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Suspeitas de fraude cercam as eleições parlamentares na Ucrânia

11:51 | 27/10/2012
A principal líder oposicionista da Ucrânia, Iúlia Timoshenko, está na prisão e não pode participar da eleição parlamentar. Esse é apenas o caso mais emblemático em um pleito marcado pelas denúncias de manipulação. A primeira impressão é a de uma democracia. Há uma eleição da qual participam mais de 20 partidos, a oposição é forte e está segura da vitória. O presidente da Ucrânia, Viktor Yanukovytch, assegura que a eleição parlamentar deste domingo (28/10) será "transparente e democrática". Seguindo o exemplo russo, Yanukovytch mandou instalar câmeras conectadas à internet nos locais de votação, indicando transparência máxima. Mas as impressões enganam. Pela primeira vez desde 2004, observadores da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE) classificaram uma eleição na Ucrânia como não sendo democrática nem justa. A OSCE mandou 635 observadores para o país, o maior número já enviado. Ao todo, cerca de 3.800 observadores estrangeiros irão monitorar as eleições. O interesse é grande porque, desde a posse de Yanukovytch, em 2010, a Ucrânia está seguindo o caminho para se tornar um Estado autoritário. Ao menos esta é impressão da oposição. Especialistas e a própria União Europeia estão preocupados com a evolução dos acontecimentos no país, outrora tido como um "farol da democracia" na região da antiga União Soviética. Também entre a população o ceticismo é grande. As últimas sondagens indicam que apenas 9% dos eleitores acreditam em eleições limpas, enquanto 47% acreditam que haverá fraudes significativas. Eleição sem a chefe da oposição O caso mais emblemático dessa situação é o da líder oposicionista e ex-primeira-ministra Iúlia Timoshenko, de 51 anos. Pela primeira vez desde 1998, ela não poderá participar de uma eleição parlamentar. Uma das líderes da chamada Revolução Laranja está presa há um ano. Um tribunal em Kiev condenou Timoshenko a sete anos de prisão por abuso de poder na assinatura de um contrato de gás com a Rússia. Também outros opositores, como o ex-ministro do Interior do governo Timoshenko, Yuriy Lutsenko, estão presos e, assim, não participarão da eleição. O Parlamento Europeu avaliou a situação como uma tentativa de eliminar opositores políticos. Diante dos fatos, alguns parlamentares expressaram dúvidas sobre a eleição na Ucrânia. "Quando candidatos importantes da oposição não podem participar de uma eleição, então ela não é livre", declarou o eurodeputado alemão Elmar Brok, da União Democrata Cristã (CDU). Semelhante é a opinião do vice-presidente do Bundestag (câmara baixa do Parlamento alemão), Wolfgang Thierse, do Partido Social Democrata (SPD). "No momento em que candidatos são excluídos de um processo eleitoral, pode-se colocar em dúvida que essa eleição seja limpa", afirmou à Deutsche Welle. Boxeador entre os candidatos A falta de Timoshenko pode ser sentida na política, assegurou o jornalista ucraniano Serhiy Rachmanin. Segundo ele, a campanha eleitoral foi fraca, sem candidatos fortes, sem debates calorosos e sem temas novos. Muitos eleitores se resignaram, criticou. De acordo com pesquisas de intenção de voto, quatro partidos receberiam mais que 5% dos votos, o mínimo necessário para entrar no Parlamento. Em primeiro lugar estaria o governista Partido das Regiões, com cerca de 23% de votos. A Oposição Unida, uma coligação liderada pelo partido de Timoshenko, receberia 17% dos votos, quase o mesmo percentual que o partido UDAR, do campeão de boxe Vitali Klitschko. Algumas pesquisas indicam este partido em segundo lugar. O partido de Klitschko é novo e sua popularidade está aumentando. Klitschko já anunciou que, depois da eleição, deseja formar uma coligação com o partido de Timoshenko. Entretanto, ele se recusou a assinar um acordo de coalizão antes da eleição. Essa atitude causou desconforto entre integrantes do partido da ex-primeira-ministra. No quarto lugar das intenções de voto estão os comunistas, com 10%. Extrema direita no Parlamento? Os resultados das pesquisas devem ser vistos com cautela. Segundo uma pesquisa encomendada pela Deutsche Welle, uma grande parcelas dos eleitores, 38%, ainda está indecisa. É possível que pela primeira vez o partido de extrema direita Swoboda (Liberdade) venha a fazer parte do Parlamento. O partido de Timoshenko acabou de assinar um contrato de coalizão com o Swoboda. Muitos especialistas, como o professor Wilfried Jilge, da Universidade de Leipzig, veem a decisão de forma crítica. Jilge descreve o Swoboda como antieuropeu, antiliberal e de tendências nazistas. O especialista alerta que o partido do governo usa o Swoboda para desacreditar toda a oposição na mídia. Para ele, a oposição pró-ocidental deveria ter se distanciado desse tipo de partido. Manipulações prévias Mesmo se os partidos da oposição receberem juntos mais votos que o partido do governo, Jilge não acredita numa vitória dos opositores de Yanukovytch. O especialista fala em "manipulações prévias" que influenciarão o resultado. A mais importante: Yanukovytch reintroduziu o sistema eleitoral misto. Por meio desse sistema, somente a metade dos 450 parlamentares é eleita segundo a lista dos partidos. A outra metade é composta por candidatos eleitos diretamente. Esses podem depois se filiar ao partido do governo, garantindo a este a maioria no Parlamento. A última eleição que seguiu esse sistema ocorreu em 2002. A oposição ganhou. Contudo, o presidente na época, Leonid Kutchma, conseguiu mesmo assim ter o apoio da maioria dos parlamentares. Autor: Roman Goncharenko (cn) Revisão: Alexandre Schossler

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