Feminicídio que vitimou gestante completa um mês e família pede celeridade no julgamento

Mãe de Efigênia soube que seria avó e horas depois recebeu a notícia que a filha gestante estava morta. Ela pede celeridade para que o namorado da universitária, preso em flagrante pelo crime, seja julgado

23:16 | Fev. 12, 2021

Efigênia Soares foi morta e teve o corpo queimado pelo namorado (foto: reprodução/Facebook )

No dia 13 de janeiro a estudante de fisioterapia Maria Efigênia Soares, de 28 anos, chegava em casa após o estágio, por volta das 15 horas. Ela era recebida pela mãe, pelo irmão e pelas três cachorrinhas. Foi a última vez que dona Jaqueline Santana Soares, de 50 anos, viu a filha. Depois disso, Efigênia desapareceu e não respondia as mensagens. A madrugada foi de preocupação, a manhã foi no 8º Distrito Policial, no bairro José Walter e na Divisão Antissequestro. Dona Jaqueline soube que seria avó e horas depois descobriu que havia perdido a filha e o neto ou neta que nem havia nascido.  Um mês depois do crime que vitimou a gestante, brutalmente morta, a família pede celeridade no julgamento.

Justiça, para a mãe da universitária, é um acalento nos dias que ela passa esperando a filha voltar do estágio. O quarto de Efigênia está trancado, as roupas no mesmo lugar, as cachorrinhas correm quando escutam o barulho portão, todas a espera dela. 

Wando Cordeiro Vasconcelos, 35, foi preso em flagrante após o crime. O motorista de aplicativo tinha um relacionamento com Efigênia e ela engravidou. No entanto, quando foi buscar apoio do rapaz, se deparou com a violência. O homem a matou asfixiada e em seguida queimou seu corpo. Por meio do Whatsapp de Efigênia, Wando teria enviado mensagens ao pai da estudante afirmando que ela havia sofrido um sequestro.

De acordo com familiares, Wando sabia da gestação de Efigênia e havia prometido a ela que os dois contariam juntos para dona Jaqueline sobre o bebê. Ela já havia começado o pré-natal, a ingestão de comprimidos de ácido fólico e havia contado a novidade para algumas amigas. Wando seria comprometido e teve uma reação cruel ao ser confrontado com a paternidade.


Wando está em um presídio. O automóvel dele passaria por perícia e o inquérito foi finalizado. A mãe de Efigênia foi uma das últimas a depor. Ela não teve como se despedir da filha no caixão, que estava fechado. O reconhecimento foi feito por exame de DNA. "Foi feito pelos ossos, não tinha mais pele, não tinha mais nada. Não teve velório", comenta.

Caso tivesse sobrevivido, Efigênia concluiria o curso de fisioterapia no final de 2021. Ela estagiava e era amante dos animais. "Ela tinha as cachorras que eram as filhas dela, não podia ver um cachorro que queria colocar para dentro de casa. E ficava brava quando via casos de maus tratos com animais", descreve.

"Qualquer coisa me lembra ela. Não consigo entrar no quarto dela ainda, ainda vamos doar as roupas. Colocar um filho no mundo, sentir as dores do parto, a convivência dia e noite com ela. E de repente ser tirado de você", explica dona Jaqueline.

"Um dia quando ele sair vai ter a vida de volta, mas minha sobrinha e o neto da minha irmã nunca verão a luz do dia", diz tio de Efigênia 

Tio de Efigênia, Gilliard Santana relembra os momentos da estudante, que foi sua primeira sobrinha. Para ele, o desaparecimento poderia ser por motivo de vergonha devido a gravidez, mas foi surpreendido com o crime que vitimou a moça.

A tragédia fez com que Giliard, que é pastor, tivesse problemas de saúde e uma paralisia na face. Ele relata que está acompanhando todo o caso e que o momento é de buscar a Justiça.

"Que ele pegue a pena máxima. Um dia ele vai sair, vai ficar sujo, mas vai ter a vida dele de volta, mas a minha sobrinha e o neto da minha irmã nunca verão a luz do dia. Então essa situação é Justiça plena. A gente tem a esperança que ele passe um bom tempo preso e que não seja mais um de tantos homens que mata mulheres e saem, que não entendem que a bíblia orienta que o homem deve amar a mulher como cristo amou a igreja. Cristo amou a igreja dando a vida por ela na cruz do calvário. Ele não entende o que é amor, porque para ele era um caso e ele tratou ela como um objeto", relata. 

Para Gilliard, que é pastor, a criança iria ser bem recebida e que a família de Efigênia tinha condições de auxiliar. "Se eu soubesse antes eu teria ido com ela falar com ele na boa", comenta. 

MPCE 

O Ministério Público, por meio de nota, informou que denunciou Wando pelos crimes de feminicídio, com as qualificadoras do motivo torpe, meio cruel e emprego de recurso que dificultou a defesa da vítima, aborto e destruição de cadáver.

"A denúncia foi recebida pela 5ª Vara do Júri e o processo, que está incluído no Projeto Tempo de Justiça, atualmente encontra-se com a data de instrução próxima. É importante lembrar que o acusado encontra-se preso preventivamente e que o processo está registrado sobre o número", divulgou.

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