Motorista denuncia ter sofrido agressão durante blitz em Fortaleza

Caso aconteceu na avenida Lineu Machado, na noite do último sábado, 11; conduta de profissionais envolvidos está sendo analisada

21:11 | Out. 17, 2025

Por: Gabriela Almeida
Foto de apoio ilustrativo; motorista teria sido parado durante uma blitz do Detran (foto: FÁBIO LIMA)

Um motorista relata que teria sido agredido por agentes do Departamento Estadual de Trânsito do Ceará (Detran) e da Polícia Rodoviária Estadual (PRE) durante abordagem realizada em Fortaleza, na noite do sábado passado, 11. Conduta de profissionais envolvidos está sendo analisada.

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Conforme Samuel Miquéias, 29, ele e a esposa levavam no carro os três filhos, com idades de 5, 7 e 11 anos, para passear quando o mais novo começou a ter um ataque epilético e eles precisaram ir até um hospital. No caminho, passaram pela avenida Lineu Machado, onde acontecia uma blitz do Detran. 

"Quando eu cheguei na rua eu desci o vidro, (o agente) pediu a documentação do carro e eu falei 'moço, tô indo pro hospital, meu filho está passando mal'. E ele disse 'encoste o carro ali e vá a pé'', relatou Miquéias, que conduzia o veículo, dizendo ter continuado insistindo para seguir até a unidade médica.

"(Eu disse) 'Você tem que me deixar passar, meu filho tá passando mal, e ele 'bora, encosta o carro agora', gritando comigo. E eu pedindo calma, foi na hora que ele me deu uma mãozada nos meus peitos", conta.

Samuel diz que chegou a ficar "desnorteado" com o gesto e que pegou o celular para gravar a continuidade da abordagem. Ele conta que nessa hora chegaram dois policiais da PRE e que um deles teria torcido o seu braço, ainda dentro do veículo, e colocado uma arma de fogo próximo a sua barriga.

Na gravação que realizou, enviada ao O POVO, é possível ver o militar gritando para que o motorista saísse do veículo e ouvir Samuel dizendo frases como "Eu tenho um filho doente cara" e " Vai atirar em mim?".

Em seguida ele deixa o automóvel e chega a questionar a atitude dos agentes. "Eu sou cidadão, ele me agrediu, ele bateu nos meus peito", diz para um segundo policial, explicando novamente o motivo de não ter descido.

Dentro do carro, sua esposa chora segurando nos braços o filho do casal, que estaria passando mal. "Meu filho! Meu filho!", grita, enquanto as outras duas crianças saem do veículo chorando, assustadas. 

"Quais os filhos que querem ver o pai em uma situação dessas? Sou um cara que nunca tive problema na Justiça, sou trabalhador (...) E ai o cara vem e me humilha na frente dos meus filhos", diz. 

Samuel conta que os agentes não prestaram apoio ao seu filho mais novo. De acordo com ele, a criança costuma ter dois tipos de crises: uma mais séria, que só passa com medicação na veia, e outra onde ele trava o pescoço e congela, voltando geralmente ao normal após um tempo, sem precisar de remédios. 

No sábado, o pequeno, que também tem microcefalia, teve esse segundo tipo de crise, mas os pais resolveram levar logo ao hospital para amenizar o quadro e evitar que piorasse, como medida de precaução.

Conforme denunciante, como os agentes teriam "impedido" a ida a unidade de saúde, e após os momentos de tensão que teriam vivido, ele voltou para casa com sua família de carona. Samuel disse que o filho teve o quadro revertido normalmente, sob os cuidados dos pais. 

Carro é multado por infrações

De acordo com Samuel, ele foi multado, teve a Carteira Nacional de Habilitação (CNH) bloqueada e o carro levado por agentes. Na multa, apresentada ao O POVO, há a informação de que a infração foi aplicada em razão do motorista "transpor bloqueio viário policial". "Eles dizem que eu fugi, mas eu não fugi", defende.

Ele conta que estava atuando como motorista de aplicativo e que agora está sem condições de ter renda, por não ter mais o carro, e diz ter ficado "traumatizado, com medo de sair" após o episódio acontecer.

Samuel conta que a situação também teria traumatizado suas duas filhas mais velhas, e que o veículo era utilizado para levar o filho mais novo, que tem epilepsia, ao médico. 

O motorista esteve no Detran para apresentar uma defesa diante a acusação de ter fugido da multa e também foi a uma delegacia abrir um Boletim de Ocorrência (BO).

Caso está sendo analisado e conduta dos agentes é avaliada

Procurado pelo O POVO, o Detran disse estar analisando a ocorrência com base nos "fatos verificados no vídeo, onde será avaliada a conduta de seus agentes".

"O órgão estadual de trânsito reforça que nenhum agente do órgão trabalha armado e que repudia qualquer tipo de atitude que seja incompatível com os seus princípios legais", destaca ainda. 

Já a Policia Militar do Ceará (PMCE) diz ter atuado "em apoio a agentes do Departamento Estadual de Trânsito (Detran-CE) durante uma ocorrência em que o condutor de um veículo desobedeceu à ordem de parada e foi flagrado transportando uma criança de forma irregular, no banco dianteiro".

Entidade frisou ainda que, quando agentes consultaram a placa do automóvel, constataram que o mesmo apresentava débitos de licenciamento e multas. 

"O motorista foi autuado por outras infrações do Código de Trânsito Brasileiro (CTB), entre elas transpor bloqueio viário policial, conduzir veículo não licenciado e transportar criança sem as normas de segurança. Só em 2025 o mesmo condutor foi autuado por dirigir ameaçando os demais veículos ou pedestres, avançar sinal vermelho do semáforo ou de parada obrigatória e transpor bloqueio viário policial", frisou.

Instituição informou ainda que denúncias de desvio de conduta envolvendo policiais militares devem ser formalizadas junto à Controladoria Geral de Disciplina dos Órgãos de Segurança Pública e Sistema Penitenciário (CGD). 

"A PMCE reforça que não compactua com desvios de conduta por parte de seus integrantes e repudia veementemente qualquer ato que contrarie os valores institucionais e o compromisso com a sociedade", destaca.