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Perdão pode antecipar canonização do Padre Cícero, avalia Gilmar de Carvalho

18:04 | 13/12/2015
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A reconciliação de Padre Cícero com a Igreja Católica, determinado pelo papa Francisco, abre perspectiva de reabilitação da história da beata Maria de Araújo. A opinião é do jornalista e pesquisador da cultura popular Gilmar de Carvalho. Leia a seguir.

O POVO: O perdão de Padre Cícero pela igreja Católica (ou do papa Francisco) terá que reflexo na cultura popular do Cariri?

Gilmar de Carvalho: O Papa Francisco é realmente surpreendente.Foi buscar uma história que aconteceu há mais de cem anos, nos "cafundós" do mundo, e pôs sua marca de renovação e esperança. Creio que o romeiro nunca levou a interdição do Padre a sério, tanto é que ele continuava a ser reverenciado, desde sempre.

Mas vindo do Papa Francisco, não se pode perder de vista o alcance. Creio que o perdão reverterá em favor do Papa, de sua grandeza e de sua humildade.

OP:
Com esse perdão para o Padre Cícero, a personagem beata Maria de Araújo passará a ser tratada de que maneira pelo romeiros e pela História?

GC: Curioso como apesar do protagonismo, a beata sempre foi coadjuvante neste episódio. Ela teve túmulo profanado, busto quebrado pelos vândalos e tem uma presença tímida no cordel. O movimento de mudança de atitude é recente. Creio que este perdão do Papa vai aumentar a devoção da beata. Era algo da ordem do interdito. O Padre podia ser reverenciado, ela não. Creio que os ventos passarão a soprar a seu favor, mais intensamente, a partir de agora.

OP: Mesmo "impedido" pela igreja Católica, Padre Cícero foi "santificado" pelo povo, por romeiros. Qual a importância desse perdão da Igreja?

GC: O perdão é simbólico. O romeiro sempre teve o Padre Cícero como santo,
e o canonizou ainda em vida. A história do Padre é uma história de paciência,resignação, perdão. Ela nunca comandou um cisma, nunca se rebelou.
Não tendo espaço na Igreja, passou-se para a política e fundou uma cidade que vibra e pulsa com ares de metrópole. Acredito que o perdão possa antecipar sua canonização, mas o tempo da Igreja é dilatado. Talvez não vejamos esta instante mágico.

OP: Há algum cordel que critique a punição da Igreja a Padre Cícero?

GC: Vários. Os poetas de cordel nunca se calaram.
Expedito Sebastião da Silva respondeu, de modo muito contundente, ao Padre Gomes, do Crato,que chamava a ação do Padre de "Apostolado do Embuste". Abraão Batista e muitos outros cordelistas foram nesta mesma direção.Padre Cícero teve defensores ardorosos no cordel e não poderia ser de outro modo. Mais que uma literatura diversionista, o cordel teve um impacto de manifesto e foi sempre um importante documento destas questões do Juazeiro.
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