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Encontro de Países Não Alinhados termina com polêmicas e sem progressos

15:05 | 31/08/2012
Tentativa iraniana de impulsionar Movimento de Países Não Alinhados teve pouco sucesso. Criticando regime Assad e anfitrião iraniano, presidente egípcio é recriminado por se intrometer em assuntos internos da Síria. A conferência dos líderes dos Países Não Alinhados nestas quinta e sexta-feira (30 e 31/08), em Teerã, foi a mais polêmica das últimas décadas. Foi a primeira vez em mais de 30 anos em que os chefes de Estado do Irã e do Egito se encontraram. O recém-eleito presidente egípcio, Mohammed Mursi, exaltou os ânimos dos sírios e do anfitrião iraniano com suas duras críticas ao regime em Damasco. Mursi disse que "superar o regime opressivo" é uma questão de "obrigação moral e uma necessidade política e estratégica". O presidente egípcio apontou o fim do regime de Bashar al-Assad como "a continuação da Primavera Árabe e das revoluções que já levaram à queda de regimes ditatoriais na Tunísia, na Líbia, no Egito e no Iêmen". Mursi prometeu apoio a todos aqueles que lutarem por liberdade e justiça na Síria. O regime Assad tem no Irã um de seus maiores apoiadores. Durante seu discurso, Mursi ainda era o presidente em exercício do Movimento dos Países Não Alinhados (MNA) função que seu predecessor deposto, Hosni Mubarak, havia assumido há três anos na conferência no Cairo. Ao fim deste encontro em Teerã, o cargo passa para a liderança iraniana pelos próximos três anos. Com 120 países-membros, o MNA é a segunda maior organização mundial depois da Organização das Nações Unidas (ONU). Intromissão em assuntos sírios Ainda durante a fala de Mursi, a delegação síria liderada pelo ministro do Exterior, Walid al-Mouallem, deixou a sala em protesto. Al-Mouallem criticou o presidente egípcio por "reacender o conflito na Síria com sua intromissão em assuntos internos do país". Ainda maior que a indignação dos sírios foi a do anfitrião Irã. Aos egípcios "falta a maturidade política necessária" para conduzir uma cúpula dos Países Não Alinhados, declarou o ex-vice-ministro do Exterior iraniano Hussein ol-Eslam. De início, os iranianos haviam se entusiasmado com a participação do presidente egípcio na conferência. Desde que a República Islâmica do Irã rompeu relações com o Cairo por causa do tratado de paz israelo-egípcio, assinado em 1979, nenhum presidente egípcio havia viajado para Teerã. "O Irã vê o Egito como um parceiro estratégico e acredita que seria útil a todos, se os dois países ficassem lado a lado", disse o presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, após o encontro com Mursi. Sunitas e xiitas Antes da cúpula, Mursi havia proposto a convocação de uma conferência regional para solucionar o conflito sírio, com a participação não somente da Arábia Saudita e da Turquia, mas também do Irã. A mesma proposta havia sido feita em junho por Kofi Annan, ex-enviado especial na ONU e da Liga Árabe à Síria. Todas as tentativas de envolver o Irã foram, porém, barradas pelos EUA. Washington e Israel adotam como estratégia o isolamento internacional de Teerã. Mursi viajou a Teerã por considerar tal estratégia equivocada e contraproducente. Pelo mesmo motivo, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, participou da cúpula, apesar da pressão do presidente norte-americano, Barack Obama. Ao mesmo tempo, Mursi e Ban estavam preocupados em não se deixar instrumentalizar pela liderança iraniana. O Irã havia idealizado a eleição de Mursi à presidência egípcia como "despertar islâmico" e, a partir daí, reivindicou um papel de liderança para a República Islâmica xiita do Irã no MNA. Mursi enquanto presidente de um Estado islâmico sunita que se vê como importante potência regional do Oriente Médio e é um dos fundadores do MNA rejeitou o pedido. Liderança iraniana isolada Por causa do conflito sunita-xiita entre os Estados islâmicos membros do MNA, a sugestão de solução para o conflito sírio apresentada na cúpula pelo governo iraniano também não teve apoio significativo. Em seu discurso, o secretário-geral da ONU fez claras críticas a declarações do líder iraniano, que nega o Holocausto ou questiona o direito de existência de Israel. Em conversa particular com o líder religioso do Irã, aiatolá Ali Khamenei, Ban expressou preocupação com o programa nuclear iraniano e advertiu Teerã de cumprir as resoluções pertinentes do Conselho de Segurança da ONU. O secretário-geral da ONU também pediu que o Irã melhorasse a cooperação com a Agência Internacional de Energia Atômica, informou um porta-voz. Tais alertas de Ban a Khamenei não foram abordados pela mídia iraniana. Autor: Andreas Zumach (lpf) Revisão: Carlos Albuquerque

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