PUBLICIDADE
Notícias

Protesto, apoio e cautela marcam último dia da Rio+20

05:51 | 22/06/2012
Último dia da conferência Rio+20 começa sob clima de protestos, críticas da sociedade civil e discurso apaziguador do Brasil. Documento final "O futuro que queremos" será adotado sem mudanças pelos líderes mundiais. O documento O futuro que nós queremos será ratificado pelos chefes de Estado e governo reunidos no Rio de Janeiro, nesta sexta-feira (22/06), último dia da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20. A expectativa é que não haja mudanças de surpresa em seu conteúdo, que foi resultado das negociações que se encerraram no último sábado. O discurso oficial é que tudo vai bem e todos estão satisfeitos com o texto que será adotado. A presidente Dilma Rousseff, que lidera a conferência, ressaltou o respeito às posições que o Brasil defendeu ao assumir as negociações na reta final: "O multilateralismo prevaleceu sobre o bilateralismo que dominava até há duas décadas", comentou. Na plenária, líderes da América Latina criticaram o conteúdo do texto. Evo Morales, presidente da Bolívia, disse que a economia verde é um novo colonialismo para submeter os povos e os governos anticapitalistas. Rafael Correa, presidente do Equador, e Raúl Castro, de Cuba, também criticaram o acordo a ser assinado. Soluções urgentes adiadas Michel Martelly, presidente do Haiti, tentou disfarçar o desânimo e, questionado pela DW Brasil, disse que conta com mudanças no documento até o final da Rio+20. O Haiti sofre com a pobreza extrema, desnutrição infantil e um sistema alimentar frágil, temas abordados na conferencia. "Precisamos de respostas mais rápidas", respondeu Martelly, acrescentando que sentiu falta de decisões concretas. O Haiti depende de ajuda internacional para alimentar sua população, principalmente crianças em idade escolar. Por falta de recursos, o Programa de Alimentação das Nações Unidas irá reduzir o atendimento de 1,5 milhão para 400 mil crianças. Saída da Rio+20 Na véspera do encerramento, cerca de 200 jovens ativistas trocaram a Rio+20 pela Cúpula dos Povos. Eles entregaram as credenciais do evento às Nações Unidas em protesto: "Não fomos ouvidos aqui", explicou Diego Lobo, de 22 anos. "Acreditamos que a Cúpula dos Povos discute soluções mais reais." A alemã Anja Stanowsky, de 21 anos, vai partir do Rio de Janeiro frustrada. "Esperava que o Pnuma [Programa das Nações Unidas sobre Meio Ambiente] se tornasse uma agência forte", contou sua maior decepção. "Não tem porque ficar aqui até o final. Isso aqui é um show, e nossa participação é de mentirinha." Norma Maldonado, da Guatelama, foi convidada para participar como representante dos camponeses de seu país. "As Nações Unidas foram sequestradas pelas grandes empresas. Ninguém perguntou a nossa opinião sobre economia verde", disse em conversa com a DW Brasil. Os bilhões para a crise financeira Um grupo formado por nomes como Marina Silva, ex-ministra do Meio Ambiente, e Thomas Lovejoy, cientista pioneiro na pesquisa da Amazônia, assinou uma mensagem de protesto batizada como A Rio+20 que não queremos. A carta critica a falta de ação, a ausência de compromissos para reverter as crises social, ambiental e econômica e "as cômodas posições de governos". Os 283 parágrafos do documento oficial, que deverá ser o legado da Rio+20, são fracos e estão muito aquém do espírito e dos avanços conquistados nestes últimos 20 anos. O documento lança uma agenda frágil e genérica de futuras negociações, não dando garantias de resultados concretos, diz a carta. A lista de decepções de Marina Silva é grande, como a ausência de meios de financiamento para custear o desenvolvimento sustentável nos países pobres. "Do mesmo jeito que conseguiram 400 bilhões para a crise econômica, é preciso que consigam 100 bilhões para resolver a crise ambiental que, mais uma vez, foi adiada." Sobre as expectativas para o encerramento, ela comentou: "Eles [os chefes de Estado e governo] são as únicas pessoas que podem fazer alguma coisa. Mas se as expectativas deles são baixas, as expectativas da sociedade não podem ser rebaixadas." Autora: Nádia Pontes, Rio de Janeiro Revisão: Carlos Albuquerque

TAGS