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Agricultura africana ante o dilema de alimentar sua população ou exportar

16:05 | 18/06/2012

JOHANNESBURGO, 18 Jun 2012 (AFP) - A competitividade por superfícies agrícolas na África, compradas ou arrendadas, para produzir biocombustível para os ocidentais ou alimentar a Ásia, é uma bomba relógio em um continente que não consegue saciar a fome de seus habitantes.

Os investimentos em compras ou arrendamentos de terras, difíceis de quantificar, provocaram fortes tensões nos últimos anos, principalmente en Madagascar, onde a Coreia do Sul, com o grupo Daewoo, esperava adquirir 1,3 milhão de hectares para cultivar a metade de seu milho.

A forte polêmica causada pela transação, finalmente anulada, contribuiu para a queda do presidente Marc Ravalomanana no início de 2009.

Atualmente, a ilha já não vende terrenos e se limita a alquilar pequenas superfícies de entre 5.000 e 30.000 hectares, para projetos majoritariamente europeus e centrados na produção de agrocombustíves.

Contudo, a febre por terras africanas continua em outros países, em um continente que precisa triplicar sua produção de alimentos até 2050 para dar de comer a uma população em rápido processo de crescimento.

O assunto não figura na agenda oficial da reunião da ONU sobre desenvolvimento sustentável Rio%2b20, prevista para 20 a 22 de junho, mas será exposto pelas ONG.

As dificuldades não se limitam ao dano ecológico (desmatamento, esgotamento de recursos hídricos) causado pela aquisição de grandes extensões agrícolas).

De Madagascar à Libéria, passando por Moçambique, a constatação é a mesma: os contratos são opacos, as terras são vendidas a um preço muito barato e a população não é consultada ou é até mesmo desprezada sem possibilidade de defender-se no caso de conflito, sendo os benefícios a nível local insuficientes e a terra é monopolizada por projetos que acabam sendo abandonados.

"Todas as aquisições recentes de terras em Camarões parecem chocantes por sua magnitude, pelos preços extremamente baixos e por seu caráter secreto", explica Samuel Nguiffo, secretário-geral da ONG Centro para o Meio ambiente e o Desenvolvimento.

Na Libéria, a metade das terras aráveis passou para mãos de estrangeiros, o que gerava para os locais um problema de acesso aos alimentos e aos ingressos derivados da agricultura, segundo o Centro Internacional da Universidade de Colúmbia para a Resolução de Conflitos.

Em dezembro, a presidente liberiana Ellen Johnson Sirleaf admitiu "erros" após enfrentamentos violentos em meio a uma concessão de 220.000 hectares acordada em 2009 a um grupo da Malásia, Sime Darby.

A África abriga cerca de 60% das terras não-cultivadas do mundo, o que a converte em uma região chave para a segurança alimentar do planeta.

Alguns países como Bangladesh estimulam a compra de terras africanas para alimentar a seus 150 milhões de habitantes, sendo que as empresas do país têm fechado contratos para o cultivo de arroz na Uganda e na Tanzânia.

Segundo dados da FAO de 2009, apenas 8,5% das terras na África são cultivadas e são 5,4% irrigadas.

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