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AFP - Morre primeiro-ministro Meles Zenawi, o 'último imperador da Etiópia'

09:12 | 21/08/2012

ADIS ABEBA, 21 Ago 2012 (AFP) - O primeiro-ministro etíope, Meles Zenawi, faleceu na noite de segunda-feira, anunciou o governo, que não revelou mais detalhes sobre a morte do ex-líder guerrilheiro, que era chamado de autocrata pelos opositores e de visionário pelos seguidores, como os imperadores históricos da Etiópia.

"O primeiro-ministro Meles Zenawi faleceu ontem à meia-noite", afirmou Bereket Simon, porta-voz do governo etíope.

O vice-primeiro-ministro etíope, Hailemariam Desalegn, assumirá o governo de forma interina.

"Em aplicação à Constituição da Etiópia, o vice-primeiro-ministro tem que comparecer ao Parlamento, que será convocado o mais rápido possível, para prestar juramento", declarou Simon.

"A situação é estável", completou.

Simon afirmou apenas que Zenawi lutava contra problemas de saúde há um ano, mas se considerava pronto para o trabalho.

Meles Zenawi, de 57 anos e peso pesado dos líderes africanos, governava a Etiópia com mão de ferro há 21 anos: em 1991 ele assumiu o poder à frente de uma guerrilha que derrubou o regime do ditador Mengistu Haile Mariam.

Este homem austero entrou para o clube dos dirigentes africanos no poder há mais de 20 anos após uma vitória nas eleições de 2010 com direito a 99% dos votos.

Ele tinha menos de 25 anos quando assumiu o comando da FPLT (Frente Popular de Libertação de Tigray) em 1979, apenas cinco anos depois de ter abandonado a Faculdade de Medicina para entrar na rebelião de Tigray, ao norte do país.

Nascido em 8 de maio em Adua (norte), Meles Zenawi ocupou o cargo de presidente da República (1991-1995) antes da mudança na Constituição, que transformou a Etiópia em um regime parlamentar.

Ele era parte, ao lado do ruandês Paul Kagame e do ugandense Yoweri Museveni, da geração de dirigentes africanos que chegaram ao poder no fim dos anos 80 e início dos anos 90. O então presidente dos Estados Unidos Bill Clinton considerava que eles poderiam ser "dirigentes do renascimento" africano.

Com o passar dos anos, Meles transformou seu país em um aliado chave dos Estados Unidos na luta contra o extremismo no Chifre da África.
"É o último imperador da Etiópia", afirmou a respeito de Zenawi, um ex-diplomata etíope há alguns anos.

"Para Meles Zenawi, o poder continua sendo uma espécie de mito, com uma autêntica dimensão mística, porque se encontra na mesma situação que os imperadores do passado, que chegaram ao poder pelas armas, e porque desprende esta aura de poder", completou.
No fim da década passada, Meles Zenawi virou o principal negociador do continente sobre a mudança climática e desde 2007 era presidente da Nova Aliança para o Desenvolvimento da África (NEPAD).

Apesar disso, a Etiópia continua sendo um dos países mais pobres do mundo. A população, explicam analistas, não se beneficiou dos programas de desenvolvimento: no mundo rural ainda não são sentidos os planos de ampliação da energia elétrica regional.

O país é acusado regularmente de violações dos direitos humanos contra os grupos de oposição e os jornalistas.

Sérias consequências para o Chifre da África Em julho, quando a hospitalização de Meles em Bruxelas foi divulgada, uma fonte diplomática afirmou que seu desaparecimento teria sérias consequências para a região mais instável do Chifre da África.

"Ele soube impor sua autoridade sobre os vizinhos e é um polo de estabilidade entre Sudão, Eritreia e Somália", explicou a fonte.

Os mandatos de Meles foram marcados por uma guerra violenta na fronteira com a Eritreia entre 1998 e 2000, além de duas intervenções militares na Somália, a primeira do fim de 2006 ao início de 2009 e a segunda a partir do final de 2011.

Meles Zenawi não aparecia em público desde junho e sua saúde era alvo de muitas especulações.

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