Raúl Castro faz 81 anos sem sinal de novo governo
O irmão de Raúl, Fidel Castro, tem 85 anos, e seus dois principais auxiliares também são octogenários. "De novo eles estão adiando a promoção de representantes da próxima geração para cargos de liderança", comenta Philip Peters, analista especializado em Cuba do Instituto Lexington. "Isso cria incertezas", aponta.
A passagem do tempo tem sido implacável para o regime cubano. A irmã mais velha de Fidel e Raúl, Angela, morreu em fevereiro, aos 88 anos. Em setembro do ano passado, o presidente perdeu um importante aliado, o general Julio Casas Regueiro, que o substitui no Ministério da Defesa quando Raúl assumiu a liderança do governo.
Analistas dizem que Raúl tem colocado em seu gabinete e em governos provinciais pessoas mais jovens, na casa dos 50 anos, incluindo mulheres e afro-cubanos. Nomes como os de Marino Murillo, que planejou a recente reforma econômica no país, do vice-presidente do gabinete de governo, Miguel Diaz-Canel, e da líder do Partido Comunista de Havana, Mercedes López Acea, têm ganhado projeção, mas nenhum deles parece ser um sucessor óbvio do presidente.
Acredita-se que Raúl Castro esteja bem de saúde, sem sinais de nenhuma enfermidade grave. Quando o papa Bento XVI visitou Cuba, em março, o presidente se mostrou saudável e bem disposto. Além disso, Raúl não parece ter a mesma propensão de Fidel de testar seus limites físicos. O irmão mais velho passava horas fazendo discursos sob o inclemente sol caribenho, até que uma doença o forçou a renunciar à presidência, em 2006. Já Raúl deixa representantes do Exército fazerem discursos nos aniversários da revolução e viaja apenas quando é estritamente necessário.
"Raúl Castro é um militar, e como um bom militar, espera-se que ele se prepare para o momento em que terá de deixar o posto", afirma Peters. "Ele iniciou um processo de reforma econômica que facilitou muito para a próxima geração seguir com esse projeto. Mas, do outro lado, sobre a sucessão política, não está claro o que tem sido feito ou como isso se dará", explica o pesquisador do Instituto Lexington.
Muitos cubanos ainda mostram apoio aos irmãos Castro, mas alguns jovens não escondem a frustração. "Eu espero que Raúl viva mais 81 anos. Com ele, o país está no caminho certo do desenvolvimento", afirma o aposentado Esteban Gonzales, que mora em Havana. Já a garçonete Marta, de 45 anos, diz que o país já teve "várias gerações perdidas". "Cinquenta anos se passaram sob o regime dos Castro e eles sempre dizendo que tudo é temporário. Até quando?", questiona ela, que preferiu não revelar seu sobrenome com medo de represálias.
Em Miami (EUA), onde muitos cubanos exilados envelheceram esperando uma mudança no regime da ilha, o aniversário de Raúl marca outro ano de decepções. "Os líderes do regime estão velhos. Daqui a pouco tempo, isso vai ter de acabar", afirma Huber Matos, de 93 anos, que lutou na revolução mas depois se distanciou dos Castro e acabou ficando 20 anos na prisão. As informações são da Associated Press.