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''Ciclista pode trafegar na faixa exclusiva'', esclarece presidente do Sindiônibus

Dimas Barreira, presidente do Sindiônibus, Tobias Brandão diretor do Sintro, e o advogado e diretor da Ciclovida, Celso Sakuraba, participaram do Debates do POVO

15:23 | 30/11/2015

“O que é necessário para civilizar o trânsito em Fortaleza?”. Essa foi a pergunta que movimentou nesta segunda-feira, 30, o Debates do POVO, com mediação do jornalista Plínio Bortolotti, na Rádio O POVO/CBN. A questão da convivência entre carros, pedestres e ciclistas voltou a ficar em evidência após o atropelamento da jornalista do O POVO, Kelly Hekally, que sofreu um traumatismo crânio-encefálico quando foi atingida por um ônibus enquanto trafegava de bicicleta na avenida Domingos Olímpio.

“Cada um tem seus pecados, mas é preciso reconhecer que o menor, seja pedestre ou ciclista, sempre está em desvantagem”, afirmou Plínio. Kelly saiu da UTI, mas ainda está internada no Hospital São Mateus e, conforme a família, não lembra do acidente. No Instituto Doutor José Frota (IJF ), pelo menos três ciclistas vítimas de acidente são atendidos por dia.

Os participantes avaliaram as medidas para um trânsito mais seguro, e o presidente do Sindiônibus esclareceu que os ciclistas não cometem infrações ao trafegarem na faixa exclusiva para ônibus, mas ele recomenda bom senso. Dimas também comentou que o motorista que atingiu a jornalista possui 20 anos de profissão.

O advogado de Kelly defendeu que o motorista teve intenção de matá-la e não prestou socorro à jornalista. A utilização do capacete, que não é item obrigatório para ciclistas segundo o Código de Trânsito Brasileiro, foi ponto destacado no debate, durante o terceiro bloco.

%2b Ouça o áudio completo do Debates do POVO desta segunda-feira

1º Bloco
O advogado da jornalista, Celso Sakuraba, que também é diretor da Associação dos Ciclistas Urbanos de Fortaleza (Ciclovida), defendeu que a perspectiva sobre as colisões envolvendo ciclistas deve ser investigada. ''A ONU tem recomendações muito claras sobre como reduzir mortes no trânsito, que inclui a redução da velocidade. Esses ciclistas não colidiram entre si, houve colisão com veículos motores”.

Celso citou o exemplo da Holanda, em que a redução de veículos motores diminuiu o número de mortes de crianças no trânsito, por exemplo. “Quantas vidas a gente pode poupar se tiver uma visão exata de cada veiculo?” questionou. “Concordo em gênero e grau, nossa defesa não é antagônica dos ativistas de ciclismo de maneira geral”, rebateu Dimas.

[SAIBAMAIS 2] “E sim, o veiculo maior deve sempre cuidar do veículo menor. Evidente que nós vamos continuar vendo isso [acidentes com bicicletas e pedestres no trânsito] acontecer, enquanto a gente não mudar nossa maneira de viver em civilização. Precisamos ter um pouco mais consciência cívica. A tendência moderna é organizar os espaços, mas fica uma polêmica, cada um quer pensar só em si. Isso não deve existir, todos nós estamos no mesmo barco” completou o presidente do Sindiônibus.

Dimas também criticou a forma como o motorista que atropelou Kelly está sendo tratado na imprensa e na sociedade. “Esse motorista tem mais de 20 anos [de profissão], foi condecorado pelo tratamento a deficientes. Não estamos dizendo que ele é santo,  ninguém é santo [...] A gente acompanha e tenta corrigir as ações dos nossoa motoristas. Ele não reagiu, é um rapaz super calmo. Houve uma discussão. E o importante é fazer desse limão uma limonada. É dar as mãos, buscar colaboração, para nos ajudarmos”.

Já Celso defendeu que o motorista teve a intenção de atingir a jornalista. “Temos que parar de ter essa percepção como acidente. Um acidente é quando você anda na rua e um poste cai na sua cabeça, um raio. Quando você conduz um veiculo perigosos”, completou.

2º Bloco
Perguntado sobre as queixas de usuários de ônibus quanto aos comportamentos dos motoristas, Tobias citou a pressão dos trabalhadores e os obstáculos da via, como árvores e buracos. “Eles [ciclistas] vão pro meio da via, e o por mais que o carro tenha cuidado, a frenagem nunca vai atender as demandas. Tem que fazer ate um treinamento, inverter os papéis. Por mais que o motorista seja cuidados e atencioso, é claro que a sequela vai ser maior para quem está na bicicleta”.

“O nosso debate está muito atrasado em Fortaleza, essa recomendação de ocupar a faixa é em todo lugar, não é só no Brasil. Se o ciclista fica no canto, o motorista vai tentar ultrapassar na mesma faixa, mas ele pensa que dá [...] E houve uma omissão de socorro, por sorte tava passando uma ambulância no local”, afirmou Celso.

3º Bloco
Após perguntas de leitores, Dimas esclareceu que o ciclista pode trafegar na faixa exclusiva para ônibus e que isso não configura infração de trânsito. “O ciclista pode trafegar na faixa exclusiva, mas gosto de recomendar bom senso, inclusive com veículos motorizados, eles também não podem ficar na faixa de ônibus mais de 100 metros. O ideal é que onde há a faixa de ônibus tenha também a faixa do ciclista. [Trafegar na faixa exclusiva ]não é desejável, não precisa dizer muito”, explicou.

O presidente do Sindiônibus também disse que “capacete é bom senso” e alegou que o treinamento para motoristas manterem a distância de 1,5 m das bicicletas é realizado. “Não acho que discurso radical e fundamentalista ajuda, o que ajuda é participar como puder”.

“É extremista naturalizar as mortes de trânsito [...] Falar de capacete é estar alheio ao debate, o capacete protege da mesma forma uma pessoa que está a pé. A gente precisa questionar a periculosidade desses veículos e como lidar”, disse Celso.

“Acho que temos que ir mais a fundo, concordo plenamente. Não estou discordando, é porque acho que fico mais exposto quando estou pedalando”, rebateu Dimas. “Não há dados científicos que comprovem que é necessário usar capacete como há para motociclista [...] Você tem perigo maior de bater a cabeça em casa se você é um idoso. Mas você obriga os idosos [a usarem capacete]?” disse Celso.

''Eu acho que é o que serve para mim, se chegar um dia que eu achar que deveria usar capacete a pé andarei [com o objeto]”, afirmou Dimas. “É ter noção de que um veículo de 16 toneladas mata, se uma pessoa atira na outra depois de uma discussão ela vê a intenção de matar. Se ela joga um veículo, porque não é entendido como intenção?”, completou Celso.

Redação O POVO Online
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