israelense, embora "Israel saiba que pode contar com a Alemanha". O parlamentar alemão espera que uma crítica construtiva, baseada nestas relações, seja mais eficaz que uma postura que possa levar o governo israelense a se sentir acuado. Autor: Andreas Gorzewski (sv) Revisão: Francis França

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