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Enviado para a Síria diz que governo e maioria dos rebeldes aceitam trégua

"Se tivermos êxito com esta iniciativa modesta, um cessar-fogo mais longo poderá ser construído", afirma Brahimi em reunião

17:53 | 24/10/2012
DAMASCO, 24 Out 2012 (AFP) -O enviado para a paz na Síria, Lakhdar Brahimi, afirmou nesta quarta-feira, 24, que o governo sírio e a maioria dos chefes rebeldes concordaram com uma trégua durante o feriado muçulmano desta semana, aumentando as esperanças de um avanço significativo no conflito, embora este ainda seja um "pequeno passo".

O governo sírio afirmou que seus líderes militares estão estudando a proposta de uma trégua para um conflito que deixa mais de 100 mortos por dia, ressaltando que a decisão final será anunciada na quinta-feira.

Já o Exército Livre da Síria (FSA), principal grupo rebelde que tenta derrubar o regime do presidente Bashar al-Assad, indicou que acatará um cessar-fogo durante os quatro dias do feriado do Eid al-Adha, que começa na sexta-feira, se as forças do governo interromperem seus ataques primeiro.

"O governo sírio concordou com um cessar-fogo" durante o Eid al-Adha, havia afirmado Brahimi à imprensa no Cairo, acrescentando que a maioria dos líderes rebeldes contactados também afirmou que irá respeitar a trégua.

"Se tivermos êxito com esta iniciativa modesta, um cessar-fogo mais longo poderá ser construído", o que permitiria o lançamento de um processo político, afirmou Brahimi após uma reunião com o chefe da Liga Árabe, Nabil al-Arabi.

Posteriormente, em uma apresentação ao Conselho de Segurança da ONU, o enviado de paz ressaltou que um cessar-fogo no país seria um "pequeno passo" em direção a uma solução, embora não esteja certo de que a ação será bem-sucedida, de acordo com diplomatas presentes na reunião.

Brahimi também pediu um apoio unânime a seus esforços para obter uma trégua, alertando que novas divergências entre os 15 Estados integrantes do Conselho podem piorar o conflito, que já dura 19 meses.

O enviado de paz ressaltou ainda que o governo sírio anunciará oficialmente a sua aceitação na quinta-feira.

O Ministério das Relações Exteriores da Síria informou em um comunicado que "o comando do Exército está estudando a suspensão das operações militares durante o feriado do Eid, e a decisão final será tomada amanhã (quinta-feira)".

O embaixador da Rússia na ONU, Vitali Tchurkin, declarou que seu governo tem "indicações segundo as quais eles (o regime sírio) aceitarão a proposta de Brahimi".

Os rebeldes, no entanto, permanecem céticos obre a real intenção das tropas do regime em respeitar uma trégua.

"O FSA vai parar de disparar se o regime parar", afirmou o chefe do conselho militar do FSA, general Mustafa al-Sheikh, falando à AFP por telefone da Turquia.

Mas, segundo ele, o regime "mentiu muitas vezes antes. É impossível que o regime implemente a trégua, mesmo dizendo que vai".

Na contramão dos anúncios feitos, a Frente Al-Nusra, um dos principais grupos insurgentes, indicou nesta quarta que não vai respeitar o cessar-fogo.

"Não há trégua entre nós e este regime transgressor que está derramando o sangue dos muçulmanos," indicou o grupo em um comunicado reportado pelo serviço de monitoramento de inteligência americano SITE.

"Nós, com a graça de Alá, não estamos entre aqueles que dão uma chance a conspiradores para que nos enganem," anunciou na internet o grupo, que já assumiu a autoria de vários atentados suicidas na Síria.

A obtenção desta trégua seria o avanço mais importante desde que o conflito se espalhou por todo o país provocando uma guerra civil que, segundo o Observatório Sírio de Direitos Humanos, já deixou mais de 35.000 mortos.

O antecessor de Brahimi no posto de enviado de paz para a Síria, Kofi Annan, anunciou um cessar-fogo em abril, dois meses depois de ser nomeado, mas sua iniciativa não suportou por muito tempo.

Violência aumenta, apesar do anúncio Nesta quarta-feira, os episódios de violência se intensificaram , principalmente com ataques aéreos das forças governamentais à cidade estratégica de Maaret al-Nooman (noroeste), em poder dos rebeldes, e as suas imediações, segundo o OSDH.

No nordeste do país, na província de Raqqa, onze soldados foram mortos em postos de controle durante ataques efetuados pelos rebeldes, indicou o OSDH, que se baseia em uma rede de militantes e de médicos no terreno.

Em outro episódio, 20 corpos, incluindo os de quatro crianças e oito mulheres, foram encontrados na cidade rebelde de Douma, perto de Damasco. Os militantes indicaram que as forças do regime haviam matado essas pessoas no início da manhã.

Já a agência oficial Sana acusou "grupos terroristas armados" - termo que o regime usa para designar rebeldes e opositores- de terem praticado esse "matança", indicando que o "massacre de 25 pessoas".

Em um bairro do sul de Damasco, oito pessoas foram mortas e vinte ficaram feridas na explosão de um carro-bomba, segundo o OSDH. A rede de televisão oficial confirmou seis mortos, acusando os "terroristas".

Um atentado danificou um gasoduto na província oriental de Hassaka, 600 km a nordeste de Damasco, segundo o OSDH.

Em Moscou, o general Nikolai Makarov disse nesta quarta-feira que os rebeldes possuíam sistemas de mísseis lançados do ombro capazes de abater aeronaves, incluindo stingers produzidos pelos Estados Unidos.

"Temos informações de que os rebeldes que lutam contra o Exército sírio possuem mísseis terra-ar de vários tipos, incluindo stingers", explicou Makarov, citado pela agência de notícias Interfax.

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