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Conflito entre Israel e o Hamas está entre o cessar-fogo e a "guerra de verdade"

17:59 | 20/11/2012
Mediadas por Egito, Catar e Turquia, conversações realizadas no Cairo tentam evitar que conflito entre Israel e o Hamas se transforme numa "guerra de verdade". Palestinos indicam que cessar-fogo pode ser alcançado logo. Rumores de que um cessar-fogo entre Israel e o grupo radical palestino Hamas (que governa a Faixa de Gaza) havia sido alcançado tomaram conta da imprensa internacional no início da noite desta terça-feira (20/11), depois de pessoas ligadas a esses grupos afirmarem que a trégua era iminente. Mas nada do que foi anunciado se confirmou, e o próprio Hamas acabou revisando sua declaração anterior. "O lado israelense ainda não respondeu, por isso não vamos dar uma entrevista coletiva nesta noite e precisamos esperar até amanhã", declarou Ezzat al-Rishq, um dos principais líderes do Hamas, à agência de notícias Reuters. As conversações entre os dois lados estão sendo conduzidas no Cairo. Os negociadores reunidos na capital egípcia não dispõem de muito tempo apenas 24, no máximo 48 horas se quiserem alcançar um cessar-fogo entre Israel e o Hamas em Gaza, afirmou Yossi Mekelberg, do think tank britânico Chatham House, "senão, o conflito se transformará numa guerra de verdade". Ou seja: Israel irá enviar tropas de infantaria à região, o que resultará num número ainda maior de vítimas civis. Mekelberg se mostra preocupado: afinal de contas, reservistas israelenses foram convocados e estão estacionados na fronteira com Gaza. Enquanto isso, os ataques mútuos continuam. "Escute isso", disse Omar Shaban, diretor do Pal-Think, um think tank local, "é um míssil que acaba de passar sobre a minha casa". Há dias ele não deixa sua casa, na cidade de Gaza. Ele relatou à Deutsche Welle que, naquela manhã, a apenas 20 metros de distância, três pessoas haviam sido mortas por armas israelenses. Shaban se disse muito apreensivo com a situação. Por outro lado, o fato de todos estarem reunidos à mesa de negociações demonstra que tanto Israel quanto o Hamas almejam um arrefecimento da violência, ponderou. Nas mãos das potências regionais Desde o último fim de semana, representantes das partes em conflito vêm se encontrando na capital egípcia com mediadores do Egito, do Catar e da Turquia. "Os israelenses estão insistindo na própria segurança", disse Mekelberg, resumindo as exigências de ambos os lados. "Eles não querem que mais nenhum míssil seja disparado entre Gaza e Israel. O Hamas precisa que Israel assegure que relaxará o bloqueio e abrirá a fronteira entre Gaza e o restante do mundo." Os representantes do governo egípcio é que estão impulsionando as negociações adiante, com o apoio catariano. Mekelberg define: "O Egito tem o impacto político e o Catar, os meios financeiros". O Cairo, que já mediou diversos cessar-fogos entre as duas instâncias, ficaria consideravelmente fortalecido se as conversações tiverem sucesso. "Isso poderia representar um marco importante para o presidente egípcio, Mohamed Morsi, como pacificador regional", comentou Mekelberg. No final das contas, o Egito, o Catar e a Turquia é que terão que tomar a frente das negociações. "Os Estados Unidos não querem assumir a liderança", disse Yesid Sayigh, do Carnegie Middle East Center em Beirute. "Essa é a política que [os EUA] têm adotado com quase tudo desde a intervenção na Líbia, passando pela Síria e agora. Eles não querem tomar a frente, sobretudo por que isso inevitavelmente significaria ter que exercer algum tipo de pressão sobre Israel, em algum momento." Mero apoio da ONU O secretário-geral da Organização das Nações Unidas, Ban Ki-moon, conversou com Morsi nesta segunda-feira (19/11), e na quarta-feira deverá se encontrar com as delegações israelense e palestina. No entanto, Sayigh acredita que o papel da ONU será limitado enquanto Washington não estiver envolvido. "A ONU não tem mais poder do que o que lhe concedem seus membros-chave", afirmou. Por outro lado, a organização "esteve obviamente paralisada no tocante à Síria", e ele está certo de que ela apoiará qualquer plano partindo dos egípcios. Shaban, do Pal-Think, também está convencido que o papel da ONU será apenas de apoio. "As Nações Unidas não têm muita influência sobre o Hamas, até porque Ban Ki-moon só esteve em Gaza duas vezes." Para ele, a chave está nas mãos do Egito e do Catar. Cabe às potências regionais, sobretudo ao Egito, reverter a escalada da violência. Segundo Mekelberg e Shaban, esses países sabem disso. Ninguém tem interesse numa guerra, nem os palestinos de Gaza, nem os egípcios, os quais já enfrentam numerosos problemas internos, como apontou Mekelberg. Falando à emissora alemã WDR, o ex-embaixador de Israel na Alemanha Avi Primor assegurou que seu país tampouco deseja uma guerra. Pois "sabemos que seria desastroso para todos" e só traria uma tranquilidade temporária para os israelenses, ressaltou Primor. Cessar-fogo tampouco é solução Segundo Shaban, o mesmo se aplica a um cessar-fogo. "Não cremos que um armistício desses seria mantido por ambos os lados durante muitos anos. É por isso que, todo o tempo, apelamos por uma solução política, para que se retomem as negociações de paz entre Israel e os palestinos." Ele deseja que os EUA e a União Europeia, sobretudo a Alemanha e o Reino Unido, impulsionem ambas as partes em direção à mesa de negociações e às conversações pela paz. O diretor do Pal-Think receia, ainda, que os grupos salafistas militantes que emergiram em Gaza nos últimos anos possam minar qualquer cessar-fogo, embora "até agora, o Hamas tenha conseguido mantê-los sob controle". Sayigh afirmou que só será possível exercer um controle eficaz sobre os grupos se o Hamas fechar com Tel Aviv um acordo para que ambos passem a só atacar alvos militares. "Aí, o Hamas poderá dizer: nós forçamos Israel a concordar com isso, e agora vocês terão que acatar o acordo, também." Também para Mekelberg o cessar-fogo não passa de uma solução temporária. "Talvez ambas as partes se deem conta de que a vida em Gaza precisa ser mais suportável, e o sul de Israel, mais seguro." Segundo o integrante do Chatham House, este seria o primeiro passo no sentido de um processo político de que o Oriente Médio precisa urgentemente porém por mais tempo do que as próximas 48 horas. Autoria: Naomi Conrad (av) Revisão: Alexandre Schossler

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