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Presidente alemão Gauck inicia novo debate sobre o islã

12:17 | 02/06/2012
Muçulmanos exigem do chefe de Estado da Alemanha que modernize discurso sobre o islã. Gauck, se distanciou das palavras de seu antecessor, Wulff, de que o Islã pertenceria à Alemanha. Citando o presidente do Conselho Central dos Muçulmanos da Alemanha (ZMD, na sigla em alemão), Aiman Mazyek, o site da instituição escreveu que "ninguém consegue se livrar da impressão de que cada novo presidente alemão tem de proferir uma declaração sobre o islã". É como isso fosse "quase uma nova tradição cristã-europeia", acrescentou o site do Conselho. As reações à entrevista do chefe de Estado alemão, Joachim Gauck, no semanário Die Zeit tendem mais para a ironia, a surpresa, e menos para a agressão. O presidente empossado há pouco mais de dois meses afirmara não compartilhar a frase de seu antecessor, Christian Wulff, de que, além do cristianismo e do judaísmo, também o islã pertenceria à Alemanha: "Eu diria simplesmente que os muçulmanos que aqui vivem pertencem à Alemanha", disse o presidente alemão. Gauck deixou em aberto se isso também vale para a religião dos imigrantes. Ele afirmou poder entender aqueles que perguntam: "Onde o islã influenciou a Europa, ele vivenciou o Iluminismo, ou uma Refoma?" E disse estar "muito curioso e entusiasmado" por um discurso teológico no âmbito de um islã europeu. Muçulmanos surpresos Com sua declaração sobre o islã, seu antecessor iniciara, em outubro de 2010, um debate bastante vivaz. Segundo as pesquisas, a opinião de Wulff foi rejeitada pela maioria dos cidadãos do país. Os muçulmanos, no entanto, saudaram o discurso do então presidente mais como uma espécie de ato de liberdade, que contribuiria para uma melhor integração. Agora, eles parecem um pouco surpresos com o novo tom partindo do Palácio Bellevue, residência oficial do presidente alemão. A entrevista de Gauck, originalmente pastor protestante, poderia reacender o debate público sobre o status do islã na Alemanha. A Ditib, organização de migrantes com o maior número de membros, sobretudo muçulmanos de origem turca, não quis comentar o assunto por enquanto. No Conselho Central dos Muçulmanos, o tom foi moderado. O Conselho apoia fortemente o discurso teológico estimulado por Gauck e sugere seu nome para ser o patrono de tal processo de diálogo, disse o chefe do Conselho, Mazyek. Assim, pode-se esclarecer que parcela o islã tem na Europa de hoje, "pois sem sombra de dúvidas a atual Europa Ocidental repousa sobre pernas orientais". Paralelamente, o Conselho Central dos Muçulmanos publicou, um dia após a entrevista de Gauck, um ensaio de dois intelectuais islâmicos, recordando que desde o século 18 "uma parcela significativa de muçulmanos vive em território alemão" e que muitos ideais que surgiram na Europa "têm origem no Oriente islâmico". Crítica a empregadores, professores de ginástica e políticos A minoria muçulmana já vive, em muitos casos, na terceira geração na Alemanha e contribui para a cultura alemã, disse o ensaio. O texto também contém palavras mais duras e insinua que há falta de disposição da sociedade alemã para aceitar os muçulmanos. Os obstáculos estariam menos na "violência caseira" ou "casamentos forçados", que acontecem como casos isolados entre os muçulmanos, mas em empregadores alemães que rejeitam sem entrevista candidatos qualificados portadores de nomes muçulmanos ou professores de natação que exigem de meninas muçulmanas que retirem o burkini, traje de banho muçulmano aprovado judicialmente. Segundo o ensaio, entre os obstáculos estão ainda todos os representantes da política, ciência e economia que rejeitam o pertencimento do islã à identidade alemã. O texto dos dois intelectuais islâmicos é uma carta aberta ao presidente das bancadas conservadoras cristãs do Parlamento alemão, Volker Kauder: recentemente, ele declarou que os muçulmanos pertencem à Alemanha, mas não o islã. Autor: Bernd Grässler (ca) Revisão: Augusto Valente

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